Hipocrisia de Gisele (e da Europa) é um dos motivos de a Aprosoja romper com a ABAG

Publicado em 25/09/2020 15:16 e atualizado em 27/09/2020 14:55
Decisão dos produtores de soja em romper com a ABAG (ver nota abaixo) tem como motivo o alinhamento da Associação do Agronegócio com ambientalistas europeus, questões politicas no Brasil e hipocrisia de influenciadores como a modelo Gisele Bündchen, que chora pela Amazonia mas não chora pelos campos desmatados da Europa (veja artigo de Michael Shellenberger, na Forbes).

ONGs e “famosos” tentam frustrar o futuro da Amazônia (artigo de Michael Shellenberger, na Forbes) 

Revelador desse problema de consciência sobre desmatamento e produção de alimentos no Brasil é o artigo que Michael Shellenberger escreveu na sua coluna da revista “Forbes”, de New York, intitulado “How The EU, Greenpeace, And Celebrities Worsen Fires And Deforestation By Dehumanizing The Amazon” (). 

Essa mudança não foi súbita. Como Michael Shellenberger explica, resultou de um demorado processo de remorso e de medo. Remorso pelo mal que ele via o alarmismo ecologista fazer aos homens, e medo das represálias de que seria objeto caso dissesse o que estava vendo e reflexionando. 

Ele conta que em 2016 a modelo brasileira Gisele Bündchen foi contratada pelo chefe da Greenpeace Brasil para uma série da National Geographic chamada “Years of Living Dangerously” (“Anos de vida perigosa”). 

A série incluiu um sobrevoo da floresta amazônica no qual a modelo deveria se mostrar chocada com o avanço dos brasileiros sobre essa parte de seu território nacional. 

O início do capítulo era idílico, voando sobre uma floresta verde sem fim. “A beleza parece durar para sempre”, dizia Bündchen, para atrair simpatias.

Mas, em seguida [o Paulo Adario do Greenpeace, segundo Michael] lhe soprava ter chegado o momento de mudar de clave.

Ela então se mostrava horrorizada vendo fazendas de gado perto da floresta. “Todas essas grandes formas geométricas esculpidas na paisagem são por causa do gado?” — perguntava, aparentando não saber do que se tratava. 

“Tudo começa com estradas madeireiras”, explicava Adario no programa. “A estrada fica e o fazendeiro vem e corta as árvores restantes.” 

“E o gado nem é natural na Amazônia!” — diz Bündchen. “Não era para estar aqui!” 

“Não, definitivamente não” — confirmava Adario. 

“Imagine a destruição dessa bela floresta para a produção de gado” — diz ele. “Quando você come um hambúrguer, percebe que ele vem da destruição da floresta tropical?” 

Então Bündchen começava a chorar. 

“É chocante, não é?” — dizia Adario. 

Mas é chocante mesmo? — pergunta Michael Shellenberger. Bündchen choraria proporcionadamente quando sobrevoa a França e a Alemanha? 

Afinal, esses dois países desmataram suas paisagens séculos atrás. 

Tudo o que lhes resta são chácaras e fazendas de gado com um número muito menor de áreas protegidas e fragmentos de floresta muito menores do que aqueles que faziam chorar Bündchen na Amazônia.

A montagem é irracional, mas muito emotiva.

Muita moça ou senhora deve ter ficado sensibilizada e predisposta contra os brasileiros, que estão obtendo o bife que ela vai preparar ou comer no almoço familiar. 

Os alemães — explica Michael — produzem quatro vezes mais emissões de carbono per capita do que os brasileiros. E ainda assim não hesitam em exigir que os brasileiros parem o desmatamento e as queimadas! 

Ativistas europeus e norte-americanos promovidos pela grande mídia dizem à humanidade que não podemos sobreviver sem a Amazônia, que é o pulmão do mundo, criador de oxigênio.

 Mas, de acordo com o especialista em florestas da Amazônia Dan Nepstad, isso é “besteira”. Nepstad é o autor principal do relatório mais recente do (famigerado) Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC da ONU. 

A Amazônia consome tanto oxigênio quanto produz. Nesse quesito ela é tão estável como toda floresta velha. 

O mundo não precisa desse pulmão para obter oxigênio, uma vez que o mesmo não produz nada além do que consome. Não é pulmão, portanto, e menos ainda do mundo inteiro! 

Os ativistas mais hábeis dobram a língua sobre o assunto e, sempre falando como “cientistas” ou “especialistas”, passaram a se mostrar apavorados com todo o carbono (CO2) acumulado na Amazônia em forma de massa vegetal. 

