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A COINCIDÊNCIA DOS programas
de propaganda eleitoral, a se iniciarem nesta semana, com a ultrapassagem de Dilma Rousseff sobre
José Serra agora constatada também pelo Datafolha, oferece duas
deduções.
Quanto a Dilma, mais significativa do que a conquista da liderança,
cedo ainda, a propaganda de TV e
rádio é a oportunidade de forçar a
continuidade do seu impulso atual
e, com uns poucos pontos a mais,
alcançar logo a indicação de vitória no primeiro turno.
Essa condição funciona, em
geral, como atrativo de votos mais
numerosos e mais protetores. É o
que se dá, a esta altura, com Eduardo Campos e Sérgio Cabral, com
suas crescentes possibilidades de
vencer em Pernambuco e no Rio no
primeiro turno.
Para Serra, fica evidente que está em sua última oportunidade, ou
muito perto dela, de indicar ao eleitorado o motivo de sua candidatura. Que sentido tem, afinal? O que
Serra pretendeu a ponto de deixar o
governo de São Paulo para lançar-se na disputa pela Presidência?
Sob o peso da aprovação popular de Lula, o próprio Serra diz que
não é candidato de oposição, e de
fato não se mostra como tal. Adversário da candidata do governo,
também não é governista. Logo, o
que lhe sobra é uma fímbria pela
qual introduzisse algo novo, uma
perspectiva capaz de seduzir e convencer aspirações frustradas do
eleitorado.
Mas nem vislumbre de alguma
ideia assim, até agora. Trata-se de
uma candidatura que não se sabe o
que representa nem o que pretende
além de uma intenção pessoal.
As pequenas lantejoulas que
revestem a candidatura de Serra,
do tipo "vou duplicar o Bolsa Família" (sem ao menos explicar se
em valor ou em beneficiados), ou
"vou criar o Ministério da Segurança", "vou restabelecer os mutirões
da saúde", e outros "vou" que não
chegam a lugar algum, prestam-se
a ampliar a impressão de vazio dada na improdutiva preferência de
sua campanha pelos minúsculos
corpo a corpo.
Ocupar-se tanto em criticar Dilma por estar "na garupa" de Lula?
Serra e seus marqueteiros poderiam perceber que assim só confirmam o que é a principal bandeira
de sua adversária. Façamos justiça: a candidatura de Dilma e seu
êxito são produtos de Lula, como
Gilberto Kassab foi de Serra, mas o
PSDB e seu candidato não têm regateado facilidades e outras colaborações à candidata governista.
O horário eleitoral traz em ocasião oportuna um recurso que tanto
pode ser decisivo para Dilma como
para Serra. Os três minutos a mais
no tempo da aliança petista não alteram a equivalência das
oportunidades: em TV e em rádio, sete minutos - tempo de Serra - já são
um
arremedo de eternidade.
Oneroso, nesse item, é o minutinho de Marina Silva, cujo sucesso
nas palestras não se reproduz em
mais do que 10% dos eleitores pesquisados, mas talvez o fizesse, em
boa parte, com maior tempo de TV.
O horário gratuito segue a regra
fundamental brasileira: mais renda
concentrada em quem já a tem alta.
Para preencher o tempo até o início da nova fase de propaganda,
uma boa especulação é a das causas da queda forte de Serra, quatro
pontos em três semanas, e do grande ganho de Dilma, com os cinco
pontos que a elevaram a 41 contra
33. O debate na Bandeirantes e as
pequenas e ruins entrevistas na Globo não convencem como causa de
tamanha reviravolta, até porque já
insinuada, antes dos programas,
em outras pesquisas. |