Diretor do Sensus: "Efeito Marina" foi menor do que parece

Publicado em 05/10/2010 11:29 e atualizado em 05/10/2010 14:22


Nem o crescimento de Marina Silva (PV) no dia da eleição presidencial foi tão grande, nem os institutos de pesquisa erraram por não determinar com clareza que haveria segundo turno, afirma o diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes. Para ele, a abstenção mais alta nas regiões Norte e Nordeste em comparação com outros locais é que provocou as discrepâncias entre o que previram as pesquisas - inclusive a de boca de urna - e o resultado final.

- O "efeito marina" é muito menor do que se supõe. Foi algo localizado em grandes capitais como Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, mas não influiu em mais que 2% nos resultados de Dilma Rousseff (PT).

Marina terminou as eleições com 19,33% dos votos válidos, mais do que os quatro principais institutos de pesquisa indicavam em seus levantamentos mais recentes. Pesquisa Datafolha, um dia antes da eleição, dava a ela 17% dos válidos. Considerando-se, porém, todo o universo do eleitorado (incluindo votos nulos, brancos e não comparecimento/sem opinião), Marina teve 17,65% enquanto as pesquisas davam a ela 16% dos votos no total do eleitorado.

- Tem um pouquinho que pode ser atribuído à onda verde? Pode. Mas o tanto que ocorreu imprevisível em relação a ela é de 1,75, absolutamente dentro da margem de erro!

Como explicar, então, a diferença das previsões em relação à Dilma, líder nas pesquisas? Guedes afirma que está concluindo um estudo a respeito, mas aponta a abstenção maior no Nordeste e Norte como o fator determinante.

Segundo os cálculos de Guedes, a abstenção somada a votos brancos e nulos no Nordeste foi igual a 29,34% dos eleitores da região. O Norte teve abstenção de 25,03 enquanto a média brasileira foi de 25,19% e no Sul foi de 21,13%. Isso prejudicaria Dilma, uma vez que ela tem uma porcentagem maior de votos entre os eleitores nordestinos.

- Isso desproporciona o voto. Nós vamos agora ponderar o que ocorreu nas eleições como se a abstenção tivesse sido a mesma em todas as regiões. Aí nós teríamos os resultados corretos do que seria se a abstenção fosse uniforme. Eu acredito que os resultados que nós vamos obter serão equivalentes aos da boca de urna do Ibope - explica Guedes.

Os possíveis motivos dessa abstenção, porém, são difíceis de explicar. "Não foi a chuva, porque só choveu no sudeste e centro-oeste onde o Serra ganhou", brinca o pesquisador.

Lula cobra mais empenho do PT em São Paulo

Descontente com a dupla derrota do PT em São Paulo nas eleições de domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou mais empenho do partido no estado. Além de amargar a vitória de Geraldo Alckmin (PSDB) para o governo estadual no primeiro turno, a legenda ainda viu José Serra alcançar 783.101 votos a mais do que Dilma Rousseff entre os eleitores paulistas.

De acordo com a edição desta terça-feira do jornal 
O Estado de S. Paulo, Lula ligou logo cedo na segunda-feira para Aloizio Mercadante, candidato derrotado ao governo de SP, perguntando quais seriam as estratégias no PT no estado neste segundo turno.

Mercadante ficou encarregado de ser o interlocutor de Dilma com partidos que estão fora do arco de aliança petista no estado. "Vamos conversar com as principais lideranças do PV, de São Paulo e do Brasil inteiro, da bancada federal, estadual. Vamos dialogar com eles. Vou procurar conversar também com a Marina [Silva] pessoalmente, pela relação que tenho com ela", afirmou Mercadante. 

Caberá a Mercadante analisar o perfil dos 4.865.828 eleitores que votaram em Marina no domingo. Alguns dirigentes petistas creem que, ainda que ela declare apoio a Serra, seus eleitores se identificariam mais com uma candidatura de centro-esquerda, o que favoreceria Dilma. Mercadante vai conversar também com os demais candidatos derrotados por Alckmin - Fabio Feldmann (PV), Paulo Skaf (PSB) e Celso Russomanno (PP) - para tentar integrá-los à campanha de Dilma neste segundo turno.

Dilma aperta botão de emergência e convoca aliados

Politburo reunido: a partir da esquerda os governadores eleitos Omar Aziz (PMN-AM), Renato Casagrande (PSB-ES), Silval Barbosa (PMDB-MT) e Cid Gomes (PSB-CE), o candidato a vice Michel Temer, a candidata Dilma Rousseff, o o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e os governadores Eduardo Campos (PSB-PE), Jaques Wagner (PT-BA), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Marcelo Déda (PT-SE). Foto Fernando Bizerra/EFE

Um dia após o primeiro turno das eleições presidenciais, a campanha da candidata petista Dilma Rousseff apertou o botão de emergência e convocou para esta segunda-feira uma reunião com diversos governadores, senadores, deputados e lideranças do PT e partidos aliados.

A assessoria da ex-ministra convocou a imprensa para uma coletiva às 16h30 em um hotel luxuoso de Brasília, mas o que se viu foi um grande salão decorado com paineis de Lula ao lado de Dilma e a chegada de dezenas de políticos em quem os petistas apostam para garantir a vitória em 31 de outubro. Até o deputado federal Ciro Gomes (PSB), que ficou de fora da campanha de Dilma no primeiro turno, deu o ar da graça. O beija-mão lembrava um ato de campanha.

