Com o palmito pupunha, SP chega a 9 IGS do agro e totaliza 12 Indicações Geográficas no estado
Com doze Indicações Geográficas (IG) reconhecidas, São Paulo consolida novas frentes de valor e identidade territorial. Nove indicações são referentes ao agro e a mais recente delas é a IG do palmito pupunha do Vale do Ribeira, que reforça o protagonismo da região mesmo após quase dois meses do reconhecimento oficial. A área, composta por 22 municípios, recebeu o selo de Indicação Geográfica (IG) para a cultura do palmito pupunha. O registro posiciona São Paulo entre os principais polos do país, reconhecendo o trabalho da Associação dos Produtores de Pupunha do Vale do Ribeira (Apuvale), que representa cerca de 1.800 famílias produtoras e 70 agroindústrias.
Para o ex-presidente e atual diretor de marketing da Apuvale, Claudio de Andrade e Silva, a certificação representa um marco para o desenvolvimento regional. “É a única indicação de procedência para palmito no mundo e a ratificação de um trabalho de longo prazo para uma cultura que transformou a produção local. Antes, predominava o extrativismo predatório da palmeira juçara; hoje, há manejo agrícola de uma espécie promissora, a pupunheira”, afirmou.
A certificação contempla o palmito in natura e processado. Com o registro, o produto poderá ser comercializado em diferentes formatos , como: tolete, rodelas, estirpe, picado, bandas, espaguete, entre outros, desde que atendam aos critérios estabelecidos em legislação específica.
Para o produtor Jefferson Souza, de Jacupiranga, a IG fortalece a confiança do mercado e amplia oportunidades de comercialização. “A IG trará mais credibilidade e confiança ao produtor, expandindo nossas possibilidades comerciais. É um avanço para toda a cadeia produtiva”, destacou.
Com uma história de vida que inspira muitos brasileiros, Jefferson Souza, 43 anos, cresceu e viveu grande parte da vida na capital paulista, mas, após a pandemia de Covid-19, decidiu recalcular sua trajetória. “Depois da pandemia, eu e minha esposa decidimos mudar nossa forma de viver. Temos um filho que, na época, tinha seis anos, e buscávamos algo além da rotina de apartamento. Pesquisei sobre diferentes culturas e encontramos um sítio à venda que produzia palmito pupunha. Fechamos negócio e nos mudamos para Jacupiranga, no bairro da Poça, comunidade quilombola”, relembrou.
Com produção iniciada em 2020, Jefferson consolidou o empreendimento Simplesmente Roça, voltado principalmente ao palmito in natura. “Nossa agricultura é familiar e o foco é o palmito in natura, o mais consumido. Minha esposa, que é nutricionista, sempre comenta que o alimento pode ir muito além da torta e da salada. Dá para fazer lasanha, espaguete, arroz; tudo com baixo teor de carboidrato, fibras e minerais”, destacou o produtor.
Cenário Estadual
Extraído do interior da haste de palmeiras como pupunha, juçara e palmeira-real, o palmito é o miolo macio e comestível que tornou São Paulo referência nacional na cadeia produtiva. O Vale do Ribeira concentra cerca de 80% do cultivo estadual, o que representa aproximadamente 7 mil hectares.
O engenheiro agrônomo, da Diretoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da SAA, Rogério Sakai, ressalta as condições ideais que fizeram da região um polo produtivo. “O cultivo do palmito pupunha é feito em sua maioria por pequenos e médios produtores. Os plantios são em sua maioria em terras altas, com terreno levemente ondulado e sem a necessidade de irrigação, devido a incidência de chuvas bem distribuídas durante o ano, favorecendo o desenvolvimento da planta”, esclareceu o engenheiro agrônomo, Rogério Sakai.
A exploração ilegal da juçara palmeira nativa da Mata Atlântica ainda representa uma ameaça ambiental e econômica, especialmente em unidades de conservação. “No passado, a região explorava o palmito juçara. Com a proibição, as fábricas migraram para a pupunha, porque já tinham expertise no processamento. Como a pupunheira perfilha, os produtores aderiram ao cultivo”, acrescentou Sakai.
Pesquisa e melhoramento impulsionam o palmito paulista
As primeiras sementes de pupunheira chegaram ao estado em 1940, trazidas pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA/SAA). A adaptação positiva levou, a partir dos anos 1970, ao tratamento da cultura como atividade comercial em ascensão. Na década de 1980, estudos do IAC identificaram o Vale do Ribeira como área ideal devido ao clima tropical úmido e solo favorável, consolidando novas bases para o desenvolvimento regional.
Hoje, o IAC segue com um programa de melhoramento genético voltado à obtenção de variedades com maior produtividade e qualidade de palmito.“O IAC possui ainda uma coleção de palmeiras que conta com mais de 400 espécies, nativas e exóticas, com potencial para uso ornamental ou de produção de palmito. Esta coleção está em estudo pois, diferentes espécies de palmeiras, com distintas características de cultivo, podem produzir palmito com sabor, cor e textura inerentes a cada uma delas”, disse a pesquisadora do IAC, Valéria A. Modolo.