Argentina quer impulsionar exportação de grãos e minerais com privatização da rede ferroviária

Publicado em 08/12/2025 10:59 e atualizado em 08/12/2025 11:32

 

Por Lucila Sigal

BUENOS AIRES, 8 Dez (Reuters) - Um dos principais fornecedores globais de alimentos, a Argentina planeja impulsionar suas exportações de grãos e minerais com a privatização e uma ambiciosa modernização de sua antiga rede ferroviária, que, segundo líderes do setor, reduzirá pela metade os custos de frete de regiões distantes dos portos.

A primeira licitação é para a rede Belgrano Cargas, que opera as três maiores linhas ferroviárias de carga do país. Com lançamento previsto para o início do próximo ano, a iniciativa poderá expandir a produção de produtos de exportação global, como soja, milho, cobre e lítio. Também poderá auxiliar no transporte de areia para Vaca Muerta, a enorme formação de xisto no sudoeste da Argentina.

A privatização da rede faz parte do plano do presidente Javier Milei de transferir empresas estatais em dificuldades para mãos privadas e atrair investimentos para repor as reservas esgotadas, após anos de crise econômica.

MENOS CARGA POR TREM

Modernizar o sistema ferroviário após anos de negligência será um enorme desafio.

"O volume de carga transportada (por trem) hoje é inferior ao de 1970, embora a produção agrícola tenha aumentado quase seis vezes no mesmo período", disse Alejandro Núñez, presidente da estatal Belgrano Cargas y Logística, que administra a rede Belgrano Cargas.

A rede inclui três linhas que se estendem por quase 8.000 quilômetros e atualmente transportam cerca de 7,5 milhões de toneladas de carga por ano, das quais 60% são produtos agrícolas e derivados.

Muitas vezes, os trens circulam tão lentamente nos trilhos deteriorados que as cargas de soja são facilmente roubadas. Descarrilamentos também são comuns.

Outros 11.000 quilômetros de linhas serão colocados em licitação. Atualmente, essas linhas estão totalmente fora de serviço.

Na Argentina, a maior parte da carga é transportada por rodovia. O transporte ferroviário de mercadorias representa apenas 5% do total, um percentual ínfimo comparado aos 20% do Brasil e aos mais de 40% dos Estados Unidos e do Canadá.

CUSTOS DE TRANSPORTE

O governo considera a melhoria das ferrovias fundamental para atingir sua meta de aumentar as exportações totais anuais em US$100 bilhões em sete anos, segundo o ministro das Relações Exteriores, Pablo Quirno. Até outubro deste ano, a Argentina registrou exportações totais de US$71,5 bilhões.

A privatização pode ajudar, reduzindo os custos de transporte de mercadorias das fazendas no norte e oeste do país para a principal área portuária ao redor da cidade de Rosário.

Atualmente, o custo por tonelada para transportar carga da província de Salta até Rosário é maior do que o custo para enviá-la de Rosário para o Vietnã, afirmou Gustavo Idígoras, presidente da câmara de exportação de grãos CIARA-CEC.

A melhoria das ferrovias não será barata. Núñez estimou que seriam necessários investimentos de pelo menos US$800 milhões para modernizar a infraestrutura.

Um dos prováveis concorrentes na licitação é o Grupo México Transportes (GMXT), que opera a maior rede ferroviária mexicana e diversas linhas de transporte de carga nos EUA, disse uma fonte com conhecimento direto do assunto, que preferiu não ser identificada. Dada a magnitude da modernização necessária, a GMXT planeja investir US$3 bilhões caso vença a licitação, afirmou a fonte.

Um consórcio agrícola formado por Bunge Global, Cargill Inc., Louis Dreyfus Co., Asociación de Cooperativas Argentinas e Aceitera General Deheza SA também manifestou interesse na licitação, assim como a mineradora anglo-australiana Rio Tinto, de acordo com relatos da mídia local.

Os representantes das empresas recusaram-se a comentar.

EXPANDINDO A FRONTEIRA

De acordo com Alfredo Sesé, secretário técnico da comissão de transportes da Bolsa de Valores de Rosário, a redução dos custos de frete poderia contribuir para a expansão da produção agrícola no norte do país.

Pelo menos metade da produção agrícola da Argentina ocorre a mais de 300 quilômetros de Rosário. Sesé estimou que o transporte de uma tonelada por caminhão custa entre 7 e 9 centavos de dólar por quilômetro, enquanto o transporte ferroviário custa menos de 5 centavos. Quanto mais distante a fazenda, maior o impulso que uma ferrovia modernizada poderia trazer.

O setor de mineração da Argentina também poderá se beneficiar. O país é o quarto maior exportador mundial de lítio e possui projetos de mineração de cobre que poderão iniciar a produção nos próximos anos.

"A indústria de mineração precisa de soluções logísticas que permitam abastecer os projetos e movimentar a produção", disse Roberto Cacciola, presidente da Câmara Argentina de Empresas de Mineração.

(Reportagem de Lucila Sigal; reportagem adicional de Maximilian Heath; texto de Leila Miller)

Fonte: Reuters

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