Marrocos é importante fornecedor de fertilizantes para o Brasil e o Notícias Agrícolas foi até lá conhecer essa produção
Ao longo de 2024, o Brasil importou US$ 1,2 bilhão em fertilizantes do Marrocos, montante que classifica o país do Norte da África como a quarta principal origem de compra deste insumo pelo mercado brasileiro com 8,6% do total importado, atrás apenas de Rússia (27,3%), China (14,2%) e Canadá (9,8%).
Alguns dos fatores que contribuem para essa alta representatividade do Marrocos são o alto investimento de inovação e tecnologia, além de circunstâncias da natureza, já que mais de 70% de todas as reservas mundiais de fosfato (mais de 50 bilhões de toneladas) estão em território marroquino, o que torna o país líder mundial na produção e exportação do mineral essencial para a produção de fertilizantes.
Principal responsável por essa extração e produção, a empresa estatal OCP recebeu jornalistas de todas as partes do mundo em suas instalações para apresentar um pouco de todo o processo realizado para transformar uma rocha em elemento fundamental na produção de alimentos.
Tudo começa nas minas espalhadas pelo país, como na região de Mzinda. Há cerca de 300 km da capital Rabat e 230 km de Casablanca, capital financeira do país, a região é movimentada pela atividade mineradora que domina a paisagem local.
A planta inclusive está passando por reformas e ampliações que vão acrescentar capacidade de produção de mais 4,5 milhões de toneladas já em 2026, totalizando 9 milhões de toneladas a mais até 2028, que se somam às atuais 15 milhões de toneladas de capacidade. Até 2030, somente esta planta deverá criar sozinha cerca de 20 mil empregos na região.
O objetivo da companhia é que todo o processo utilize energia 100% solar ou eólica e que toda a água usada na produção venha de estações dessalinizadoras. Além disso, até 2040 a produção de fertilizantes fosfatados deverá ser de carbono neutro, já atingindo essa meta em 2030 para as duas primeiras etapas de produção.
Nas instalações da OCP a rocha extraída das minas é processada e misturada com outros elementos, como ácido sulfúrico, para produzir os fertilizantes fosfatados. A empresa também investiu em equipamentos que melhoram a logística de produção, como corredores de transporte das rochas e tubulações que ligam os galpões de armazenamento diretamente às docas do porto, como existe na região de Jorf Lasfar, que fica na área costeira do país, cerca de 120 km de Casablanca.
Protagonismo brasileiro
Durante a visita, o chefe do departamento científico da OCP, Leonardus Vergütz, destacou que o Brasil ocupa posição central dentro da companhia graças ao papel estratégico da agricultura tropical. Segundo ele, os solos brasileiros — assim como os demais solos tropicais do mundo — são naturalmente pobres em fósforo, o que torna o nutriente fundamental para a construção de produtividade.
Vergütz lembra que o uso correto do fósforo foi determinante para a transformação agrícola nacional desde as décadas de 1970 e 1980. Esse manejo permitiu ao país deixar de ser importador de alimentos e se consolidar como um dos maiores produtores do mundo. “O conhecimento de agricultura tropical que existe hoje no Brasil não tem paralelo no mundo”, afirma o pesquisador.
Apesar do avanço, ele ressalta que ainda existe grande espaço para crescer. Além dos cerca de 70 milhões de hectares atualmente ocupados por culturas comerciais, o país possui aproximadamente 180 milhões de hectares de pastagens, grande parte com algum nível de degradação. Dados recentes, segundo ele, mostram que 57% das fazendas brasileiras nunca utilizaram fertilizantes, evidenciando o potencial de ampliação da produtividade e da sustentabilidade.
Vergütz explica que produzir mais não é incompatível com cuidar do solo. Ao contrário: intensificação biológica, maior eficiência no uso de insumos e melhor aproveitamento do fósforo contribuem ao mesmo tempo para produtividade, sequestro de carbono, melhoria da biodiversidade e mais rentabilidade ao produtor.
O executivo também reforçou o peso do Brasil dentro da estratégia global da OCP. O país, ao lado de outras economias tropicais como a Índia, está entre os principais destinos do fósforo marroquino — não apenas como cliente, mas como parceiro. A empresa mantém cooperações com instituições brasileiras, como a Embrapa, em iniciativas voltadas à melhoria do manejo de solo, nutrição e sustentabilidade.
“A proximidade geográfica, a necessidade agronômica e o potencial produtivo fazem do Brasil um parceiro natural nessa transição para uma agricultura mais sustentável. Esse fósforo que sai da África alimenta não apenas a produtividade, mas os serviços ecossistêmicos que o Brasil já entrega ao mundo e continuará entregando. O papel do Brasil nessa agricultura sustentável que apoia a transição global é enorme”, destaca Vergütz.