Aloprados: quatro anos hoje. Sem uma miserável punição!

Publicado em 15/09/2010 10:25

Aloprados: quatro anos hoje. Sem uma miserável punição!

Por Fausto Macedo, no Estadão:
Quatro anos depois quase nada avançou a investigação sobre os aloprados do PT que foram flagrados tentando comprar um dossiê contra tucanos - José Serra, então candidato pelo PSDB ao governo de São Paulo, era o alvo principal do grupo. Não há nenhum denunciado perante a Justiça, nem mesmo foi descoberta a origem da montanha de dinheiro apreendida em hotel de São Paulo, R$ 1,75 milhão em dinheiro vivo, na madrugada de 15 de setembro de 2006.

Alguns aloprados continuam nas fileiras do partido, uns exercem funções em setores da administração federal e outros se dedicam a atividades empresariais.

Todos estão livres, até aqui, de acusações formais perante a Justiça. A Polícia Federal indiciou parte do grupo, mas vários deles escaparam ao enquadramento. A PF argumentou “ausência de indícios suficientes”.
O Ministério Público Federal ainda não decidiu se leva os envolvidos à Justiça. O procurador da República Mário Lúcio Avelar, que atuou inicialmente, saiu do caso. O novo está em férias.

O banco dos réus é só para os Vedoin, pai e filho, Darci e Luiz Antônio, empresários acusados de integrarem a Máfia dos Sanguessugas, organização infiltrada em setores do governo para fraudes em licitações de compra de ambulâncias superfaturadas.
O dossiê era uma peça que se resumia a um punhado de recortes de jornais e uma fita de vídeo com imagens do ex-ministro da Saúde (governo Fernando Henrique) em compromissos públicos para entrega de ambulâncias. Os aloprados achavam que o documento provocaria abalos na candidatura Serra, que venceu o pleito.

Mentores da farsa, para a PF, os Vedoin respondem a ações judiciais, não pelo dossiê. São ações de improbidade, quase 200. As penais são cerca de 15. A procuradoria imputa a eles quadrilha e fraudes em licitação. Ficaram presos algumas semanas.

Mala
A ação dos aloprados foi interceptada pela PF naquela madrugada de 2006 quando foram detidos Gedimar Passos e Valdebran Padilha no Hotel Ibis Congonhas, em São Paulo. Com eles os federais recolheram dólares e reais, ao todo R$ 1,75 milhão. Suspeitava-se que o montante era de caixa 2. O próprio presidente Lula, que buscava a reeleição, chamou o grupo de “aloprados”.

Segundo a PF, Gedimar - agente aposentado da corporação - estaria interessado na compra do dossiê. Padilha, empresário da construção civil em Cuiabá, supostamente veio a São Paulo receber o dinheiro.
O circuito fechado de segurança mostrou Hamilton Lacerda, do PT, transitando pelos corredores e saguão do hotel. Lacerda aparece no elevador carregando uma grande mala. Na época coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao Palácio dos Bandeirantes, Lacerda teria sido o portador do dinheiro.

Indiciado pela PF por lavagem de dinheiro ele negou o crime. Alegou que levava notebook, roupas, santinhos de campanha. Sob pressão saiu do PT, mas retornou em 2009, acolhido pelo diretório de São Caetano do Sul.

A PF identificou doleiros no Rio. Sobre os reais não chegou alugar nenhum - era dinheiro miúdo, isso dificultou o rastreamento. O delegado que conduziu a primeira etapa do inquérito, Diógenes Curado, não tem mais nada com o caso. Ele foi nomeado secretário de Segurança Pública de Mato Grosso.

A PF suspeitava de outros petistas - Jorge Lorenzetti, Osvaldo Bargas, Expedito Veloso e Freud Godoy -, mas contra eles não apresentou provas.

