Dilma diz que Erenice tomou "atitude correta"

Publicado em 17/09/2010 06:20



A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, chamou de "compra e venda de terreno na Lua" a negociação de um empréstimo bilionário do BNDES a um projeto de energia solar intermediado pelo filho de Erenice Guerra, que foi sua principal assessora e depois a sucedeu como ministra da Casa Civil -cargo que havia ocupado entre 2005 e abril deste ano.
Dilma refutou envolvimento com o episódio, apesar de ser a titular da Casa Civil à época da negociação, tendo Erenice como secretária-executiva.
"Onde está a prova de que eu esteja envolvida nesse caso? É importante no Brasil que a gente não perca a referência das conquistas da civilização. Tem de provar que você fez. Não você provar que não fez. Como eu estou envolvida nesse caso? Aliás, tomei conhecimento dele pelos jornais", declarou Dilma, em uma entrevista de 17 minutos ontem à tarde na Associação Comercial do Rio, na zona central da cidade.
A petista apoiou a saída de Erenice Guerra e disse não acreditar que nova acusação de prática de lobby pelo filho de sua ex-assessora possa afetar a campanha eleitoral.
"Considero que a ministra Erenice tomou a atitude mais correta. Porque, como o caso exige investigação, é sempre bom que a autoridade se afaste para assegurar que investigação transcorra da melhor forma possível."

FALHAS TÉCNICAS
A candidata criticou tecnicamente o projeto da EDRB. "Se é verdade o que o jornal diz do projeto apresentado, queria fazer dois comentários. Esse projeto de R$ 9 bilhões para 600 megawatts seria o projeto de energia mais caro do Brasil", disse.
E prosseguiu: "Portanto um projeto que teria algo como 6% da energia gerada pela [usina de] Belo Monte com o equivalente à metade do seu valor. Seria um dos mais caros projetos. Se o BNDES o recusou, o fez muito bem".
Dilma disse que não tem conhecimento de o BNDES financiar nenhum projeto que não tenha a garantia de contrato de venda em leilão.
"Então, essa história me parece, sabe aquela história de compra e venda de terreno na Lua? Me parece isso."
No final, Dilma foi questionada novamente sobre se sua campanha poderia ser afetada pela acusação à família da ex-assessora.
"Não acredito que tenha uma coisa a ver com a outra. Uma coisa é o que aconteceu, outra é minha campanha."

Ex-ministra foi nomeada a pedido de petista

O presidente Lula nomeou Erenice Guerra ministra da Casa Civil atendendo a um pedido de Dilma Rousseff, que desejava ter alguém de sua "confiança" na pasta que ocupou até deixar o governo para concorrer à Presidência.

Inicialmente, Lula queria indicar como substituto de Dilma o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) ou a atual coordenadora-geral do PAC, Miriam Belchior.
Dilma queria recompensar a amiga e braço-direito. Antes, tentou emplacar a ex-ministra no Tribunal de Contas da União. Lula, porém, não se convenceu.
Na sua posse como ministra, Lula disse que, se pudesse, indicaria, além dela, Miriam para o cargo. "Mas a Erenice é a parte que ajudou a Dilma a tocar a Casa Civil", disse o presidente. 

Casa Civil é hoje a pasta mais influente do governo

Criada em 1938 por Getúlio Vargas durante o Estado Novo para ser um órgão de assessoramento do presidente, com o tempo a Casa Civil passou a concentrar cada vez mais atribuições e hoje é o ministério mais poderoso.

A Casa Civil coordena e fiscaliza a atuação das demais pastas, verifica a legalidade dos atos presidenciais e analisa o mérito dos projetos enviados ao Congresso, avalia e fiscaliza as licitações públicas e as nomeações e transferências de funcionários.
No organograma federal, o titular da Casa Civil preside seis câmaras setoriais (Desenvolvimento Econômico, Política Cultural, Recursos Naturais, Infraestrutura, Integração Nacional e Política Social), duas comissões ministeriais (Biodiesel e Investimentos Produtivos) e diversos grupos de trabalho (Amazônia Legal, BR-163, Microempresas, Setor Sucroalcooleiro, Cooperativismo).
Além disso, o ministro da Casa Civil gerencia a maior vitrine do governo Lula -o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e seu sucessor, o PAC 2.

REGIME MILITAR
A proeminência da Casa Civil começou a se delinear durante o regime militar. Até 1964, o responsável pelo chamado Gabinete Civil não tinha nem mesmo o status de ministro extraordinário, a despeito da notoriedade de alguns de seus ocupantes -Lourival Fontes (segundo governo Vargas), Victor Nunes Leal (Juscelino Kubitschek), Hermes Lima e Darcy Ribeiro (João Goulart).
Na gestão do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), o ministro João Leitão de Abreu tornou-se um dos ministros mais importantes, ao lado de Orlando Geisel (Exército), que se destacava na área militar, e de Delfim Netto (Fazenda), que gerenciava a área econômica.
Seu sucessor no cargo, Golbery do Couto e Silva, foi o grande articulador da abertura política que marcou os governos de Ernesto Geisel (1974-1979) e João Baptista Figueiredo (1979-1985).
Com a redemocratização, a pasta perdeu força política, mas recuperou o seu prestígio no governo Lula, que elevou a secretaria à condição de ministério e foi ampliando suas atribuições e o número de cargos de confiança -que cresceram de 419 para 539.
Até o escândalo do mensalão, em 2005, a influência de José Dirceu -principal operador político de Lula- rivalizava com a do do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
Após a queda de Palocci em 2006, Dilma Rousseff logo se tornou a principal colaboradora do presidente -que em março de 2008 já despontou como candidata do PT à sua sucessão.
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Fonte:
Folha de S. Paulo

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1 comentário

  • Magid Elie Khouri Goiânia - GO

    Agora está tudo explicado, passou-se para a viabilidade técnica. Isso é mais grave ainda! Se pagassem a tal propina, esse projeto "absurdo", como diz a "mulher de ferro2" até poderia ter passado. O consultor Rubnei Quícoli diz ter alertado a Casa Civil sobre a existência do esquema de lobby que era operado dentro do órgão pelo filho da então secretária-executiva, a “ mulher de ferro1”. A própria FOLHA tem as cópias dos e-mails, que ele alega ter enviado em fevereiro, endereçados a assessores e secretárias de Erenice. Na época, a ministra da Casa Civil era Dilma Rousseff (PT). Vamos fazer uma aposta – vão dizer que essas mensagens não chegaram. Nos textos, o consultor reclamava da cobrança de dinheiro para que a empresa de energia EDRB recebesse um empréstimo no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e pedia que Erenice e Dilma fossem avisadas. Isso cheira aquela história de macaco vigiar o cacho de banana ou a raposa vigiar o galinheiro. Esse Quícoli é muito angelical! O pior de tudo é a banalização do episódio. Olha só o que o Temer disse: "Essas coisas são circunstanciais, são acidentais, são acidentes que ocorrem e, quando ocorrem, são imediatamente corrigidos", afirmou Temer durante debate entre os candidatos a vice-presidente, hoje à tarde, promovido pelo grupo Record. Isso é ou não uma confissão do crime? No fundo está dito o seguinte, aconteceu sim; prometo que esse ano não vai ocorrer mais o desculpe-nos. Serão imediatamente corrigidos uma ova Sr. Temer – Isso é imoral. Dá a impressão que são todos surdos!

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