Extorsão na Casa Civil: Planalto já sabia sobre o lobby desde fevereiro

Publicado em 17/09/2010 12:00
Empresário mandou emails à Casa Civil reclamando das cobranças


O Palácio do Planalto sabia pelo menos desde de fevereiro deste ano que havia um lobby funcionando dentro da Casa Civil e cobrança de vantagens para intermediar empréstimos junto ao BNDES.

Foi em 1.º de fevereiro que o empresário Rubnei Quícoli, estopim da queda de Erenice Guerra, enviou e-mail para quatro funcionários da assessoria especial da Casa Civil em que reclama da cobrança por fora de R$ 240 mil feita pela empresa de Israel Guerra.

Israel é filho da ministra, e teria feito a cobrança para que o processo de crédito de R$ 9 bilhões fosse acelerado. Em uma das mensagens daquele dia, Quícoli, consultor da EDRB do Brasil Ltda, pede que o assunto seja levado à então ministra e hoje presidenciável, Dilma Rousseff (PT). "Espero de coração que esse e-mail chegue às mãos da dra. Erenice e a (sic) ministra Dilma", afirma.

Dilma era ministra também quando, 45 dias antes, Quícoli recebeu a minuta do contrato que faria com a Capital Assessoria, empresa que Israel, filho de Erenice, usa para fazer lobby e cobrar dinheiro em contratos obtidos junto a órgãos públicos.

O documento cita o pagamento mensal de R$ 40 mil e a taxa de 5% (que significaria R$ 450 milhões) em caso de sucesso na operação para financiar um projeto de usina solar.

Consultor da EDRB, Rubnei Quícoli entregou ontem ao Estado os e-mails que enviou aos assessores da Casa Civil no dia 1º de fevereiro. Às 7h08, ele remeteu mensagem a Vinicius Castro, Glauciene Leitão, Vilma Nascimento do Carmo e Vera Oliveira, todos lotados na assessoria especial da Casa Civil. O primeiro pediu demissão na segunda-feira, depois da revelação de que botou sua mãe, Sônia Castro, como sócia "laranja" da Capital Assessoria.

Já Glauciene, além de receber os e-mails sobre as cobranças feitas pela empresa de Israel, foi quem agendou a reunião de 10 de novembro, que contou com a presença de Erenice e dos donos EDRB. Quatro dias antes, a funcionária da Casa Civil confirma o encontro e faz um alerta em que menciona a candidata do PT: "O Vinícius Oliveira - Assessor da Secretária, informou que o conteúdo do CD que está com ele é muito extenso e que é necessária uma apresentação mais sucinta para mostrar à ministra Dilma."

Nas mensagens aos funcionários da Casa Civil, Quícoli alerta sobre o uso do escritório Trajano e Silva Advogados pelo grupo ligado a Erenice Guerra para fazer negociatas. A Casa Civil confirmou, para o Estado, a lotação das funcionárias. Um dos sócios do escritório, o advogado Márcio Silva, que representa Dilma na Justiça Eleitoral, nega conhecer os representantes da EDRB. "Nunca vi essas pessoas." 

Pesquisas deram sinal de alerta para campanha

O governo e o comitê da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, avaliam nos bastidores que o escândalo envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra, da Casa Civil, teria maior potencial de desgaste sobre a campanha petista do que a denúncia da quebra de sigilo fiscal dos tucanos.

Andre Dusek/AE
Andre Dusek/AE
Explicações. 'Minha vida virou um inferno', disse Erenice Guerra ao presidente Lula

Com pesquisas em poder da equipe de Dilma apontando nessa direção, a queda de Erenice começou a ser desejada pelo comitê ainda no fim de semana. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, não quis demitir a ministra logo que surgiram as primeiras acusações de tráfico de influência e montou uma operação para blindar Dilma.

A situação de Erenice, porém, só piorou com novas denúncias relacionando o filho dela, Israel Guerra, à intermediação de negócios no Planalto, cobrando propina. Apareceram, ainda, evidências de empreguismo da família da chefe da Casa Civil em postos-chaves do governo do Distrito Federal e em repartições da União.

A avaliação do Planalto, diante desse cenário, foi a de que manter Erenice "sangrando" seria muito pior para o governo e para a campanha de Dilma. Na manhã de ontem, Lula não deixou dúvidas de que queria a chefe da Casa Civil fora.

"Um inferno". Em entrevista ao portal IG, pouco antes da conversa definitiva com Erenice, de apenas 10 minutos, ele foi taxativo: "Quando a gente está na máquina pública, não tem o direito de errar. E, se errar, a gente tem de pagar."

Ao presidente Erenice disse que não suportava mais a pressão. "Minha vida virou um inferno", desabafou. "Vou me defender fora do governo."

Antes de se reunir com Lula, a então titular da Casa Civil teve uma conversa de 40 minutos com o ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação), na residência oficial.

"Nós aprendemos com o caso do Zé Dirceu que não dá para segurar alguém alvejado", resumiu um auxiliar de Lula, numa referência à queda de José Dirceu, abatido da Casa Civil, em 2005, no rastro do mensalão.

Na expectativa de vitória no primeiro turno, o PT fará de tudo para evitar a ação de "aloprados" na reta final da campanha. Pesquisas do comitê de Dilma indicam que o eleitor muitas vezes não entende o que significa a quebra de sigilo fiscal, uma das principais acusações do candidato do PSDB, José Serra, contra a campanha petista. A nomeação de parentes e intermediação de negócios dentro do governo, porém, são assuntos que "pegam". 

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Não critique. Habilite-se! A esta curta mas contextual conclusão eu cheguei em 1982 quando me transferi para a capital federal, vindo do RS. Tudo se agravou a partir de 1988 com a falsa Assembléia Constituinte que foi instalada sob a orientação destre inimigo da Nação Brasileira, chamado Ulisses Guimarães que conseguiu a proeza de implantar um regime onde os conceitos são formados com base nos principios anglo saxônicos mas o regimento juridico segue os principios romanos onde o rito processual é mais imporetante do que o mérito da questão. Não vai mudar dentro dos próximos 50 anos.... Portanto, para ser bem sucedido neste país, não critique. Habilite-se!!!

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