“Não sabemos nem mesmo se vai haver denúncia da procuradoria contra meus clientes”, disse o criminalista Válber Melo, que defende os Vedoin. Ele informou que os Vedoin fizeram delação premiada. “Poderão ser beneficiados com redução de pena ou até com o perdão judicial.”

Por Reinaldo Azevedo

O trabalho de intimidação feito pelos fascistóides da Al Qaeda eletrônica

“Trata-se, ao menos em parte, de um movimento organizado, digamos, organicamente. E que já atingiu minha família.”

“Detestaria me vitimizar, mas não tem sido fácil agüentar tantos ataques pessoais - e, sobretudo, a disseminação de mentiras sobre mim.”

Copiei os dois tuítes acima do twitter de Diego Escosteguy, autor, com o auxílio de colegas,  da reportagem de capa da revista VEJA que noticia tráfico de influência na Casa Civil envolvendo a ministra Erenice Guerra e Israel Guerra, seu filho. Como se nota, ele está sendo alvo de um ataque orquestrado, que não poupa nada e ninguém. Ele não se vitimiza, no que faz muito bem, e não serei eu a vitimizá-lo. Até porque certa canalha que hoje patrulha o jornalismo desconhece a alegria de um trabalho bem-feito, rigoroso, ainda que o cerco do oficialismo se arme para tentar desmoralizar quem fez a coisa certa. Conheço Diego muito pouco — estivemos juntos uma ou duas vezes em eventos da Abril. Duvido que esteja assustado com a gritaria. Conta com o apoio e a solidariedade dos profissionais que se prezam. Como disse o jornalista Sandro Vaia em seu twitter, “se Watergate fosse aqui, os culpados seriam Woodward & Bernstein.” Na mosca! Diego continuará a fazer o seu trabalho. Mas a onda que procura atingi-lo não é acidental, fortuita, ocasional: trata-se de um método.

Na segunda à noite, José Dirceu — chamado de “chefe de quadrilha” pela Procuradoria-Geral da República (eu até discordo um pouco porque acho que ele era só um gerentão; o chefe mesmo é outro ) — afirmou em uma palestra a sindicalistas na Bahia  que “o problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e da imprensa”. Depois o PT tentou negar. Isso faz supor que, se eleita, Dilma tentará corrigir essas “falhas”, acabando com o que é chamado estupidamente de “monopólio” e, pois, o “excesso de liberdade e do direito de expressão”.

A história é conhecida: na oposição, os petistas consideravam o trabalho da imprensa essencial para o seu projeto. No poder, ficaram indignados que fossem também eles submetidos à investigação jornalística e que reportagens denunciassem desmandos, irregularidades e incompetências. O que antes era visto como um serviço de utilidade pública passou a ser considerado um trabalho de sabotagem a mando de supostos golpistas. Não se enganem: os petistas estão organizados para criar mecanismos “legais” para limitar o que Dirceu chama “excesso de liberdade”. Também mobilizam a fabulosa máquina de recursos publicitários para evidenciar seus amores e ódios, comprando consciências e mantendo uma vasta rede de delinqüência a soldo. Todo mundo sabe onde estão e quem são. Alguns exibem orgulhosamente o anúncio de estatais.

Terceira frente
Essas duas frentes de ataque são direcionadas primordialmente para as empresas de comunicação. Elas têm como alvo “os patrões da mídia”,  para empregar a linguagem chula do arranca-rabo de classes ainda falada pela canalha. Mas é contra os jornalistas, especialmente contra os repórteres, que se arma a teia mais perversa — e muitos, infelizmente, se deixam capturar por ela.

