Um novo indicador para a agroindústria, por Agroanalysis/FGV

Publicado em 20/05/2019 11:27 e atualizado em 30/11/2021 15:11

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a agroindústria brasileira respondeu, em 2018, por 34,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro. Porém, apesar da importância desse setor, seja para o universo agro, seja para a economia como um todo, não havia um indicador que acompanhasse a evolução da agroindústria de forma periódica e que permitisse a comparação do seu desempenho com os resultados dos demais segmentos da indústria nacional. Visando preencher essa lacuna e fornecer à sociedade informações sobre esse elo fundamental do agronegócio brasileiro, o FGV Agro lançou o Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro).

Para construir esse Índice, o FGV Agro utilizou os dados da Pesquisa Industrial Mensal Produção Física – Brasil (PIM-PF), do Instituto Brasileiro de Geogra?a e Estatística (IBGE), no seu nível mais desagregado. Com isso, esse novo indicador, além de ser publicado mensalmente e no mesmo dia em que o IBGE anunciar os novos números da PIM, dialogará com as estatísticas que tal órgão divulga sobre a produção física da indústria brasileira, ou seja, será possível comparar o desempenho da agroindústria brasileira e dos seus segmentos mais importantes ao do restante da indústria nacional.

AGROINDÚSTRIA EM 2019: DESEMPENHO CONDICIONADO AO FORTALECIMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA

Uma vez construído um índice que permita acompanhar a evolução da agroindústria no Brasil, foi possível estimar um conjunto de modelos para projetar cenários para o setor em 2019. A partir dos modelos estimados, ?cou evidente que o desempenho da agroindústria responde aos movimentos de três variáveis principais:

• Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br);

• Índice de Confiança da Indústria de Transformação da Fundação Getulio Vargas (ICI-FGV); e

• Taxa de câmbio (R$/US$).

Desta forma, para realizar as projeções para o desempenho da produção agroindustrial em 2019, foram utilizadas como pressupostos para “alimentar” os modelos estimados as projeções para o ?nal do ano do boletim Focus para o PIB (para o qual o IBC-Br é uma proxy) e para a taxa de câmbio – essa opção foi feita porque os números do boletim Focus são amplamente utilizados como referência pelo mercado. Por ?m, os pressupostos para a variação do ICI-FGV no ano foram determinados pelos próprios pesquisadores do FGV Agro, uma vez que não foram encontradas estimativas do mercado para essa variável. As projeções para a agroindústria re?etem a conjuntura de três cenários distintos:

• Cenário-base: apesar das turbulências do lado político, o governo conseguiria aprovar as reformas necessárias, mesmo que estas sofram alguma desidratação;

• Cenário otimista: o governo conseguiria aprovar a agenda de reformas com relativa facilidade, o que impulsionaria a economia de forma mais substancial e conferiria à equipe do presidente Jair Bolsonaro um capital político mais duradouro; e

• Cenário pessimista: dadas as di?culdades de formar maiorias e articular a sua base de apoio junto ao Congresso, o governo perderia capital político de forma mais acelerada e aprovaria um conjunto muito limitado de reformas e em versões bastante desidratadas.

A partir do modelo estimado e considerando as premissas adotadas, projeta-se que, no cenário-base, a produção da agroindústria deverá apresentar um crescimento de 3,3% no ano de 2019 em com- paração ao ano anterior. No cenário pessimista, contudo, a agroindústria poderá ?car estagnada neste ano (0%). Já no cenário otimista, a projeção é de forte crescimento (4,4%).

AFINAL, O QUE COMPÕE A AGROINDÚSTRIA BRASILEIRA?

Apesar da importância do agronegócio para a economia brasileira (21,1% do PIB em 2018), é curioso que, no senso comum, ainda há uma visão de que a agroindústria se restringe à produção de alimentos e bebidas. Porém, o conceito de agronegócio deixa evidente que as atividades desse setor vão além da produção de bens alimen- tícios. Diante disso, o PIMAgro foi constituído de forma alinhada ao conceito de agronegócio integrando dois segmentos principais: de um lado, os produtos alimentícios e bebidas; e, de outro, os produtos não alimentícios.