As queimadas liberariam esse CO2 e fariam subir as temperaturas globais em dois graus centígrados acima dos níveis pré-industriais. 

Para Michael, essa preocupação é ignara. 

A Europa, que se desenvolveu desmatando e consumindo combustíveis fósseis, não quer que o Brasil se desenvolva fazendo o mesmo que ela fez?! 

Eu, sim posso; você não! Isso é hipocrisia, diz o autor.

Michael é amigo de Nepstad e falou sobre isso com ele.

“Começou com uma campanha do Greenpeace” — disse Nepstad. “Os ativistas se vestiam como galinhas e andavam por vários restaurantes McDonald's na Europa. Foi um grande momento da mídia internacional”. 

Eis os ecologistas, defensores verdes da natureza, que confundem galinha com boi!!!!] Cômico e propagandístico, mas nada veraz. 

O Greenpeace — ONG que recebe US $ 350 milhões de doações por ano, sobretudo de europeus — exige que o agronegócio brasileiro cumpra uma regulamentação muito mais rigorosa do que a lei brasileira.

O Greenpeace também se assanhou contra o Cerrado, onde se colhe 60% da safra de soja do País. 

Segundo Nepstad, “Paulo Adario, do Greenpeace Brasil” — o homem que fez Bündchen chorar —, fez demandas tão extremas aos produtores de soja que estes, dispostos inicialmente a cooperar, viram que era impossível se submeter a exigências tão irreais. 

Nepstad, autor principal do relatório mais recente do IPCC, o qual não é nada moderado e ferrenhamente contrário ao agronegócio, deplorou “essa arrogância, esse regulamento sobre o regulamento, sem realmente pensar na perspectiva do agricultor”.

O redator do IPCC reconheceu a Michael que grande parte da motivação para bloquear a agricultura e a pecuária é ideológica.

 “É realmente antidesenvolvimento, você sabe, anticapitalismo. Há muito ódio ao agronegócio”, disse o guru do IPCC. 

Ou pelo menos ódio ao agronegócio no Brasil. O mesmo padrão não parece aplicar-se ao agronegócio na França e na Alemanha, escreve Michael.

A agenda ideológica do Greenpeace para excluir os alimentos brasileiros do mercado, onde eles levam a melhor pelo seu custo baixo e justo, se encaixa perfeitamente na agenda da União Europeia.

Um dos resultados danosos dessas campanhas ideológicas verdes são suas péssimas consequências ecológicas para a Amazônia. 

Segundo Nepstad, o Código Florestal, influenciado pelos ambientalistas, ao exigir dos fazendeiros e agricultores que deixem em suas propriedades 50% a 80% da floresta em pé, empurra as fazendas para o interior da floresta. 

Essas fazendas “fragmentam” a floresta porque só uma fração da superfície pode ser destinada à pecuária, que é a mais adaptada às condições locais. 

Grandes felinos e outras espécies maiores precisam de habitat contínuo e não fragmentado para sobreviver e prosperar. 

Mas com sua influência no Código Florestal, forçando os produtores a deixar improdutiva entre 50% e 80% de suas propriedades, o que o Greenpeace conseguiu foi prejudicar os grandes animais selvagens. 

Sempre do ponto de vista de dois ecologistas muito altamente posicionados no establishment ambientalista mundial, cujas opiniões estamos reproduzindo, Nepstad confidenciou que seria necessário “conseguir que as reservas da reforma agrária, enormes e próximas às cidades, cultivem legumes, frutas e produtos básicos para as cidades amazônicas, em vez de importar tomates e cenouras de São Paulo”.

Mas — comentamos — os assentamentos de reforma agrária não produzem nada, nem nunca produziram algo que se apresente, nem para fazer ecologia ultrassocialista. Apesar de ser o principal redator do IPCC, Nepstad fala como quem não conhece a realidade.

Concluindo o artigo, Michael Shellenberger se diz espantado vendo “que forças poderosas como a UE, o Greenpeace e as celebridades mais famosas do mundo, auxiliadas pela mídia, mostram poucos sinais de desistir de sua desumanização da Amazônia”. 

Em outras palavras, se fingindo protetores, estão estragando a natureza e prejudicando a alimentação dos brasileiros e de todo o mundo. 

Para Michael, é preciso começar considerando que a Amazônia nunca foi o Éden. 

Os cientistas hoje acreditam que mais de dois milhões de pequenos agricultores viviam na bacia amazônica antes da chegada dos europeus no século XV.

Mais esses milhões de habitantes tiveram um impacto muito maior alterando os ecossistemas do que se acreditava até agora. 