Já disse que não quero debater o caso de Diego Escosteguy em particular — até porque ele sabe se defender e, acima de tudo, se defende com o seu trabalho. Os seus dois tuítes são, reitero, emblemas de um estado de coisas. A vigilante patrulha está sempre armada, pronta a atacar. É o que chamei há muito tempo aqui de “Al Qaeda eletrônica”. Assim que uma reportagem considerada “contra o PT” ou “favorável ao PSDB” é publicada, a máquina entra em ação. Os canalhas ocupam as chamadas redes sociais para o trabalho que, percebe-se, tentaram fazer contra o repórter da VEJA: difamação, agressões pessoais e profissionais, ataques à família. Contam, é verdade — e este é  o aspecto mais miserável da história —, com pessoas ligadas, de algum modo à imprensa: geralmente um bando de ressentidos que ou foram banidos da grande imprensa por insuficiência moral ou a ela não conseguiram chegar por insuficiência profissional. Resultado: tornaram-se profissionais da difamação a serviço de um partido e de “uma causa”.

Eu, como poucos, sei do que estou falando. Enquanto escrevo, na madrugada, há 1581 comentários só nos posts com data de ontem — ao longo da terça, publiquei mais de 2 mil. E quase outro tanto foi para o lixo. Por quê? Por mais que vocês imaginem o que chega, não conseguem ter, eu garanto, uma pálida idéia. Se querem saber como a bandidagem se organiza, é só recorrer ao Google para constatar as centenas de páginas criadas com o ânimo exclusivo da ofensa —  insisto: essa gente conta com o auxílio de profissionais antigos na arte da pistolagem e do nariz marrom. Mas eu não ligo. Aos 49 anos, não faço questão de agradar nem espero que me “compreendam”. Quem gosta fica, quem não gosta que navegue. E, com efeito, não dou a menor pelota para o que acham a meu respeito. Algumas das melhores pessoas que conheço estão nessa profissão. Mas também há algumas das piores — como acontece com caminhoneiros, padeiros, taxistas… Mais: tenho muitos amigos jornalistas, mas não freqüento a, se me permitem a brincadeira, enfermaria profissional botecos afora.

Também não faço a linha “Reinaldinho-todo-puro”. Sei que bato duro — ataco opiniões e chamo besteira de besteira, o que alguns consideram ofensa —, e não espero que me poupem de críticas, não. Mas o que chega e o que se espalha por aí nada tem de divergência. Raramente tentam provar que estou errado. Dia desses, um rapaz da Folha entrevistou um blogueiro do PT que, segundo ele, é um exemplo de formosura na Internet porque nem é da turma que acusa os outros de “petralha” — referência óbvia a este escriba — nem é da turma que acusa conspiração da imprensa golpista (aquela do Franklin Martins). Um leitor me mandou o que esse exemplo de grandeza ética escreveu sobre mim em seu blog: “(…) Se o dono da Veja fosse um furúnculo cover da Lady Gaga no suvaco de um zebu nos estertores finais de seu sufocamento por gases internos, ainda seria melhor que o Reinaldo Azevedo.” É o blogueiro que o repórter da Folha recomendou aos leitores do jornal como exemplo de equilíbrio. Ao menos não o recomendou como estilista…

Não é o caso de Diego e de outros jovens repórteres (menos de 49, para mim, é jovem, hehe), mas é claro que muita gente fica assustada e tem medo de cair da rede de maledicência. Muitos repórteres ainda não perceberam que há o mundo real e há esse mundo paralelo criado pela delinqüência; muita gente não percebeu que algumas das coisas escritas nesses ambientes não têm a menor importância. Alguns fazem um tremendo esforço para tentar responder às acusações, lutando para provar que seus juízes estão errados, que o que dizem não é verdade, que as coisas não se dão daquela maneira. Os mais fracos se esforçam — e imagino a excitação da canalha quando isso acontece — para provar que também já fizeram matérias críticas ao PSDB; que não são de direita; que estão alinhados com todos os itens do Decálogo do Bom Progressista… Ao fazê-lo, não se dão conta de que acabaram de ser seqüestrados, de que já não são mais donos da própria pena e que passarão, a partir daí, a ser monitorados “pelo partido”.

