Queda de preços e crise nos países ricos ameaçam superávit comercial

Publicado em 23/11/2008 21:55
Exportação caiu 10,2% (EUA, Canadá e México) e 5,1% (Europa) e preço de commodities despencou 42%, em dólar
A combinação de fatores que jogou a favor da economia brasileira nos últimos anos está mudando de direção. Desde o início da década, o Brasil aumentou suas exportações e cresceu em ritmo acelerado, aproveitando o que os economistas chamam de superciclo das commodities, uma alta recorde do preço das matérias-primas e produtos básicos. Fazem parte desse movimento produtos em que o Brasil é forte, como soja, minério de ferro e aço.

Agora, a crise financeira global está migrando numa velocidade surpreendente para o ambiente produtivo. De julho à primeira quinzena de novembro, os preços das principais matérias-primas desabaram, em média, 42%, em dólar, segundo o índice CRB Reuters/Jefferies. As matérias-primas respondem por 65% das exportações.

E os exportadores estão sofrendo não só com a queda dos preços, mas com o encolhimento dos principais mercados. Estudo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) mostra que os embarques para EUA, Canadá e México (grupo do Nafta) caíram 10,2%, de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período de 2007. Para a Europa, a queda é de 5,1%, segundo o economista Fernando Ribeiro, da Funcex.

Ou seja, a recessão nos países ricos está provocando o cancelamento de encomendas das empresas exportadoras brasileiras. A situação só não é mais grave porque até aqui os países em desenvolvimento têm compensado parte dessas perdas. As vendas aos países do Mercosul, principalmente à Argentina, cresceram 12,4% e à região da Ásia, 5,7%. Somando-se todos os países, a queda do volume de exportações do Brasil foi de 0,8%, de janeiro a setembro, antes do pico da crise global.

A combinação de preços em queda com menos encomendas nos países ricos leva os economistas a reverem suas projeções para a balança comercial. Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, estima que o saldo vai cair de US$ 25 bilhões em 2008, para US$ 8 bilhões em 2009. Natan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, calcula queda de US$ 24 bilhões para US$ 11 bilhões. "Foi a receita das matérias-primas que pagou nos últimos anos as contas externas brasileiras e permitiu que o País acumulasse US$ 200 bilhões em reservas."

Para Silveira, a escassez de dólares pode reduzir em US$ 25 bilhões as reservas internacionais. "A inflação provocada pela alta do câmbio será um problema menor perto do que a queda da receita das commodities (matérias-primas negociadas em bolsas) vai causar nas contas externas."

Como o motor das exportações rateando, a economia brasileira perderá também o forte impulso que teve nos anos de prosperidade internacional. A queda nas vendas externas deve afetar a cadeia produtiva ligada a grandes exportadores, como a Vale, que já anunciou um corte de 10% em sua produção de minério no Brasil.

Na sexta-feira, a Samarco, do grupo da Vale, anunciou que vai paralisar em dezembro duas de suas três fábricas que transformam minério em pelotas de ferro. "A interrupção se deve à desaceleração da economia mundial", disse o diretor de Operações, Ricardo Vescovi.

A fabricante de produtos têxteis Coteminas, sócia da americana Springs, sentiu a freada súbita dos Estados Unidos. Antes de a crise se agravar, a Coteminas exportava US$ 25 milhões por mês ao mercado americano, em produtos de cama, mesa e banho. Entre novembro e dezembro, prevê queda de 20% nas exportações.

"A solução será diminuir as compras feitas da Springs a outros fornecedores espalhados pelo mundo e direcionar às fábricas no Brasil. Faremos um remanejamento para voltar ao mesmo volume de exportações", diz Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas.

Além de afetar as empresas, a queda nas exportações limita o interesse por novos investimentos e afeta as contas externas. Como o cenário econômico ainda está confuso, as projeções variam muito. Mas há um consenso: as previsões para o desempenho da economia em 2009 estão sendo reduzidas.

Pelas contas de Fábio Silveira, da RC Consultores, o Brasil deve crescer em torno de 2%. Os mais otimistas, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, falam em 4%.
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O estado de SP

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