Demanda social que garante oferta e renda da agricultura familiar

Publicado em 18/05/2010 09:39
Projetos sociais de compra de alimentos, subsídiados pelo governo, ajudam a manter pequenos produtores no campo.
Com 21 anos de idade, Daniel Bim fez o caminho oposto ao da maioria dos jovens de sua geração. Nascido no meio rural, neto de agricultor, chegou a tentar a vida na cidade, mas preferiu voltar para o campo. Hoje, toca sozinho a propriedade da família em São José dos Pinhais, na Região Metro­po­litana de Curitiba. Em 2,4 hectares, cultiva ao longo do ano mais de dez tipos de raízes, tubérculos e hortaliças folhosas, uma gama muito maior de produtos do que quando retornou ao campo, há sete anos.

A volta ao campo e a decisão de diversificar a produção foram mo­­tivadas por um projeto que garante a compra de parte dos produtos colhidos, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da Agricultura Familiar. Toda terça-feira, ele en­­trega à Cooperativa Borda Viva mais da metade da produção se­­manal e recebe, sem ter de barganhar, o preço do dia na Central de Abastecimento do Para­­ná (Ceasa).

Daniel é um dos 525 pequenos produtores que abastecem os dois Restaurantes Populares de Curi­­ti­ba, espaços comunitários que oferecem à população de baixa renda refeições balanceadas a R$ 1. Nos endereços, mantidos pela prefeitura, são servidas diariamente 3 mil refeições e consumidos quase 2 toneladas de alimentos por semana. 85% do cardápio são preparados com produtos da agricultura familiar, cerca de 1,5 tonelada de alimentos por semana. São frutas, verduras, legumes, temperos e cereais produzidos por agricultores como Daniel no entorno da cidade, a em média 60 quilômetros dos restaurantes públicos.

“Além de ter a garantia de compra de parte da produção, os preços são melhores. Em negociações in­­dividuais recebo quase metade do valor que consigo nas vendas pa­­ra o PAA”, relata Marcio Osligi, que há cinco anos participa do programa. Junto com o pai, a mãe e a irmã, ele cultiva pouco mais de 7 hectares na Colônia Murici, em São José dos Pinhais. Uma pequena parte da produção é industrializada para ser vendida na loja de produtos artesanais da família, ao lado da casa do pai. Outra parte dos alimentos é vendida para restaurantes da região e do litoral do estado.

Mas a maior parte, cerca de metade da produção, é entregue à Cooperativa Borda Viva. Os alimentos são então repassados à prefeitura de Curitiba, que os distribui para creches, escolas, asilos e programas sociais como o Res­­taurante Popular. “A cooperativa controla a qualidade dos produtos e coordena a produção dos cooperados para garantir a diversidade, evitar que todo mundo plante a mesma coisa”, explica Osligi.

“Em 2003, quando começamos a participar do PAA, produzíamos apenas batata e feijão. Hoje nossos 260 cooperados produzem cerca de 50 produtos, in natura, entre fru­­tas, cereais, hortaliças e tubérculos, e mais 115 produtos da agro­indústria familiar, como vinhos, licores, geleias, conservas, bolachas, queijos e salames. Pro­gramas como esse são muito im­­portantes para o processo de sucessão rural porque garantem renda ao produtor, permitindo que ele fique no campo”, considera Luciano Plan­ca, diretor administrativo da cooperativa.

Daniel é a prova viva. Ele deixou o campo depois que perdeu o avô, que era agricultor. O pai, a mãe e o irmão moram na zona rural de São José dos Pinhais, mas trabalham na cidade. Já Daniel afirma que não pretende mais deixar o campo. “Tinha um emprego onde batia cartão e tudo, mas não dava certo. No campo, trabalho quando quero. Mas sei que se eu não fizer ninguém vai fazer por mim. Trabalho de segunda a segunda, não tenho vergonha de dizer. Domingo cedinho pego o caminhão e vou para o litoral fazer entrega. Mas hoje já tenho meu carro e meu próprio caminhão”, orgulha-se.

O caminhão, comprado no final do ano passado, foi apenas o começo. Daniel quer expandir e diversificar cada vez mais a produção. “A cidade está crescendo para o interior. Quanto mais gente, mais comida. Mas quanto maior a cidade, menor o espaço para plantar alimentos. Então, acho que quem sobreviver na roça vai ganhar dinheiro”, prevê.

A cooperativa é uma das dezenas de entidades e centenas de fornecedores cadastrados pela prefeitura de Curitiba.

Fonte: Gazeta do Povo

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Xarvio lança tecnologias na Agrishow 2024
Relação custo X benefício pesa mais para que o agricultor decida por máquinas com motorização a combustíveis alternativos
Powell diz ser improvável que próximo movimento do Fed seja de alta de juros
Mapas para identificar plantas daninhas em cana alta tornam controle mais eficiente, otimizando operação de colheita e evitando banco de sementes
Avanços nas tecnologias para pulverizadoras ainda são mais lentas que os avanços do agro brasileiro, diz especialista