Outra categoria
E há, evidentemente, todos sabemos, uma outra categoria, que nada tem a ver com esses honestos, eventualmente assustados e intimidados pela patrulha. Há os jornalistas cujo trabalho se confunde mesmo com o de um apparatchik: ainda que na redação de um grande veículo, fazem questão de evidenciar que o seu compromisso não é com a sua profissão, mas com o que chamam de “justiça” — a “justiça” com marca, a “justiça” do partido. Estes colaboram no trabalho de patrulha.

Caso Dilma vença a eleição, haverá, sim, a tentativa de controlar a imprensa pela via legal e econômica. E essa patrulha vai se exacerbar. Ela tem sido eficiente e tem intimidado muita gente. Mas noto também, aqui e ali, que certas fichas estão caindo. O que antes parecia paranóia desse ou daquele, motivada por suposto alinhamento ideológico ou por afinidades eletivas, começa a se revelar em toda a sua crueza, com todo o seu incrível poder de destruição. É claro que os próprios petistas colaboram para esse começo de desmascaramento da essência autoritária do partido. O escândalo que envolve Erenice Guerra pode ser um marco importante nesse processo. São tantas e tão descaradas as tentativas de criar uma verdade oficial a contrapelo dos fatos e é tão brutal a reação dos fascistóides no trabalho de intimidação que até alguns “neutros”, quase simpatizantes, começaram a sentir ameaçada a própria liberdade. Hoje eles atacam o Diego, o José e a Maria. E amanhã?

Há gente que começa a perceber que é melhor ser livre para poder bater em tucano do que ser livre para só poder elogiar petista.

Por Reinaldo Azevedo

Um ato criminoso

Aquela nota impressionante divulgada por Erenice Guerra, ministra da Casa Civil (ver post de ontem), está no site da Presidência da República (aqui), caso o governo não a tenha tirado. Não creio que o tenha feito. Houve um tempo em que esses caras faziam o errado mesmo sabendo o que era o certo. Agora, tenho dúvidas se conseguem distinguir uma coisa de outra. Caminharam da imoralidade para a amoralidade. É claro que a situação pediria uma entrevista ou, vá lá, uma nota da Casa Civil, mas não essa, vazada numa linguagem da mais absoluta e rasteira delinqüência política. A propósito: Erenice  Guerra sabe falar ou só bate papo em padaria?

É claro que Erenice, a exemplo de Lula, é quem é a qualquer hora do dia ou da noite. No que concerne a questões públicas, ela jamais deixa de ser ministra; ele jamais deixa de ser presidente. Assim como não cabe ao chefe da nação, mesmo num palanque de seu partido, pregar o extermínio de um partido de oposição, não cabe a uma ministra de estado tratar naqueles termos um candidato de oposição — decretando, inclusive, a 18 dias da eleição, a sua derrota, por mais que as pesquisas sejam favoráveis ao governo.

Se a descompostura de Lula é séria por ser o presidente da República e lhe caber também o papel decoroso (deveria ser) de magistrado simbólico do processo eleitoral, a ação de Erenice é funcionalmente mais grave porque ela estava, de fato, no exercício do cargo, como provam o brasão em sua nota oficial e a publicação do texto no site da Presidência.

As duas coisas são provas, entendo, de abuso de poder político. Usa-se abertamente um órgão do Estado brasileiro — e assistimos à mesma coisa na Receita — para atingir um candidato de oposição.  Nunca se viu nada parecido na história brasileira desde o fim do regime militar.

Aqui e ali, delinqüentes dos mais variados matizes — dos cavardes aos esbirros do poder de turno — proclamam que “nada cola nesse governo”, não importa a gravidade do que se pratique. Uma coisa é constatar tal fato; outra é exultar com ele. E vivemos precisamente neste clima: os assaltantes da institucionalidade experimentam a euforia do “nós podemos tudo”. E isso só os estimula a ir cada vez mais longe.

