Cultivo irrigado traz solução no Ceará

Publicado em 03/05/2010 08:45
Embora a maior parte da produção inerente ao complexo agrícola familiar no Ceará esteja concentrada nas culturas de sequeiro, onde se sobressaem o milho, o feijão, o arroz e a mandioca, outras possibilidades vêm sendo acrescentadas pelo governo local para driblar as condições naturais do Estado, que impedem maior consolidação desse setor. Nessa direção, o aumento das áreas irrigadas destinadas à agricultura, com destaque para as frutas e as flores; a produção de mel; de carnaúba e ainda a piscicultura, onde se sobressai a criação de tilápia; e a carcinicultura estão sendo estimuladas na tentativa de geração de emprego e renda para o homem do campo.

"A consolidação da agricultura familiar no Ceará é bastante limitada pelas próprias condições naturais do Estado. As irregularidades climáticas, típicas do semiárido, ainda impedem que esta se desenvolva. Não se trata de falta de vontade política ou de políticas públicas", argumenta o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), Francisco Zuza de Souza.

Além do pagamento do seguro safra e das distribuição de sementes, para diminuir os riscos inerentes à produção e ao clima, ele chama a atenção para os polos de agricultura irrigada já existentes no Ceará e para as áreas potenciais para o cultivo protegido. "Hoje temos em torno de 82 mil hectares irrigados no Ceará, distribuídos em seis polos, produzindo uma diversidade de frutas e flores, mas temos condições de chegar a 200 mil hectares. A agricultura irrigada tem condições de estabilizar a produção, pois possibilita um cultivo planejado e controlado, garantido mais renda. São atividades que, acrescentadas às existentes, vão dar mais sustentabilidade aos negócios".

Segundo o presidente da Adece, de 1999, quando se iniciou o cultivo em áreas irrigadas no Ceará, até 2009, a renda bruta proveniente dessas propriedades saltou de R$ 150 milhões para R$ 1 bilhão. "Esse aumento na renda revela a maior produtividade resultante da agricultura irrigada. Não é que uma coisa substitua a outra, mas elas são complementares. Para se ter uma ideia, se cada agricultor tivesse condições de produzir em pelo menos um hectare irrigado, daria para ele garantir uma renda mensal líquida de R$ 500,00 a R$ 600,00, além de assegurar alimento para a família", reforça. "A agricultura familiar não deve ser vista apenas como uma atividade de subsistência. Ela tem também a sua importância econômica, social e financeira para o semiárido, até porque é ela produz a maior parte dos alimentos da população", emenda. (ADJ)

Produção de alimentos
Baixa tecnologia gera pobreza

A produção agregada de alimentos no Estado, predominantemente realizada pelos agricultores familiares, oscilou de 406 mil toneladas a 1,44 milhão de toneladas, no intervalo de 1947 a 2008 - um incremento de 255%. Em igual período, a média da precipitação de chuvas foi de 869 milímetros, segundo o estudo "Algumas das Causas da Pobreza do Nordeste", elaborado pelos pesquisadores José Lemos e Demartone Botelho.

A produção diária per capita de alimentos no período foi de 840 gramas, mas oscilou entre 250 gramas e 1.840 gramas. Além disso, dentro daquele lapso de tempo, a probabilidade de ocorrência de chuvas em anos em que o rendimento das lavouras superavam as suas médias históricas girava em torno de 50%. "Portanto, as atividades agrícolas, que não utilizam tecnologias que independem, ou dependem menos do regime pluviométrico, tem uma chance muito grande de gerarem riscos para os agricultores familiares que são reféns dos fatores naturais para cultivar", avaliam.

Acrescente-se às condições naturais extremamente difíceis para boa parte dos nordestinos e cearenses as dificuldades de terem terras em tamanho e fertilidade adequados à capacidade de sustentação das famílias, tanto de um ponto de vista de produção da segurança alimentar, como de fomentar ocupação durante todo o ano e geração de renda monetária.

As dificuldades, segundo os pesquisadores, induzem os agricultores a práticas agrícolas que exaurem o solo e outros recursos naturais, por absoluta falta de alternativas. "Esta sinergia de eventos provoca degradação e empobrecimento dos recursos naturais e das famílias que se tornam potenciais emigrantes", completa Botelho. Forma-se, assim, um ciclo de pobreza que é difícil, mas que precisa ser rompido. "Com tecnologias adaptadas e adequadas, com políticas públicas de acesso aos ativos produtivos, mas também aos ativos sociais: saneamento, água, coleta de lixo e educação".

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Fonte:
Diário do Nordeste

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