Os cientistas acreditam que “os primeiros agricultores da Amazônia usaram intensamente a terra e expandiram os tipos de culturas cultivadas”. 

E acrescentam que “aumentaram a quantidade de alimentos que cultivavam, melhorando o conteúdo de nutrientes do solo através das queimadas”. O mito do índio que não toca a natureza é um blefe comprovado.

A respeito do relativamente alto desenvolvimento de certas tribos amazônicas antes de 1492, recomendamos:

Arqueólogos e linguistas revelam civilização urbana no Alto Xingu, Amazônia.

Amazônia, lar de uma grande civilização perdida 

Nem o gado nem os seres humanos são “naturais para a Amazônia!” — como Bündchen gemeu na sua representação para o Greenpeace e o National Geographic.

Mas então — e aqui Michael nos faz sorrir —, nessa lógica tampouco os humanos são “naturais” em nenhum lugar do mundo. 

Pois os homens apareceram — use-se o critério que se queira usar — depois da vegetação, dos animais, dos peixes, das aves etc. 

Isso está até na Bíblia, que a nenhum deles — Michael, Nepstad, Bündchen, “Paulo Adario do Greenpeace Brasil”, IPCC, ONGs, UE, ONU, o próprio diabo — ocorre ler ou citar. 

Mas o fato de não terem os homens aparecido historicamente em primeiro lugar não significa que eles não pertençam ao lugar que naturalmente ocupam, nem que não sejam seus legítimos proprietários. 

Os homens merecem ser respeitados na sua dignidade. 

E o primeiro que a farândola verde-comunista-midiática deve fazer é ver a realidade, observar que a humanidade está na natureza, interage com ela, faz parte dela, governa-a pela inteligência. 

Então, se se quiser respeitar a natureza, os homens devem ser tratados enquanto tais. 

É contrário à natureza hostilizar — com um apriorismo que o ecologismo radical não tem com os animais e as plantas daninhas — a atividade que o homem exerce sobre ela. 

Michael Shellenberger pede perdão.

https://www.forbes.com/sites/michaelshellenberger/2019/08/28/how-the-eu-greenpeace-and-celebrities-dehumanize-the-amazon-and-worsen-fires-and-deforestation/#4a52a5aa2a16.

(reproduzido e comentado por paznocampo.org)

Aprosoja Brasil se desliga da ABAG (objetivos não são convergentes), veja nota oficial

Falta de convergência de interesses e objetivos entre as entidades levou ao pedido de desligamento, diz documento

nota aprosoja

O artigo na Forbes, por Michael Shellenberger

Como a UE, o Greenpeace e as celebridades agravam os incêndios e o desmatamento ao desumanizar a Amazônia

(traduzido do original)

Em 2016, a modelo brasileira Gisele Bündchen sobrevoou a floresta amazônica com o chefe do Greenpeace Brasil como parte de uma série da National Geographic chamada “Years of Living Dangerously”.

No início, eles voam sobre uma floresta verde sem fim. “A beleza parece durar para sempre”, diz Bündchen em sua voz, “mas então [o Paulo do Greenpeace] Adario me diz para me preparar.”

Ela fica horrorizada com o que vem a seguir. Abaixo dela estão fragmentos de floresta próximos a fazendas de gado. “Todas essas grandes formas geométricas esculpidas na paisagem são por causa do gado?” 

“Tudo começa com estradas madeireiras”, explica Adario. “A estrada fica e o fazendeiro vem e corta as árvores restantes.”

“E o gado nem é natural na Amazônia!” diz Bündchen. "Não era para estar aqui!"

“Não, definitivamente não”, confirma Adario. 

“Imagine a destruição dessa bela floresta para a produção de gado”, diz ele. “Quando você come um hambúrguer, percebe que ele vem da destruição da floresta tropical.” 

Bündchen começa a chorar. "É chocante, não é?" diz Adario. 

Mas é mesmo? Se for assim, isso significa que Bündchen chora ainda mais quando ela sobrevoa a França e a Alemanha? 

Afinal, esses dois países desmataram suas paisagens séculos atrás e tudo o que resta são fazendas e fazendas de gado com muito menos áreas protegidas e fragmentos de floresta muito menores do que os que Bündchen contemplou na Amazônia. 

Os alemães produzem quatro vezes mais emissões de carbono per capita, inclusive pela queima de biomassa, do que os brasileiros, mas não hesitam em dar lições aos brasileiros sobre a necessidade de parar o desmatamento e parar os incêndios

“Eu gostaria de deixar uma mensagem para a amada [chanceler alemã] Angela Merkel”, disse o presidente Jair Bolsonaro. “Pegue sua massa e refloreste a Alemanha, certo? É muito mais necessário lá do que aqui.” 