Tivessem as palavras da ministra Erenice sido tornadas públicas num papel higiênico, o parentesco entre o conteúdo e a destinação habitual do suporte não eliminaria a sua gravidade intrínseca: continuaria a ser uma ministra de Estado entrando no jogo eleitoral rasteiro, mas não se teria a prova material do abuso. Da forma como se fez, a evidência está dada. O Brasão da República estampado em seu texto e a divulgação da nota na página da Casa Civil, no site da Presidência,  constituem, entendo, provas inequívocas de abuso de poder político e crime eleitoral. Mais um!

“Ah, você não se cansa de denunciar essas coisas?”, pergunta um petralha exultante. Não! Porque seus aliados não se cansam de praticar crimes. Até que José Dirceu não realize o seu intento — e consiga, pois, acabar com o que ele considera “excesso de liberdade de imprensa e de expressão” no Brasil —, eu continuarei a chamá-los por seus respectivos nomes e continuarei a classificar seus crimes de crimes.

Por Reinaldo Azevedo

Por que tantos partidos se todos podem estar num só?

No post lá do alto, falei sobre os comentários petralhas que chegam. Em regra, são agressivos, sórdidos mesmo. Mas também há os engraçados,  a exemplo daqueles que dizem coisas como “vocês vão ter de engolir o PT” e tal. Fica parecendo, e isso realmente é o curioso, que o PT é alguma força de resistência, minoritária, que pode ganhar a eleição depois de muitos anos de luta. O “vocês”, na cabeça deles, são “os tucanos”. Eu gostaria muito de saber quem essa gente imagina que está por trás do “terrível “PSDB. Como serão essas pessoas? Na linguagem condoreira dos petistas, fica parecendo que seus adversários reúnem os plutocratas do país, em confronto com, sei lá, os “excluídos” e humildes de Dilma.

Ontem, no horário eleitoral do PT, dois empresários deram seu testemunho. Um deles é empreiteiro mineiro Rubens Menin, dono da MRV Engenharia, que ajudou a desenhar, a toque de caixa, o programa Minha Casa, Minha Vida. Atenção: sua empresa é a que mais conseguiu contratos até agora. Ele é o “maior operador do sistema”.  Não faz tempo, anunciou a disposição de fazer 70 mil casas por ano, o que tornaria, disse, a sua empresa a maior do mundo no ramo. Até agora, a coisa não deu muito certo porque só se entregaram 150 mil casas do milhão prometido. É um dos “excluídos” do dilmismo, hehe. Elogiou fartamente a companheira. Tenho certeza de que os petralhas seriam capazes de jurar que ele é tucano — talvez em Minas…

Outro que dilmistas enlouquecidos da rede não imaginam ser também um companheiro é Ariovaldo Rocha, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Naval. Está felicíssimo com Dilma, já que lidera um setor bastante beneficiado pelo governo Lula.  O presidente licenciado da Fiesp está com a petista, e o da CNI, também. A Febraban, não sei, mas suponho.

Quem serão os terríveis tucanos, que tentam tirar, com essa desfaçatez, o poder das mãos do povo? Aí dirá um cínico: “Ué, ninguém! Os tucanos vão acabar junto com DEM. Serão extirpados”.  Entendo! Mas não exatamente porque representavam a plutocracia, certo?

Só para arrematar: é claro que ao lado de Menin, Rocha e outros potentados do empresariado, poderia estar João Pedro Stedile, por exemplo. Porque ele também é beneficiado com subsídios, como os outros. Aqueles querem lucro; Stedile quer chefiar a sua turma. O PT é mesmo inclusivo. A única coisa que ele não aceita é oposição — e o “excesso de liberdade”. O resto vale.

Para não perder a viagem: é normal e decoroso ter no horário eleitoral o maior operador de um programa bilionário do governo e o presidente do sindicato de um setor amplamente beneficiado com subsídios e financiamento barato? Não é! Especialmente se a candidata em questão os beneficiou — ainda que dentro da lei — quando ministra. Sei que estavam ali pensando só no Brasil e na geração de empregos, claro! O objetivo era mostrar que Dilma é competente e tem também o apoio dos grandes. OK. Stedile, Menin, Rocha… Todos estão com Dilma. E quem não está? Aqueles que têm de ser “extirpados”.

