Agronegócio brasileiro em alerta: o efeito dominó da guerra no Oriente Médio
À medida que o conflito entre Israel e Irã se intensifica e os Estados Unidos assumem participação direta o agronegócio brasileiro começa a sentir impactos imediatos e reverberações econômicas que podem alterar o custo e a logística da produção agrícola.
Fertilizantes em alta e produção sob pressão
O Irã, um dos grandes exportadores globais de ureia, tem enfrentado ataques constantes. Só na primeira semana de bombardeios, o preço internacional da ureia subiu cerca de 4%, pressionando o mercado mundial.
O Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes consumidos, sendo que, em 2024, o Irã respondeu por mais de 17% a 19% desse volume. Com o aumento nas cotações internacionais, já em torno de US$ 399–435/ton, o custo de produção agrícola tende a subir, especialmente no milho e soja, colocando o produtor brasileiro em desvantagem .
Além disso, o aumento do preço do petróleo, superior a 7% nos primeiros dias de conflito, eleva também os custos logísticos e de transporte marítimo, encarecendo insumos e fretes.
Mercados em xeque e riscos logísticos
O agronegócio nacional depende de rotas marítimas que passam por áreas sensíveis como o Estreito de Ormuz. Um bloqueio — especulado como retaliação — poderia atrapalhar exportações de carne, milho e soja, além de insumos vindos do Oriente Médio.
Adicionalmente, a demanda por produtos halal (frango, suínos, carne bovina) destinada a países muçulmanos sofre com a instabilidade do conflito.
Posição oficial do governo brasileiro
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou em coletiva — segundo fontes da Farsul (Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) — que o agravamento do conflito exige cautela e projeções revisadas com urgência. Ele destacou a “preocupação imediata com o encarecimento dos fertilizantes e o risco de interrupção das rotas de transporte”.
O Itamaraty, por sua vez, divulgou nota determinando diálogo com parceiros tradicionais (China, EUA, União Europeia), buscando garantir acesso a fertilizantes alternativos e minimizar danos aos agricultores brasileiros, embora tenha optado por uma postura neutra no âmbito diplomático.
O contraste com Donald Trump
Enquanto o Brasil aposta na neutralidade e busca ações técnicas com o objetivo de tentar proteger o agronegócio, o presidente americano Donald Trump tem adotado discurso explícito e agressivo contra o Irã. Em recentes declarações. Trump elogiou os ataques israelenses, pedindo “rendição incondicional” do Irã e afirmando que isso na verdade “não é um cessar‑fogo, é um fim real”. Ele também admitiu que os EUA sabem onde está o Aiatolá Khamenei, mas ordenou que não fosse atacado “por enquanto”. E fez advertências pesadas, como “fazer um acordo antes que não reste nada” .
As declarações de Trump vem em contrapartida do posicionamento do Brasil, que trabalha para “manter as portas de exportação abertas, diversificar fornecedores e conter custos”, Trump defende medidas militares, sanções máximas e mudança de regime — postura que tende a pressionar ainda mais os preços globais de insumos energéticos e fertilizantes.
O agronegócio brasileiro enfrenta uma combinação perigosa: aumento de custos com fertilizantes, pressão logística e incertezas no mercado externo, tudo agravado por uma guerra que se aprofunda. A resposta oficial do governo é pragmática, segundo a pasta, focada em proteger o produtor, mas ainda faltam alternativas concretas. Por outro lado, a retórica agressiva dos Estados Unidos sob Trump eleva o risco de escalada e eleva ainda mais o custo dos insumos.
O próximo passo será monitorar se o Brasil conseguirá garantir novas linhas de importação e se Washington adotará sanções que completem o efeito sobre os preços.