Uma resposta que os ambientalistas há muito dão para os motivos pelos quais os brasileiros não deveriam fazer o que os europeus e norte-americanos fizeram é que a humanidade não pode sobreviver sem a Amazônia. Afinal, são os pulmões do mundo. É o que cria oxigênio. 

Mas isso é “besteira”, de acordo com o especialista em florestas amazônicas Dan Nepstad, que foi o principal autor do relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. A Amazônia usa tanto oxigênio quanto produz. 

O que realmente precisamos nos preocupar, dizem os cientistas, é todo o carbono armazenado pela Amazônia. Se for liberado por incêndios na forma de dióxido de carbono, dizem eles, não evitaremos que as temperaturas globais subam dois graus centígrados acima dos níveis pré-industriais.

Mas dizer aos brasileiros que eles não devem cortar a Amazônia por causa de seu papel no armazenamento de carbono só fortalece o sentido de que a suposta preocupação da Europa com a Amazônia e as mudanças climáticas são realmente uma forma de neocolonialismo.

Agora que a Europa se desenvolveu por meio do desmatamento e do uso de combustíveis fósseis, ela está dizendo ao Brasil para não se desenvolver por meio do desmatamento e do uso de combustíveis fósseis. 

Bolsonaro é a reação contra essa hipocrisia. O aumento do desmatamento em 2019 é, até certo ponto, o Bolsonaro cumprindo uma promessa de campanha aos agricultores que estavam “fatigados com a violência, a recessão e esta agenda ambiental”, disse Nepstad . 

“Todos eles diziam: 'Sabe, é essa agenda florestal que fará com que esse cara [Bolsonaro] seja eleito. Todos nós vamos votar nele. ' E os agricultores votaram nele em massa. ”

“Eu vejo o que está acontecendo agora, e a eleição de Bolsonaro, como um reflexo dos principais erros na estratégia [ambientalista]”, disse Nepstad. 

Há poucos anos, o esforço ambiental para salvar a Amazônia parecia estar indo bem. O desmatamento diminuiu espantosos 70% de 2004 a 2012, em comparação com o período de 1996 a 2005. 

Mas a recessão e a redução da aplicação da lei resultaram no desmatamento começando a aumentar novamente em 2013. 

Perguntei a Nepstad quanto da reação atual foi devido à aplicação das leis ambientais pelo governo brasileiro e quanto devido a ONGs como o Greenpeace.

“Acho que a maior parte foi o dogmatismo das ONGs”, disse ele. “Estávamos em um espaço muito interessante em 2012, '13, '14, porque os agricultores ficaram satisfeitos com o artigo do Código Florestal dedicado a indenizar os agricultores, mas isso nunca aconteceu.”

“Tudo começou com uma campanha do Greenpeace”, disse Nepstad. “As pessoas se fantasiaram de galinha e percorreram vários restaurantes McDonald's na Europa. Foi um grande momento da mídia internacional. ”

O Greenpeace, uma organização não governamental de US $ 350 milhões por ano fortemente financiada por europeus, exigia que os agricultores brasileiros cumprissem uma regulamentação muito mais rígida do que a imposta pelo governo brasileiro.

“O que os agricultores precisavam era basicamente uma anistia para todo o desmatamento ilegal até 2008”, disse Nepstad. “E, ganhando isso, eles se sentiram como, 'Ok, podemos cumprir esta lei.' Estou do lado dos fazendeiros nisso.

O Greenpeace buscou restrições mais rígidas para a floresta de savana, conhecida como Cerrado, onde grande parte da soja é cultivada.

“Os fazendeiros ficaram nervosos com a possibilidade de outra moratória. O Cerrado representa 60% da safra de soja do país. A Amazônia é 10%. E então este era um assunto muito mais sério. ”

“O mentor da moratória da soja”, acrescentou Nepstad , “foi Paulo Adario, do Greenpeace Brasil” - o homem que fez Bündchen chorar. 

O que aconteceu foi uma tragédia, na opinião de Nepstad, porque os produtores de soja estavam cada vez mais dispostos a cooperar com as restrições ambientais antes que o Greenpeace começasse a fazer demandas mais extremas.

“Há essa confiança exagerada, essa arrogância, essa regulamentação sobre regulamentação, sem realmente pensar na perspectiva do agricultor”, disse ele.