A petralhada gosta de imaginar que existe a “conspiração dos outros” — os tucanos, vocês sabem — e que ela reúne, sei lá, os que “sempre mandaram no Brasil”, como diz Lula. Ora, viajando na sua linguagem, eu diria que o PT reúne, sem dúvida, mandantes e mandados, cavalcantes e cavalgados. E se pergunta: “Por que haver outro partido se nós podemos ter todos num só?”

Por Reinaldo Azevedo

Lula assume operação para blindar Erenice e culpar Serra por denúncias

Por Tânia Monteiro e João Domingos, no Estadão:
Coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o comando da contraofensiva do governo e da coordenação da campanha da petista Dilma Rousseff para inocentar a ministra Erenice Guerra e jogar no tucano José Serra a culpa pela repercussão das denúncias de envolvimento da auxiliar, de um filho dela e de familiares em tráfico de influência na Casa Civil.

Erenice Guerra, que sempre atuou como braço direito de Dilma, animou-se com o apoio do presidente. Ao saber que ficaria no governo, divulgou nota à imprensa com ataques a Serra, qualificando-o de “aético” e “derrotado”.

“Chamo a atenção do Brasil para a impressionante e indisfarçável campanha de difamação que se inicia contra minha pessoa, minha vida e minha família, sem nada poupar, apenas em favor de um candidato aético e já derrotado, em tentativa desesperada da criação de um fato novo que anime aqueles a quem o povo brasileiro tem rejeitado”, disse ela.

Lula e o comando da campanha de Dilma mostravam muita preocupação com a possibilidade de as denúncias contra Erenice tirarem votos de Dilma. Por isso, decidiram pela rápida reação. Pela manhã, o presidente chamou os ministros mais próximos para uma conversa. Concluíram que o melhor seria anunciar que a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) vão investigar se Israel Guerra, filho da ministra, está envolvido num esquema de tráfico de influência dentro da Casa Civil e cobrança de propina de empresários, como revelou a revista Veja.

Entrevistas. Lula determinou que o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, convocasse entrevista coletiva, para informar a entrada da PF no caso, e que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciasse uma medida positiva em sua área, para se contrapor às denúncias de quebra de sigilo fiscal de contribuintes, fato muito explorado pela campanha de Serra.

A exemplo de Barreto, Mantega convocou entrevista coletiva. Anunciou que o sigilo fiscal de políticos ficará mais protegido do que o dos demais cidadãos.

Em seguida, a defesa do governo ficou por conta do ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União. Ele afirmou que a CGU vai auditar contratos mencionados nas reportagens sobre supostas irregularidades na Casa Civil. A respeito dos pedidos feitos formalmente por Erenice para que a PF e a CGU analisem as reportagens, Hage comentou: “É importante que ela manifeste interesse em esclarecer o caso e isso influencia na prioridade da apuração.” Mas não há prazo para as respostas. O governo trabalha com calendário curto - 18 dias - para abafar o tema, pois a eleição presidencial será no dia 3 de outubro.Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Euricélio, irmão de Erenice, é responsável por R$ 5,8 milhões em contratos fantasmas na UnB; um dos fantasmas era Israel, o filho lobista. É o que diz auditoria

Por Felipe Coutinho e Andreza Matais, na Folha. Comento em seguida:
O irmão da ministra Erenice Guerra, da Casa Civil, José Euricélio Alves de Carvalho é apontado por auditoria do governo como responsável pelo desvio de R$ 5,8 milhões da editora da UnB em contratos fantasmas, o que incluiu pagamentos a ele próprio e a Israel Guerra, filho da ministra que atua como lobista.

