O agro e os mercados asiáticos, por Agroanalysis/FGV

Publicado em 08/04/2019 10:46 e atualizado em 30/11/2021 15:04

logo agroanalysis final 2 Os atuais ventos liberais apresentados pelo novo governo deveriam soprar o agronegócio brasileiro na direção da Ásia. Lograr maiores ganhos com parcerias e acordos com os países asiáticos tem sido assunto recorrente e defendido por especialistas em questões globais do agronegócio.

Países estão buscando acordos preferenciais de comércio como solução assertiva para os entraves comerciais, ainda mais diante da inércia e das di?culdades nas negociações internacionais multi-laterais. Entretanto, é visível a estagnação do Brasil frente ao dinamismo do mercado e à agilidade dos agentes nele inseridos. As iniciativas da Rodada Doha, do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e do acordo com a União Europeia foram, até o momento, a estratégia da política comercial bra-sileira, com pouco ou nenhum sucesso logrado.

Estima-se que o aumento da demanda por ali-mentos pela Ásia estabeleça desa?os para o comércio internacional. Países daquele continente já são, ou serão, os futuros grandes demandantes de alimentos, como Japão, China, Coreia do Sul e Índia. O Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP), que inclui China, Japão, Coreia do Sul, Índia, Austrália e Nova Zelândia mais os membros da Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) – Tailândia, Filipinas, Malásia, Cingapura, Indonésia, Brunei, Vietnã, Myanmar, Laos e Cambodja –, encontra-se entre os maiores acordos preferenciais de comércio em negociação no mundo. Esse acordo é singular, visto que tem como participantes China e Índia, países-chave para o comércio mundial, já que não são membros de outros acordos dessa proporção.

Assim, que oportunidades o Brasil perde por não se envolver em tal acordo? Se o Brasil entrasse no RCEP, isso produziria um cenário promissor ao agronegócio brasileiro? Haveria efeitos positivos sobre as variáveis macroeconômicas brasileiras? Com o objetivo de entender os potenciais impactos de uma maior integração comercial entre Brasil e a região asiática, pode-se valer de exercícios de modelagem econômica para projetar os efeitos para o País caso ele ?zesse parte do RCEP.Valendo-se de uma dessas ferramentas de mo-delagem de uso e reconhecimento internacional, oriunda do Global Trade Analysis Project1, projetou-se que, se o Brasil se engajasse no RCEP, em que as barreiras tarifárias entre os países são 100% eliminadas, tal grau de abertura proporcionaria um aquecimento da economia, injetando US$ 2,416 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB), impacto semelhante, em termos relativos, ao que outros países participantes perceberam, como a China, a Austrália e a Nova Zelândia. Já os impactos do ensaio de um acordo do Brasil com o Trans-Paci?c Partnership (TPP) – mais discutido por especialistas brasileiros – seriam três vezes menores. Concomitantemente, o Brasil deixaria de realizar quase US$ 1 bilhão em negócios e e?ciência no uso dos seus recursos enquanto assistisse passivamente à conclusão do RCEP. Esses efeitos negativos sobre o PIB brasileiro serão menores (U$ 210 milhões) caso haja entendimento entre os membros do TPP. O TPP é uma iniciativa de acordo de livre-comércio entre onze países: Canadá, México, Japão, Brunei, Malásia, Cingapura, Vietnã, Austrália, Nova Zelândia, Peru e Chile. Será um ponto paradigmático no sistema de comércio internacional, causando impactos econômicos e regulatórios sobre inúmeros países.

IMPACTOS SOBRE AS EXPORTAÇÕES

Fazendo parte do RCEP, a pauta de produtos do agronegócio brasileiro teria as suas exportações aumentadas em 7,7%, o que equivale a uma adição de US$ 7,20 bilhões às exportações do agro. Os setores de milho e cereais, produtos de couro, açúcar e outras culturas (principalmente café) e outros setores do agronegócio veriam um acen-tuado aumento em exportações.Em termos absolutos, o destaque ?ca para o açúcar, que teria um acréscimo nas exportações no montante de US$ 1,74 bilhão. No caso de o Brasil apenas assimilar passivamente os impactos do RCEP sobre os produtos do agronegócio, espera-se uma redução nas exportações de óleo vegetal e açúcar de 3,66% e 3,32% respectivamente. Essa posição traz perdas consideráveis à exportação de inúmeros produtos da pauta agroexportadora, incluindo os setores de sementes oleaginosas, algodão e plantas ?brosas.

IMPACTOS SOBRE A PRODUÇÃO

Uma maior abertura comercial em relação aos países asiáticos traria para os setores do agrone-gócio um aumento no valor da produção de cerca de US$ 5,1 bilhões. As cadeias de milho e cereais, açúcar, outras culturas, sementes oleaginosas e outras carnes (aves e suínos) são as mais bene?-ciadas com o RCEP.

A presença do agronegócio brasileiro no mercado mundial é primordial para garantir a segurança alimentar ao mundo. Em relação à economia na-cional, a exportação e a produção do agronegócio colaboram com a continuidade e a expansão das reservas internacionais, a liberdade da política monetária, o aumento do PIB do interior do País e o controle da in?ação.

O exercício de simulação revela que a apatia bra-sileira nos acordos comerciais gera decréscimo de exportações e produção. Destaca-se que a entrada no comércio da Ásia – que, nessa ocasião, foi ponderada por meio de um acordo de redução total das barreiras comerciais com os integrantes do RCEP – oferece uma oportunidade de ganhos ao Brasil e é nomeadamente um mercado instigante para o agronegócio brasileiro. Desta forma, reco-menda-se um empenho contínuo dos setores do agronegócio, da política comercial e da diplomacia brasileira em prol de iniciativas de aproximação aos países asiáticos. Cabe a construção de propostas de políticas comerciais condizentes às dinâmicas mundiais e que, assim, atendam as demandas dos setores do agro e, ainda, viabilizem o crescimento econômico do Brasil.

Para acompanhar todas as informações disponibilizadas pela revista Agroanalysis, clique aqui.

 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Por:
Celiano Plocharski da Cunha / Ângelo Costa Gurgel
Fonte:
Agroanalysis/FGV

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário