Janelas poderão vir da crise

Publicado em 02/12/2008 20:00

Em meio à crise econômico-financeira mundial e em parte por ela estimulada, teve início uma corrida de países importadores de alimentos em busca de terras agricultáveis de países produtores que poderá conduzir a um neo-colonialismo.O alerta, feito por Jacques Diouf, diretor-geral da FAO, organização da ONU encarregada de assuntos de agricultura e alimentação, ecoou primeiro no Financial Times e, neste final de semana, no The Guardian Weekly, ambos jornais ingleses.

 

Entre os países que seriam alvo da corrida estaria o Brasil, com seus 200 milhões de hectares de terras cultiváveis e maior produtor mundial de açúcar, café, carnes e frango. A Arábia Saudita e a China seriam alguns dos países interessados no aproveitamento de terras agrícolas brasileiras, de acordo com o semanário inglês.

 

Bom. Aqui gostaria de reivindicar o pioneirismo em levantar a tese de que Mato Grosso tem dois dos três grandes ativos da produção de alimentos: a terra conhecida e dominada, os produtores amadurecidos e com domínio das melhores tecnologias mundiais. Falta só o capital, que hoje é o gargalo. Esse capital poderá vir da transferência da produção para regiões do mundo como Mato Grosso, porque lá no hemisfério norte, a agricultura e a pecuária são altamente subsidiadas pelos impostos públicos.

 

Antes, porém, de continuar com o assunto, gostaria de lembrar que o mundo depois do fim da Guerra Fria, em 1989, deixou de manter grandes armazéns com reservas de comida para muitos anos. Hoje os estoques mundiais de comida não duram mais de dois meses. Isso quer dizer que o mundo está á beira de um colapso de alimentos, caso essa crise continue no mundo lá fora.

 

O assédio por terras para produção de alimentos soma-se à escalada de aquisições, feitas nos últimos anos por investidores e empresas estrangeiros, de áreas para produção de fontes de energia renovável, principalmente cana-de-açúcar. Essas operações são puramente comerciais: o investidor estrangeiro compra a terra, produz cana e álcool e exporta, além da terra utilizada, água e energia solar. Ao contrário do que fizeram países como a Finlândia, na produção de celulose, o Brasil não estabeleceu qualquer contrapartida para os investidores estrangeiros, como a transferência de tecnologia e o financiamento de centros de pesquisa. Não há indício de que, no caso da aquisição externa de terras agricultáveis do Brasil, o procedimento será outro.

 

Para encerrar este artigo, é preciso dizer que há muitos anos produtores norte-americanos têm se interessado em comprar terras em Mato Grosso.Mas preferiram a Bahia, onde já existiam outros e eles preferem colônias para sua auto-proteção. Neste ano de 2008, contudo, muitas terras têm sido vendidas em Mato Grosso para estrangeiros, visando a produção de grãos, de pecuária, de etanol e para reservas ambientais com vistas ao futuro quando se espera valorização das commodities de origem ambiental como oxigênio, conservação florestal, de água e de solo.

 

A se confirmar, e o assunto continua amanhã, é de se esperar que o perfil da gestão do agronegócio e de todas as questões ambientais no estado se transformem em pessoas jurídicas, em vez das atuais pessoas físicas. Tempos novos vêm aí!

  

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e das revistas RDM e Centro-Oeste.(Onofre Ribeiro)



Fonte: Famato

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