A folha de pagamentos suspeitos da editora traz pelo menos R$ 134 mil destinados a José Euricélio e a Israel Guerra entre os anos de 2005 e 2008, período em que Erenice ocupava a Secretaria Executiva da Casa Civil e era subordinada à então ministra Dilma Rousseff.

José Euricélio era da direção da editora da UnB e coordenador-executivo dos programas que, segundo relatório da CGU (Controladoria-Geral da União), tiveram R$ 5,8 milhões desviados para 529 pessoas. Essas pessoas receberam sem a comprovação de que o serviço foi feito. Na prática, a Controladoria e o Ministério Público descobriram um esquema de terceirização dos serviços na universidade sem a comprovação de que eles foram efetivamente realizados.

A editora da UnB (Universidade de Brasília) foi usada para captar dinheiro de fundações e distribuir o montante a pessoas ligadas à cúpula da diretoria.

Fantasmas
O filho da ministra-chefe da Casa Civil Israel Guerra aparece na folha de pagamento a fantasmas da editora da UnB. Foram ao menos três pagamentos de R$ 5.000, entre setembro de 2007 e janeiro de 2008 -todos foram solicitados pelo irmão da ministra. A função de Israel era a de auxiliar o coordenador dos projetos, ou seja, seu tio José Euricélio.

“Os documentos que deram suporte a esses pagamentos não são suficientes para comprovar a efetiva prestação de serviço”, afirma o relatório da CGU sobre os projetos tocados pelo irmão da ministra.

“Não há elementos que indiquem como essas pessoas foram selecionadas, quais critérios foram adotados, que tipo de qualificação técnica ou acadêmica possuíam para exercer as funções”, continua o documento da Controladoria-Geral. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Euriza, irmã de Erenice, usou computador de escritório contratado sem licitação para justificar contrato

Por Leandro Colon, no Estadão:
As versões dos parentes da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, para se defenderem de favorecimentos dentro do governo foram montadas nas estruturas do Palácio do Planalto e do escritório de advogados Trajano e Silva Advogados, envolvido no escândalo de lobby no governo federal.

A advogada Maria Euriza Alves Carvalho, irmã de Erenice, usou, por exemplo, um computador do Trajano e Silva Advogados para escrever a nota em que justifica o aval que deu em 2009 - quando estava no governo Lula - para contratar sem licitação o mesmo escritório, onde trabalha um irmão das duas, Antônio Alves Carvalho.

Já o e-mail enviado pelo filho de Erenice, Israel Guerra, à revista Veja passou pelo crivo palaciano. Segundo o governo, isso ocorreu porque Israel passou a mensagem para Vinicius Castro, envolvido no escândalo e que foi exonerado - a pedido - pelo governo na segunda-feira. Os dois são apontados como mentores de um esquema de lobby e cobrança de propina de empresas que tentam fechar contratos com órgãos públicos ligados ao governo federal.

Maria Euriza enviou ao Estado um e-mail às 18h04 de segunda-feira com um arquivo anexado com explicação sobre o parecer que deu para autorizar a Empresa de Pesquisa Energética (EPE)- da qual era consultora jurídica - para contratar o escritório do irmão sem licitação por R$ 80 mil. O documento informa que o arquivo do texto foi criado num computador do próprio Trajano e Silva Advogados.

Um dos donos do escritório, o advogado Márcio Silva, que também trabalha para a campanha de Dilma Rousseff (PT), informou ao Estado que Maria Euriza escreveu a nota do Rio de Janeiro em um laptop emprestado pelo Trajano e Silva. A irmã de Erenice presta serviços a eles.

A advogada Maria Euriza justificou que autorizou o governo a contratar sem licitação o escritório do irmão delas por questão de “emergência”. O contrato era de seis meses e por R$ 80 mil, mas no fim ficou em R$ 25 mil.