Desta forma, dado que os números da agroin- dústria agora estão disponíveis, é possível realizar diversas análises, como explicar o seu desempenho passado, correlacioná-lo aos movimentos de outras variáveis e projetar cenários futuros. Nos próximos parágrafos, será apresentado um exemplo de cada uma dessas análises.

A GREVE DOS CAMINHONEIROS E A PERDA DE FÔLEGO DA AGROINDÚSTRIA EM 2018

Ao longo de 2017, a economia brasileira deu sinais consistentes de que poderia retomar uma trajetória de crescimento mais robusta e sustentável.

Essa dinâmica até se estendeu para o primeiro trimestre de 2018, porém dois grandes eventos mudaram essa rota:

• De um lado, com a proximidade do ?m do mandato do presidente Michel Temer, o capital político do governo foi desgastando-se e minando a expectativa dos agentes de que seria possível aprovar, ainda em 2018, alguma das reformas econômicas mais importantes; e

• Do outro lado, a greve dos caminhoneiros, que ocorreu entre o ?nal de maio e o início de junho e cujos efeitos condicionaram o desempenho de praticamente todos os setores econômicos em 2018, com especial destaque para a agroindústria.

Assim como a economia brasileira, a indústria e a agroindústria vinham, durante 2017, recuperando o fôlego do seu crescimento, porém mudaram essa trajetória ao longo de 2018, notadamente após a greve dos caminhoneiros. Entretanto, cada segmento respondeu a essa conjuntura com intensidade distinta: enquanto a indústria geral desacelerou, mas terminou o ano com crescimento de 1,1%, a agroindústria perdeu ainda mais força e terminou o ano em campo negativo, com uma contração de 1,0% em relação a 2017.

O fato é que a greve dos caminhoneiros prejudi- cou fortemente a agroindústria. Ao desagregar o desempenho do setor em dois períodos distintos, veri?ca-se que o crescimento acumulado da pro- dução agroindustrial no período entre janeiro e abril de 2018 (isto é, até o mês imediatamente anterior ao início da greve) era de 4,3%. No entanto, no período entre maio e dezembro, a produção agroindustrial acumulou uma queda de 3,1% na comparação ao mesmo período do ano anterior. Ou seja, claramente, a paralisação dos caminhoneiros afetou signi?cativamente o setor.

Essa queda de desempenho no pós-greve também ocorreu nos dois principais segmentos da agroindústria, porém com mais intensidade entre os produtos alimentícios e bebidas do que entre os produtos não alimentícios. Anteriormente à greve, o segmento de produtos alimentícios e bebidas acumulou um crescimento de 4,1%, todavia, no período pós-greve, a produção desse grupo caiu 7,2%. No caso do segmento de produtos não alimentícios, apesar da notável desaceleração causada pela paralisação, o crescimento acumulado no período pós-greve não chegou a ser negativo (1,8%).

A IMPORTÂNCIA DE SE TER UM TERMÔMETRO PARA O DESEMPENHO DA AGROINDÚSTRIA

As análises apresentadas nos parágrafos anteriores deixam explícita a importância de se ter um termômetro que acompanhe regularmente o desempenho da agroindústria e que permita avaliar a sua evolução em comparação aos movimentos de outros setores e de outras variáveis econômicas. Com o objetivo de preencher essa lacuna, o FGV Agro passa a disponibilizar, em seu site (https://gvagro.fgv.br), o PIMAgro. Esse indicador será atualizado mensalmente, seguindo o mesmo calendário da PIM do IBGE, e todos os dados serão públicos, podendo ser acessados gratuitamente. Além disso, na mesma página, também estarão disponíveis análises e comentários sobre a conjuntura para o setor.

Para acompanhar todas as informações disponibilizadas pela revista Agroanalysis, clique aqui.

Por: Felippe Serigati e Roberta Possamai
Fonte: Agroanalysis/FGV

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