Governo vai lançar pacote para conter alta do real

Publicado em 16/09/2010 07:28
Tesouro colocará títulos da dívida no Fundo Soberano, que os venderá

Preocupado com a entrada de dólares para a capitalização da Petrobras, o governo vai lançar um pacote de medidas para segurar a valorização do real. O pacote inclui o uso do Fundo Soberano para a compra de dólares.
Depois de descer até R$ 1,70, o dólar subiu ontem pela primeira vez após dez dias de baixa. A moeda americana terminou o dia a R$ 1,727, com valorização de 1,11%.
Pela proposta do ministro Guido Mantega (Fazenda), o Fundo Soberano comprará dólares por meio de seu "subfundo" cambial.
Esse instrumento, diz, não foi usado ainda e funcionaria assim: o Tesouro coloca títulos da dívida pública no Fundo, que os vende no mercado e troca os reais obtidos com a transação por dólares.
"Estamos preparados para enxugar um eventual excesso de dólares."
Segundo Mantega, a Fazenda está preparada para combater "o jogo" dos países que mantêm "artificialmente" suas moedas depreciadas para promover as exportações e ganhar mercados.
Entre as medidas, o governo estuda ainda ampliar o percentual que os bancos podem comprometer de seu patrimônio em transações com títulos em outras moedas.
A situação atual difere da ocorrida na eleição de 2002, quando o dólar chegou a R$ 4,00 por conta da desconfiança com a continuidade da política econômica.

COMÉRCIO EXTERIOR
O câmbio apreciado dilui a competitividade das exportações e retira o incentivo da indústria nacional para competir com os importados.
"Não vi nenhum candidato falar de comércio exterior. O câmbio está defasado há tempo e tem aumentado as importações", disse Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
Segundo Segatto, o parque industrial brasileiro possui máquinas de 17 anos atrás que, junto com o câmbio e a carga tributária alta, eleva os custos de produção.
Para Antonio Correa de Lacerda, economista da PUC, a defasagem do câmbio provoca mudança no comércio exterior (que não condiz com o mercado interno brasileiro) e afasta investimento produtivo de multinacionais, que fazem orçamentos em dólar e veem custos altos no Brasil.
"É equívoco dizer que a taxa de câmbio é só ativo financeiro e que câmbio é problema de exportador. Ele é determinante para produção."

ANÁLISE

Juro alto mantém atração pela entrada da moeda americana, por CARLOS THADEU DE FREITAS.


Na última reunião do Comitê de Política Monetária, o Banco Central optou por interromper a alta da Selic (taxa básica de juros), uma vez que a inflação está sob controle no momento e permanecem as incertezas nas economias avançadas.
Mas, apesar das perspectivas de redução da atividade econômica nos países desenvolvidos, a expectativa de que a inflação no Brasil levará mais tempo até convergir para a meta do BC pode significar novos aumentos nas taxas de juros, nos próximos anos, caso os gastos do governo continuem crescendo.
E taxas de juros maiores tendem a atrair mais investimentos estrangeiros para renda fixa, provocando entrada de mais dólares. Considerando esse cenário, torna-se difícil esperar o enfraquecimento do real.
Estruturalmente, há uma tendência de valorização da moeda brasileira que se deve à redução substancial dos riscos incidentes sobre nossa economia, após a adoção de políticas macroeconômicas consistentes.
Compras de dólares no mercado à vista aumentam as reservas internacionais, as quais, embora tenham tido papel fundamental na redução do risco soberano do país, embutem um custo fiscal elevado.
Ao comprar dólares, o BC injeta, no mercado, moeda que tem de ser custeada via emissão de títulos públicos com rendimentos muito superiores (taxa Selic) à remuneração das reservas internacionais, atualmente bem próxima de zero.
Não obstante, a intervenção no mercado futuro de dólar por meio de "swaps" cambiais reversos, apesar de oferecerem alívio no curtíssimo prazo, demonstram-se inócuos para conter a valorização do câmbio num cenário de manutenção ou mesmo elevação da taxa Selic.
Os "swaps" cambiais reversos equivalem à compra de dólar no mercado futuro.
Assim sendo, a intervenção do Banco Central, seja no mercado cambial à vista ou futuro, é ineficiente dada a tendência de apreciação do real no longo prazo, apesar do possível benefício da redução da volatilidade.
Por outro lado, as vendas do varejo e a importação de bens de capital beneficiam-se do real valorizado. O caminho para um dólar menos barato reside na elevação da poupança interna via aperto fiscal e queda dos juros.


CARLOS THADEU DE FREITAS é economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do BC.


Fonte: Folha de S. Paulo

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