China: Governo orienta população a estocar alimentos e volta a acender alerta sobre preços e demanda

Publicado em 03/11/2021 14:51 e atualizado em 03/11/2021 16:42

O governo chinês está orientando e encorajando sua população a estocar alimentos, principalmente produtos essenciais, para o período do inverno e diante das preocupações com o novo aumento dos casos de Covid-19 que vem sendo registrados no país. Mais do que isso, o Ministério do Comércio solicitou às autoridades locais para que estabilizem os preços e garantam o abastecimento de itens de necessidades diárias dos chineses, segundo noticia a Bloomberg diante de um comunicado trazido pela pasta na última segunda-feira (1). 

Em setembro, a nação asiática já havia divulgado uma outra nota solicitando a a garantia do abastecimento antes do início do feriado da Semana Dourada, no começo de outubro. Ainda assim, esse último gerou mais preocupação e especulação por conta do coronavírus. 

Assim como nas demais partes do mundo, os preços dos alimentos na China seguem bastante elevados e intensificando o cenário inflacionário. Nas últimas semanas, os vegetais subiram tão agressivamente que chegaram a superar algumas proteínas animais, como mostra o gráfico abaixo da Bloomberg composto por dados do ministério. 

Gráfico: Ministério do Comércio da China + Bloomberg

Prevenção somente ou não, depois que as notas foram divulgadas as ações de empresas alimentícias subiram de forma considerável, chegando a registrar altas de até 10% em alguns casos. 

"Os principais distribuidores agrícolas foram encorajados a assinar contratos de longo prazo com os produtores, enquanto as províncias do sul e do norte da China foram instruídas a melhorar seus sistemas de reserva de vegetais e também liberar carne e vegetais das reservas em tempo hábil para repor os suprimentos.
A chamada para estocar alimentos ocorre menos de duas semanas depois que um departamento governamental diferente disse às empresas para não acumularem alimentos", informou a Bloomberg.

CHINA X COVID-19

Nesta quarta (3), a Comissão Nacional de Saúde da China confirmou 93 novos casos com sintomas de Covid-19 e mais 11 infecções assintomáticas na terça (2), contra 54 do dia anterior. Este é o maior número desde 9 de agosto, quando se registrou, segundo a Reuters, o último grande surto da doença na China. O gráfico abaixo mostra o atual momento da pandemia no país:

Gráfico: Bloomberg

Ainda assim, um comunicado da pasta procurou acalmar a população. "O abastecimento das necessidades diárias é suficiente em todos os lugares e o abastecimento deve ser totalmente garantido", afirmou Zhu Xiaoliang, um alto funcionário do Ministério do Comércio, em uma entrevista à emissora estatal CCTV. Além da emissora, outro portal local e estatal, a Economic Daily, divulgou um reporte orientando a população a não ficar muito preocupada ou ansiosa em torno dos comunicados e que o objetivo era fazerem com que estivesse preparadas caso um novo surto da Covid-19 se agravasse, dando espaço à novas medidas de restrição.

Algumas províncias lutam sua batalha mais agressiva contra o vírus desde que ele apareceu pela primeira vez em Wuhan, há dois anos. O gigante asiático luta há alguns meses com a variante delta, que tem elevada e rápida taxa de infecção. No último surto, 600 casos de coronavírus foram confirmados em 19 das 31 províncias chinesas. 

CLIMA FRIO

Além da preocupação com a pandemia, as orientações do governo também se deram, ainda segundo as fontes ouvidas pela agência internacional, diante das previsões de uma onda de frio bastante rigorosa sendo esperada para os próximos dias na China, e uma queda nas temperaturas de até 15ºC.  

POLÍTICA X POPULAÇÃO ALIMENTADA

As questões climáticas e as adversidades sofridas pelas regiões produtoras resultaram em quebras importantes de safra e, há algumas décadas, em até desabastecimento e escassez de alimentos. E por isso, mesmo com a China bastante distante de um novo momento como este, seus líderes seguem focados em garantir que não mais passem por algo nem ao menos semelhante. 

Em abril, o economista Roberto Dumas Damas, professor do Insper e especialista em economia internacional, já explicava que a necessidade política é uma das primeiras quando o assunto é manter a população adequadamente abastecida. 

"A China continua comprando alimentos (ou matéria-prima para produzi-los) para garantir que sua população esteja bem alimentada e para evitar tensões sociais. Política, comida e sociedade andam muito juntas. O governo não vai permitir qualquer falha neste setor, por menor que seja, porque se trata de uma questão de legitimidade do partido", disse em entrevista ao Notícias Agrícolas. 

Relembre:

+ Soja: O que esperar da China? Contínua demanda forte, inclusive, pela necessidade política

Segundo o consultor em agronegócios Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, é preciso buscar entender o real motivo da China orientar sua população sobre a estocagem de alimentos e o quanto isso pode ser preocupante. "A China está com tolerância zero para a Covid-19 e essa pode ser uma medida preventiva", diz. Para o mercado, será importante precisar o quanto dos estoques que poderão ser formados nas residências dos chineses terão que ser recompostos no mercado local. 

Fernandes lembra ainda que todos os países, diante da atual conjuntura - agravada pela crise na oferta de insumos, principalmente, para a próxima safra, têm buscado garantir estoques de passagem saudáveis temendo o que poderia vir pela frente no quadro de oferta de grãos e, consequentemente, ana reação dos preços. "O cenário é muito preocupante, embora entre os alimentos o que temos visto agora são casos pontuais". 

Na análise de Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest, este é um ponto importante também para o andamento de diversos mercados e que, consequentemente, terá que ser acompanhado de perto. "Pode ser que isso traga uma melhora agora nas compras de carne suína, por exemplo, já que agora no inverno é epoca em que a população estoca mais carne. Pode estocar também um pouquinho mais de grãos e óleos vegetais, dar um pico agora, só que depois cair mais a frente. E depende de uma recuperação da demanda e a cadeia da soja depende de um feriado lunar normal", diz. 

Caso o contrário aconteça e o governo chinês ainda se veja obrigado a intensificar as medidas de restrição, principalmente impedindo as viagens das famílias no maior feriado chinês, a demanda por proteínas - em especial a suína - pode ficar comprometida e causar impactos em cadeia. 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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