A coletiva deve acontecer com atraso, após a reunião da ex-ministra com todas essas lideranças. O governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), lamentou o “efeito negativo de 30 dias de muitas críticas contra a campanha”.

Para ele, é necessário convocar todos os aliados para garantir o sucesso no fim de outubro. “Vamos unir nossas tropas”, declarou. De acordo com o governador, os setores da classe média, intelectuais e profissionais liberais “adotaram uma postura mais conservadora, forçando o segundo turno”.

No entanto, Campos acredita que a candidatura de Marina Silva (PV) “é muito mais próxima do PT do que do PSDB” e, portanto, conta com o apoio da verde, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno – com 20% dos votos válidos – para a reta final. “A busca pelo apoio da Marina é importante, mas o mais importante é a busca pelo apoio do eleitor”.

Discórdia – Para o senador eleito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), a perda de votos entre religiosos foi decisiva para que Dilma não vencesse ainda no primeiro turno. Nas últimas semanas, as notícias de que a petista seria contra o aborto causaram repúdio em vários setores evangélicos o que, acredita o senador, prejudicou a petista. Para ele deve haver uma estratégia de campanha para resolver qualquer mal-entendido com os religiosos.

Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa de governo da campanha de Dilma, convocou as lideranças dos estados para o segundo turno. “Os estados terão que entrar com a mesma intensidade com que se esforçaram para eleger governadores e deputados. Se não fizéssemos esse evento de hoje, corríamos o risco de desmobilizar a militância”.

O governo conseguiu eleger 14 governadores no primeiro turno – entre petistas e aliados. Já o governador eleito do Ceará, Cid Gomes (PSB), afirmou que os eleitores achavam que Dilma “estava eleita e fizeram o voto da utopia”, em referência a Marina Silva. “Agora eles vão cair na real e votar em Dilma”, declarou.

Além deles, chegaram para a reunião o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), a senadora eleita por São Paulo, Marta Suplicy (PT), o governador eleito do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (PMDB), entre outros ministros, senadores e deputados. O núcleo da campanha, composto por José Eduardo Dutra, Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo, também marca presença no encontro.

A sangria parou?, por Valdo Cruz

Entre petistas e aliados, ninguém acredita numa surpresa no segundo turno. Todos demonstram um otimismo de que Dilma Rousseff será eleita presidente do Brasil em 31 de outubro. Chegam a dizer que o próprio tucano José Serra sabe que não tem chances na fase derradeira. Esse foi o sentimento que dominou o encontro entre o comando da campanha de Dilma e os governadores e senadores eleitos em Brasília.

Tudo bem, Dilma realmente é a favorita no segundo turno. Terminou o primeiro turno a três pontos de liquidar a fatura antecipadamente. Mas o resultado do último domingo recomenda uma certa cautela no mundo petista e serve de estímulo para os tucanos.

A candidata de Lula, por exemplo, registrou ao longo da semana passada uma tendência constante de queda. Esse movimento foi interrompido? A perda de votos seguirá nesse início de segundo turno? Respostas a esses questionamentos serão conhecidas quando forem divulgadas as primeiras pesquisas de intenção de voto. Aí poderemos ter uma melhor noção de quem está mais próximo de ser o próximo presidente do país.

O otimismo dos aliados do presidente Lula está baseado na crença de que uma boa parte dos votos perdidos voltará para o balaio da candidata Dilma. Seriam votos de eleitores que optaram por Marina Silva para dar um "susto" no governo na reta final do primeiro turno. Gente que estava decidida a votar em Dilma, mas mudou na última hora por conta de uma sensação de que o grupo de Lula estava arrogante demais.

Além disso, apostam que vão conseguir neutralizar a sangria de votos no eleitorado religioso. Primeiro, acreditam os marqueteiros da campanha, o efeito dessa campanha já deu o resultado que tinha de dar. A partir de agora, pode até se virar contra seus autores. Basta um programa de TV competente mostrando uma Dilma vítima de uma onda de boatos e um trabalho de bastidores envolvendo lideranças religiosas.

Mais uma vez, tudo bem. É bem possível que isso aconteça. Só que o candidato tucano José Serra mostrou, nos últimos dias, que está atento a esses movimentos. Deles se beneficiou para ir ao segundo turno e, com certeza, irá trabalhá-los mais intensamente para minar ainda mais a candidata petista. A conferir.

Queixas

Não bastasse ter de montar a estratégia de um segundo turno fora dos planos iniciais, o comando da campanha de Dilma terá de administrar a insatisfação do PMDB. A cúpula peemedebista andou reclamando que o PT se isolou, não ouviu os aliados e acabou cometendo erros que custaram a vitória no primeiro turno. O principal deles foi não domar seus radicais, dando combustível para a onda de boatos contra a candidata petista.

Ou seja, a pressão dos peemedebistas já vai começar antes mesmo de uma eventual eleição de Dilma para Presidência. Sinal de que a relação entre os dois maiores partidos da aliança não será nada fácil num futuro governo dilmista.

Críticas

Um governador petista diz que o comando da campanha de Dilma errou feio ao apostar tudo numa vitória no primeiro turno. Com isso, o que poderia estar sendo comemorado como um bom resultado, acabou tendo gosto de derrota.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Folha de S. Paulo

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário