Busca da JBS por dupla listagem de ações expõe dilema para BNDES
Por Luciana Magalhaes e Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - A decisão da processadora de carnes brasileira JBS de buscar uma listagem nos Estados Unidos colocou sob holofotes seu acionista número 2, o braço de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e se o movimento acionário da empresa entraria em conflito com a missão principal do banco de promover o desenvolvimento brasileiro.
A JBS, o maior produtor de carnes do mundo, aproximou-se esta semana de uma dupla listagem que vem sendo planejada há anos, levando suas ações a subir 18% na terça-feira. A operação ampliaria o número de investidores que podem aplicar na empresa e possivelmente impulsionaria sua avaliação econômico-financeira para um patamar próximo ao de seus concorrentes nos EUA.
As ações da JBS apresentavam alta de cerca de 1% no meio da tarde de quarta-feira.
Na segunda-feira , o braço de investimentos do banco de desenvolvimento, BNDESPar, afirmou que vai se abster de votar em uma futura assembleia de acionistas sobre a proposta de listar as ações da JBS na bolsa de Nova York por meio de uma subsidiária holandesa. A decisão foi vista como positiva para o processo de listagem internacional.
Antes do anúncio, a especulação do mercado estava centrada na possibilidade de a BNDESPar endossar ou não a estratégia de listagem global da JBS, dado o mandato do banco de desenvolvimento de priorizar os interesses econômicos brasileiros.
O BNDESPar tem sido um dos principais acionistas da JBS desde 2007, quando ajudou a financiar uma onda de compras que a levou a adquirir marcas norte-americanas como a Swift e a processadora de frangos Pilgrim's Pride, investimentos apresentados como parte de uma estratégia de criação de "campeões nacionais" em governo anterior do PT.
Enquanto um analista disse que a abstenção da BNDESPar sugeria uma eventual oposição à listagem, uma fonte familiarizada com as negociações disse à Reuters que os advogados do banco estatal trabalharam para elaborar um acordo com o acionista controlador J&F Investimentos que lhe permitiria permanecer como acionista majoritário.
A transação foi projetada para evitar que a BNDESPar tenha que vender imediatamente suas ações no mercado, disse a fonte, observando que o banco analisará oportunidades para vender ou comprar ações da JBS no futuro.
A decisão de abstenção da BNDESPar, que detém 20,8% das ações, na segunda-feira, efetivamente transferiu a decisão sobre a aprovação da listagem dupla para os investidores minoritários. Separadamente, o BNDES disse que a J&F, uma holding administrada pela família Batista, fundadora da JBS, que detém 48,3% das ações, se comprometeu a fazer o mesmo.
"A declaração oficial da JBS parece mostrar que o BNDES se opôs à dupla listagem e que o acordo foi elaborado de forma a eliminar o voto contrário que provavelmente seria dado na assembleia", disse Igor Guedes, analista da Genial Investimentos, referindo-se a um fato relevante da JBS comunicando a decisão da BNDESPar de se abster de votar.
A JBS e o BNDESPar não quiseram comentar.
APROVAÇÃO DA SEC
A proposta de listagem da JBS nos Estados Unidos continua dependente da aprovação da comissão de valores mobiliários dos EUA (SEC), sem um cronograma definitivo estabelecido para a liberação regulatória.
Embora a SEC tenha se abstido de fazer comentários públicos sobre o assunto, uma fonte com conhecimento das deliberações internas da comissão indicou que os reguladores consideram viável a estrutura de listagem dupla proposta pela JBS.
Guedes observou que as preocupações da SEC com relação à concentração de um grande número de ações nas mãos dos principais acionistas também podem ter influenciado o acordo entre a J&F e o BNDESPar. O acordo, assim, poderia sinalizar que o banco estaria disposto a reduzir sua posição, se necessário, para que a listagem fosse aprovada, disse ele.
Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos, contestou a visão de que a venda potencial de uma participação da BNDESPar poderia ajudar a SEC a aprovar a listagem dupla.
Ele também observou que o acordo entre os dois maiores acionistas poderia levar outros acionistas minoritários a querer proteções semelhantes àquelas garantidas pelo BNDESPar, que recebeu uma compensação garantida de até R$500 milhões se as ações da JBS não subirem a um determinado nível após a listagem planejada. O nível de preço não foi divulgado.
O plano da empresa atraiu a oposição de legisladores nos Estados Unidos e no Reino Unido, bem como de grupos ambientais que enviaram cartas à SEC expressando preocupações com a listagem por conta do impacto ambiental da empresa e das alegações de corrupção envolvendo membros da família fundadora.
(Reportagem de Luciana Magalhães e Ana Mano em São Paulo)
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