Agronegócio prevê investimentos, mas reclama do crédito rural

Publicado em 27/04/2010 13:37
Em 2009, PIB da agricultura caiu 5,2%; governo prevê retomada neste ano. Na Agrishow, empresários afirmam ver perspectivas de 2010 com cautela.

Após um 2009 de queda na economia do setor, a agricultura deve crescer neste ano, segundo o governo federal. Alguns empresários que compareceram à feira internacional Agrishow, em Ribeirão Preto, se disseram otimistas com as previsões e planejam investir, mas ainda estão receosos em relação ao quadro que se desenha para o setor neste ano. O principal ponto de críticas é o crédito rural.

Segundo alguns produtores e prestadores de serviço ouvidos pelo G1, até agora o crescimento não está tão vigoroso como o estimado e alguns entraves para o financiamento do setor podem ser os responsáveis.

No ano passado, quando o Brasil sentiu fortemente os efeitos da crise financeira internacional, o setor de agronegócios foi um dos que mais perdeu. O Produto Interno Bruto (PIB) do setor apresentou retração de 5,2% e favoreceu o desempenho negativo da economia brasileira em 2009.

Antes de deixar o cargo no fim do mês passado, o ex-ministro da Agricultura Reinold Stephanes afirmou que a previsão do governo era de alta de 8% para o setor em 2010, crescimento acima do previsto para a economia como um todo, que deve crescer 6% segundo o relatório Focus.

 

Crédito difícil


Para o agricultor Roque Jeremias Bercht, que veio da cidade de Imperatriz, no Maranhão, visitar a Agrishow, a previsão é de estabilidade nos negócios. Mesmo assim, ele afirmou que compraria uma máquina para possibilitar melhorias na sua produção de milho.

"Às vezes a gente não trabalha só com racionalidade, vai pelo amor. O produtor não é um economista que vai pelos números, tem envolvimento com a produção."

Bercht afirmou ainda que atualmente o principal entrave para sua produção é a dificuldade de obtenção de crédito. "Sinto que tem barulho demais, mas que o dinheiro acaba não chegando. Tem produtor que tem o crédito aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), mas o dinheiro não vem. Da última vez que tentei, me enquadraram como grande produtor e as taxas ficaram muito altas. Decidi comprar poupando e brigando por condições melhores."

O empresário do segmento de fruticultura Marcos Cezana, da cidade de Pinheiros, no Espírito Santo, que produz mamão, melancia e abóbora, concorda que a burocracia para liberação de recursos é um dos grandes entraves para as empresas de médio e grande porte. Com 300 funcionários, Cezana tem 80% de sua produção focada no mamão.

Mesmo não acreditando em crescimento no patamar de 8% em seus negócios , ele prevê um 2010 melhor. "O produtor profissional tem que ser otimista, continuar acreditando mesmo que existam limitações", diz Cezana, que foi do Espírito Santo para a Agrishow em busca de implementos agrícolas focados em seu segmento.

Os empresários e sócios João Roberto Bessa e Flávio Antonio de Oliveira, de Serrana, no interior de São Paulo, também reclamaram do crédito. Eles afirmaram que 2009 foi ano de queda e que esperam melhora para 2010, mas disseram que a falta de incentivo governamental pode prejudicar o segmento - eles são prestadores de serviços para usina de cana-de-açúcar, ou seja, fazem toda a parte da colheita do produto.

"O prestador de serviço ao comprar máquina não consegue desconto nenhum, tem que pagar o financiamento com juros mais altos", destaca Bessa. Ele afirmou que, enquanto um pequeno produtor pega empréstimo com juro de 4,5% ao ano, eles obtém recursos com a taxa de 8% ao mês.

Oliveira destacou que, assim como os produtores, os prestadores de serviços também geram emprego e renda e deveriam ser beneficiados. "Temos oito tratores trabalhando e 28 funcionários registrados, tudo em ordem. Pagamos nossos impostos. Mas não temos ajuda."

Produtor de cana, o empresário Carlos Tessari Habermann, que dirige a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado, disse que a principal dificuldade no ano passado foi de receber em dia das usinas, para quem presta serviço.

"Na cana-de-açúcar até que 2009 foi razoável. Algumas usinas tiveram problemas com câmbio, dólar, e isso afetou a cadeia. (...) A gente espera que as usinas fiquem sadias e com saúde financeira."

E mesmo pertencendo a um órgão governamental, ele também reivindica melhorias para o crédito rural: "Queremos que o Pró-Trator (programa do governo de São Paulo) seja ampliado para implementos, não fique só nos tratores", destacou.

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O programa Pró-Trator, que oferece empréstimos a empresários a juro zero, terá melhorias, afirmou na abertura da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow) 2010, em Ribeirão Preto, o secretário estadual de Agricultura, João Sampaio. O crédito, que hoje é somente para tratores, será estendido para outros implementos.

A feira

Este ano, a área de exposição da Agrishow está 50% maior do que em 2009 - passou de 230 mil metros quadrados para 360 mil metros. Foram R$ 15 milhões em investimentos.

A expectativa dos organizadores é de que o volume de negócios da feira retorne ao patamar de 2008, ao redor dos R$ 800 milhões. Cerca de 140 mil pessoas são esperadas no evento - entre elas, 4 mil estrangeiros.

A Agrishow acontece até a próxima sexta-feira (30).

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Fonte:
G1

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