Por Reinaldo Azevedo

A encenação de sempre

Leia editorial do Estadão:
Um assessor de segundo escalão da Casa Civil, Vinícius de Oliveira Castro, foi o bode expiatório encontrado pelo governo para encenar uma resposta à revelação de que o filho da ministra Erenice Guerra, Israel, foi pago para ajudar uma empresa de transporte aéreo a regularizar a sua situação na agência federal do setor e, em seguida, conseguir um contrato de R$ 84 milhões, sem licitação, junto aos Correios. O assessor demitido, chamado por Erenice no ano passado para um cargo de confiança, foi apontado como parceiro de Israel na operação.

O afastamento de Castro - cuja mãe figura como titular de uma firma de lobby, juntamente com outro filho da ministra - é menos do que um paliativo diante do escândalo dentro do escândalo: a decisão do presidente Lula de manter Erenice Guerra na Pasta que ela transformou numa espécie de puxadinho da família e onde, ainda sob a guarida da então ministra Dilma Rousseff, se notabilizou pela crise do dossiê com gastos sigilosos da Presidência Fernando Henrique. Dilma, por sinal, já lançou a amiga ao mar, chamando-a de “uma ex-assessora”.

A grande farsa - procedimento-padrão de Lula quando confrontado com grossas irregularidades no seu entorno - incluiu, por enquanto, o anúncio de que ele teria cobrado de Erenice uma “reação rápida”. Ela rapidamente disparou uma série de notas para protestar inocência. Numa delas, anunciou a intenção de processar a revista Veja, que expôs o caso.

Mas a encenação mais característica do Planalto, quando finge que quer apurar os malfeitos da casa, foi o pedido de abertura de investigação pela Comissão de Ética Pública sobre a participação da ministra nos desenvoltos negócios do filho.

Para os menos avisados, uma providência contundente. Depois da reunião das segundas-feiras do colegiado, o seu presidente, José Sepúlveda Pertence, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, anunciou a abertura do procedimento. O relator designado, Fabio Coutinho, que tem o prazo prorrogável de 10 dias para apresentar o seu parecer, prometeu fazê-lo antes das eleições. A partir daí, a comissão ou arquiva o assunto ou instaura inquérito. Na realidade, sem prejuízo da retidão dos seus membros, o órgão não tem nenhum poder para punir as autoridades que tenham transgredido o Código de Conduta da Alta Administração Federal.

A comissão pode fazer recomendações ou advertências, e os advertidos podem ignorá-las. Basta lembrar o caso do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que acumulava a função pública com a de presidente de seu partido, o PDT. Embora, como não poderia deixar de ser, isso tenha sido considerado eticamente inaceitável pela comissão - que em 2007 fixou prazo para o ministro renunciar ao comando partidário -, só em março do ano seguinte ele o fez, depois de se entender com Lula. Com o seu escárnio, o político demonstrou que a comissão, além de não ter poderes de sanção, tampouco exerce alguma forma de coação moral sobre os figurões do Planalto.

Tudo indica, portanto, que o único efeito prático do escândalo do dia nas hostes do lulismo será o fim das chances de Erenice de continuar ministra no eventual governo de sua ex-madrinha Dilma. Salvo fatos novos ainda mais comprometedores sobre o tráfico de influência e outros crimes continuados no núcleo central da Presidência, Lula tratará de empurrar com a barriga mais essa lambança. O essencial, para ele, é reforçar a couraça em volta da sua escolhida. E a mesma candidata cuja propaganda apregoa os feitos do governo “de Lula e Dilma” diz que o affair Erenice é “um problema de governo”.

Em resumo, até a eleição, pelo menos, Erenice fica. Depois, se verá…

Nada disso sairia de graça para o lulismo se a maioria do eleitorado brasileiro não tivesse trocado as demandas éticas pelo proverbial prato de lentilhas. A efetiva melhora na condição de vida dos segmentos mais pobres da população como que os anestesiou para o exercício da cidadania. Parecem achar que, sendo os governos inevitavelmente corruptos ou coniventes com a corrupção, por que indignar-se logo com este que tanto bem lhes faz?

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (veja.com

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