Tesouro compra mais dólares na tentativa de segurar alta do real
O CMN (Conselho Monetário Nacional) autorizou o Tesouro Nacional a comprar mais dólares no mercado à vista, ajudando a segurar a valorização do real, vista com excessiva pelo governo. A decisão foi tomada em reunião extraordinária ontem.
Em resolução publicada nesta quarta-feira no "Diário Oficial da União", o Banco Central afirma que o Tesouro poderá comprar, a partir de agora, recursos externos para dar cabo de todos os pagamentos previstos para a dívida externa no prazo de 1500 dias (4 anos). Antes, o prazo era de 750 dias (2 anos).
O Tesouro tem poder para adquirir antecipadamente o montante em moeda estrangeira necessário para pagar os vencimentos previstas como forma de evitar a volatilidade inerente ao mercado cambial, e, assim, escapar à necessidade de adquirir divisas em momentos de turbulência, quando o custo é maior. Ao longo de 2009, o Tesouro adquiriu cerca de US$ 5,6 bilhões, quantia essa suficiente para pagar cerca de 73% de toda a dívida externa a vencer em 2010.
De acordo com números do Tesouro, os títulos da dívida pública externa a vencer nos próximos dois anos (24 meses) somavam R$ 17,45 ao final de agosto, contra R$ 30,48 bilhões dos títulos com prazo de até 48 meses. Assim, o Tesouro ganha poder de compra de cerca de R$ 13 bilhões (US$ 7,76 bilhões) para ajudar a conter a queda da moeda norte-americana no mercado brasileiro.
A medida se une ao aumento da alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), de 2% para 4% em operações de estrangeiros no mercado de renda fixa brasileiro. O aumento não se aplica ao capital estrangeiro em Bolsa de Valores (que segue em 2%), aos investimentos de brasileiros em renda fixa (não tributados com IOF) e aos investimentos estrangeiros diretos.
A expectativa do governo era que, encerrada a capitalização da Petrobras, o movimento de valorização do real reduziria o fôlego. Contudo, não foi o que ocorreu.
Segundo o Banco Central, de janeiro a agosto deste ano, os investimentos em renda fixa no país já somam US$ 12 bilhões. No mesmo período do ano passado, esse valor estava em US$ 3,4 bilhões.
Economias emergentes, como o Brasil, vêm observando entrada de capital externo devido à boa avaliação, às perspectivas de crescimento e às taxas de juros elevadas.
Movimento semelhante ocorreu no início de 2008, quando o governo tributou em 1,5% os recursos estrangeiros para aplicação em títulos e ações. Depois, a alíquota caiu e voltou a subir no ano passado para 2%.
Ontem, o dólar caiu 1%, e fechou a R$ 1,675 --a menor cotação em 25 meses.
MAIS INSTRUMENTOS
Os investidores nacionais e estrangeiros, porém, desafiam o governo a utilizar as outras armas de que disporia para segurar a apreciação do real.
Além do IOF, o mercado aguarda com curiosidade a possível atuação do Fundo Soberano do Brasil. Apesar da autorização formal do conselho gestor do fundo, há dúvidas se o regimento interno permite esse tipo de atuação. Também são desconhecidos detalhes operacionais de eventuais comunicados, volumes e horários das atuações.
Operadores de câmbio também cogitam a volta da atuação do BC por meio de derivativos como o "swap cambial reverso", instrumento que equivale à compra de dólar futuro e cria demanda pela moeda americana, elevando as cotações.
O instrumento costuma ser utilizado quando o BC nota uma "especulação" com as taxas futuras.
O BC chegou a sondar os bancos em agosto para medir a demanda pelo instrumento. Acabou desistindo por entender que não havia uma "bolha de expectativa" infundada no câmbio.
Entrada de dólares no país e compras do BC batem recorde em setembro
No mês passado, o fluxo de dólares ficou positivo em US$ 16,7 bilhões. O recorde anterior foi registrado em outubro de 2009, quando entraram US$ 13,1 bilhões em operações financeiras. Na época, o resultado foi influenciado pela oferta de ações do Santander Brasil.
Se forem consideradas as operações comercias (exportações e importações), negativas em US$ 3 bilhões, a entrada de recursos no país fica em US$ 13,7 bilhões em setembro, maior valor em 11 meses.
Para evitar uma queda ainda maior na cotação do dólar, o BC comprou no mês passado US$ 10,8 bilhões, valor também recorde. Com essas compras, as reservas internacionais já estão próximas do patamar recorde de US$ 280 bilhões.
O aumento nas compras de dólares é uma das estratégias do governo para tentar evitar que o preço de venda da moeda fique abaixo de R$ 1,60. Nesta semana também foi anunciado o aumento na taxação dos investimentos estrangeiros em títulos públicos.
No acumulado do ano, já entraram no país US$ 18 bilhões. As compras do BC são quase o dobro desse valor e somam US$ 29,3 bilhões.
Os bancos terminaram o mês com uma posição "vendida" de US$ 12,4 bilhões.
Mercado desafia governo a usar outras armas para conter valorização do real
Na queda de braço do câmbio brasileiro, os investidores nacionais e estrangeiros desafiam o governo a utilizar as outras armas de que disporia para segurar a apreciação do real.
Além do IOF, o mercado aguarda com curiosidade a possível atuação do Fundo Soberano do Brasil. Apesar da autorização formal do conselho gestor do fundo, há dúvidas se o regimento interno permite esse tipo de atuação. Também são desconhecidos detalhes operacionais de eventuais comunicados, volumes e horários das atuações.
Operadores de câmbio também cogitam a volta da atuação do BC por meio de derivativos como o "swap cambial reverso", instrumento que equivale à compra de dólar futuro e cria demanda pela moeda americana, elevando as cotações.
O instrumento costuma ser utilizado quando o BC nota uma "especulação" com as taxas futuras.
O BC chegou a sondar os bancos em agosto para medir a demanda pelo instrumento. Acabou desistindo por entender que não havia uma "bolha de expectativa" infundada no câmbio.
A moeda caía por conta da possível entrada de US$ 20 bilhões com a oferta de ações da Petrobras.
Na avaliação de Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO, o problema no câmbio brasileiro se deve às apostas dos investidores no mercado futuro.
No entanto, ele acredita que, se o BC voltar a vender o "swap cambial reverso", só vai dar mais munição para os investidores apostarem ainda mais na desvalorização do dólar. "O governo não tem o que fazer."
Telmo Heinen Formosa - GO
Corretora diz que o Governo não tem o que fazer... Nossa saida é "reduzir" o Superavit da Balança Comercial! Leia trecho: Na avaliação de Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO, o problema no câmbio brasileiro se deve às apostas dos investidores no mercado futuro. No entanto, ele acredita que, se o BC voltar a vender o "swap cambial reverso", só vai dar mais munição para os investidores apostarem ainda mais na desvalorização do dólar. "O governo não tem o que fazer." Quarentena, esta é a solução. Temos que fazer uma regra que estabeleça tempo minimo de permanencia do capital estrangeiro em nosso país. Pronto!