Pequenos produtores engordam nova safra recorde
Assim como Vebber, pequenos e médios produtores lutam para não abandonar a agricultura e manter suas plantações em todo o País. Escassez ou excesso de chuva, necessidade de incentivos e regulamentação, ataque de pragas e até mesmo falta de mão-de-obra são alguns dos obstáculos que eles precisam enfrentar no campo. Uma nova safra recorde, afinal, não é feita apenas de grandes agricultores ou grandes números.
Gaúcho de 39 anos, Vebber e sua família já plantaram em Goiás, nos anos 80, até parar no Norte do País. “Vimos a oportunidade de crescer e produzir na entressafra brasileira”, diz o produtor. Em seus primeiros anos em Roraima, o cenário era promissor. A família comprou máquinas e chegou a exportar para a Venezuela. Mas, em 2005, os altos custos de produção e preços baixos dos produtos na época desestimularam os agricultores da região. Vebber, porém, conseguiu manter-se na agricultura. “Não me arrependi porque vejo que há a possibilidade [de melhorar].”
Segundo o agricultor, a escassez de produtores de soja na região impossibilita a exportação atualmente. “Quanto mais gente estiver produzindo na região, melhor, porque reduzimos custos”, diz. Enquanto não consegue parceiros, o resultado da produção de Vebber é vendido para fábricas de ração para animais.
A soja é o principal produto de exportação do agronegócio brasileiro. A colheita do grão somará 68,7 milhões de toneladas nesta safra, segundo a Conab, um crescimento de mais de 20% em comparação com o ciclo anterior. Roraima, Estado adotado por Vebber, colherá 4,3 mil toneladas, ou 80% menos que na última safra.
No Amapá, feijão na base da enxada
O produtor Aristeu Souza Furtado deve começar o plantio de feijão neste mês em Macapá, no Amapá. Walter Paixão, analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), afirma que há cerca de dez anos uma parceria entre o governo e a entidade pretende incentivar o cultivo de feijão na região por meio de subsídios e distribuição de sementes, programa do qual participa Furtado. “Segundo o pessoal da pesquisa e da análise de solo, a terra é boa para feijão”, diz o produtor, que já plantou banana, laranja e limão, entre outras culturas.
Furtado, que também é pecuarista e especialista em eletrônica, herdou o trabalho de agricultor dos pais. Com 58 anos, vende seus produtos para a feira da região e espera permanecer no campo, apesar dos obstáculos. “A região é muito pobre na mecanização, a plantação ainda é muito na base da enxada”, diz. Para plantar o hectare de feijão programado para este ano, ele utiliza um trator pequeno e também um mais completo, emprestado da cooperativa.
O feijão plantado por Furtado é um dos itens mais importantes da cesta básica brasileira. A colheita nacional totalizará 3,5 milhões de toneladas na safra 2009/10, de acordo com a Conab. O Amapá, com 1,6 mil toneladas, será o menor produtor de feijão desta temporada entre todos os 27 Estados do País.
Em Laranja da Terra, arroz
A tradição familiar também pesa na decisão dos agricultores de permanecer no campo, diz Márcio Adonis Rocha, engenheiro agrônomo do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). No Espírito Santo, Estado de pouca tradição na produção de arroz, a cultura tem uma concorrência pesada na disputa por terras: café, frutas e a plantação de eucaliptos têm vencido essa disputa. "O produtor ainda sofre com a falta de água em muitos municípios”, diz.
Daniel Nass, da cidade de Laranja da Terra, a 130 quilômetros de Vitória, procurou equilibrar as forças em sua fazenda. Ele armazena a água da chuva para usar na plantação de arroz, que divide a terra com tomate, milho e quiabo. Depois, usa a madeira dos eucaliptos que também cultiva para fazer caixas para os produtos que vende aos vizinhos.
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, nesta ordem de importância, responderão por 70% da colheita de arroz no País na safra 2009/10, que somará 11,3 milhões de toneladas. No Espírito Santo, onde Daniel Nass planta arroz com água da chuva armazenada, a colheita será de 3,7 mil toneladas, o penúltimo no ranking dos Estados produtores do cereal.
Algodão e autopeças
Na Paraíba, pesquisadores como Luiz Paulo Carvalho, há 32 anos no Embrapa, também acompanham a luta de pequenos agricultores e sua resistência no campo. Nos últimos anos, Carvalho presenciou o declínio da produção de algodão na região. “Com a chegada do bicudo em 1983, foi difícil controlar a produção”, diz ele, lembrando do ataque dos besouros às plantações.
No último ano, diz Mário Lemos Medeiros, presidente da cooperativa agrícola da região de Patos, a falta de chuvas também desanimou os produtores. Segundo ele, benefícios recebidos pela população da região, como o Bolsa Família, junto com o aumento da urbanização, afastaram os agricultores. “Não tem mais ninguém no campo, só na cidade”, diz. “Alguns recebem o benefício e param de trabalhar”, afirma o produtor.
Também a falta de financiamento e de mão-de-obra no campo, argumenta o dirigente, contribuíram para a queda de quase 80% na produção de algodão da Paraíba prevista para esta safra. A maioria dos que resistem no campo, afirma ele, agora opta pela produção do algodão colorido, mais caro do que o branco. A produção nacional de algodão em caroço será de 3,1 milhões de toneladas, informa a Conab, um crescimento de 2,3% em relação ao ciclo anterior. A da Paraíba, uma das menores do País, com o declínio de 77,8%, será de 800 toneladas.
O destino da pouca colheita, diz Medeiros, são as indústrias têxteis da região. Além da fazenda de 139 hectares, onde planta algodão e cria vacas leiteiras, ele mantém uma loja de autopeças na cidade.
Apesar de conseguir mais lucro com o comércio e ter se formado em economia há 11 anos, aos 54 anos de idade, Medeiros afirma ter gosto pelo cultivo da terra, ofício que não pretende largar. “Quando vem a seca, perdemos tudo", afirma o produtor. "Mas aí começamos tudo de novo”.