“Imagine ser um proprietário de terras na Califórnia e receber a informação de que você só pode usar metade de suas terras e depois receber apenas 20%”, disse Nepstad. “Eles disseram, ' Desmatamento ilegal zero , estamos de acordo com isso. Desmatamento zero ? Não. Apenas com compensação. '”

Grande parte da motivação para interromper a agricultura e pecuária é ideológica, disse Nepstad. “É realmente anti-desenvolvimento, você sabe, anti-capitalismo. Há muito ódio ao agronegócio. ” 

Ou pelo menos ódio ao agronegócio no Brasil. O mesmo padrão não parece se aplicar ao agronegócio na França e na Alemanha. 

Como tal, a agenda aparentemente ideológica do Greenpeace se encaixa perfeitamente na agenda dos agricultores europeus para excluir os alimentos brasileiros de baixo custo da UE. 

“Os agricultores brasileiros querem estender [o acordo de livre comércio] UE-Mercosul, mas Macron está inclinado a encerrá-lo porque o setor agrícola francês não quer mais produtos alimentícios brasileiros entrando no país”, explicou Nepstad. 

As consequências ecológicas na Amazônia foram piores do que precisavam ser. 

Ao exigir que fazendeiros e fazendeiros deixem de 50% a 80% da floresta em pé, os ambientalistas empurraram ranchos e fazendas mais para dentro da floresta. “Acho que o Código Florestal fomentou a fragmentação”, disse Nepstad. 

E a fragmentação é uma grande ameaça à perda de espécies ameaçadas de extinção. Grandes felinos e outras espécies de grandes mamíferos precisam de um habitat contínuo e não fragmentado para sobreviver e prosperar.

Os conservacionistas deveriam ter permitido que os agricultores intensificassem a produção em algumas áreas, especialmente no Cerrado, para reduzir a pressão e a fragmentação de outras áreas, especialmente a floresta tropical.

Não é tarde demais, argumentou Nepstad, e diz “reduzir o requisito da fazenda onde há alta aptidão” - alta eficiência e produtividade - uma “solução muito boa”.

Nos Estados Unidos, as fazendas mais produtivas do meio-oeste superaram as fazendas menos produtivas da Nova Inglaterra. Como resultado, houve um reflorestamento significativo na Nova Inglaterra.

A intensificação no Cerrado mais produtivo e menos biodiverso pode poupar a floresta tropical na Amazônia. “Há uma enorme área de terra improdutiva que produz 50 quilos de carne bovina por hectare por ano e vacas desgrenhadas”, explicou Nepstad, “tudo isso deveria voltar para a floresta”. 

Em troca, outras terras deveriam ser abertas. “Vamos fazer com que as reservas da reforma agrária, que são enormes e próximas às cidades, cultivem hortaliças, frutas e alimentos básicos para as cidades amazônicas, em vez de importar tomates e cenouras de São Paulo.

Nepstad me deixou mais esperançoso quanto às perspectivas concretas de uma situação em que todos saem ganhando quando se trata de desenvolvimento econômico e conservação na Amazônia.

Mas também me preocupei com o fato de que forças poderosas como a UE, o Greenpeace e as celebridades mais famosas do mundo, auxiliadas pela mídia noticiosa, mostram poucos sinais de diminuir sua desumanização da Amazônia.

A superação dessa percepção começa por lembrar que a Amazônia nunca foi o Éden. Contra a imagem dela como desprovida de agricultura, os cientistas hoje acreditam que mais de dois milhões de pequenos agricultores viviam na bacia amazônica antes da chegada dos europeus no século 15, e que eles tiveram um impacto muito maior na alteração dos ecossistemas do que qualquer um jamais imaginou.

Os cientistas agora acreditam que “os primeiros agricultores da Amazônia usaram a terra intensivamente e expandiram os tipos de safras cultivadas” e “aumentaram a quantidade de alimentos que cultivavam melhorando o teor de nutrientes do solo por meio da queima”

É verdade que nem o gado nem os humanos são "naturais para a Amazônia!" como disse Bündchen. Mas então, eles também não são "naturais" em nenhum outro lugar além da África. Mas isso não significa que eles não pertençam a esse lugar. Eles fazem. E devemos começar a vê-los.

 

Michael Shellenberger é um “Herói do Meio Ambiente” da Time Magazine, Vencedor do Green Book Award e autor de Apocalypse Never: Why Environmental Alarmism Hurts Us All (Harper Collins, 30 de junho de 2020). Ele é um colaborador frequente do The New York Times, Washington Post, Wall Street Journal, Scientific American e outras publicações. Suas palestras TED foram vistas mais de cinco milhões de vezes.

 
 
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Fonte:
Aprosoja Brasil/Forbespaznocampo

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