Serra propõe debate livre na Band
A direção da Band recebeu ontem uma proposta ousada de Luiz Gonzalez, o marqueteiro de José Serra, para o debate de domingo: um formato em que Dilma Rousseff e Serra teriam cada um dois minutos para falar alternadamente.
A Band poderia, neste formato sugerido por Gonzalez, propor temas para cada bloco mas, novamente, Dilma e Serra teriam dois minutos cada um alternadamente para tratar deles.
Amanhã, representantes do PT e do PSDB se reunirão na Band para fechar o formato do debate. Se o PT topar, será um verdadeiro debate, o que até agora não aconteceu. Mas é difícil imaginar que isso aconteça.
A senadora Marina Silva, do PV, afirmou em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira em São Paulo que o partido já iniciou a elaboração de uma lista de propostas para ser apresentada aos candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). O documento será concluído na noite desta quinta pela cúpula do PV e entregue às duas campanhas na sexta. A adesão ou não às ideias por parte dos candidatos deve pautar a decisão do partido
sobre o apoio a um dos dois.
Ma
rina, mais uma vez, evitou dizer de que lado planeja ficar. “Não tenho a pretensão de ter a tutela do voto do eleitor. Vamos tomar uma posição, o que não significa apoio a um ou a outro.”
Ela fez um apelo aos membros do PV em nome do “amadurecimento político”, para que não manifestem apoio a qualquer candidato antes da decisão do partido na convenção do dia 17. “Não devemos nos perder no varejo dessa discussão nem nos ligarmos à velha política, de ficar negociando cargos. Estamos propondo uma discussão programática.”
Apesar de não terem oferecido cargos publicamente a Marina ou a aliados dela, tanto o PT como o PSDB já sinalizaram que pretendem aderir a algumas das propostas apresentadas pela verde durante a campanha, de olho em seus quase 20 milhões de votos. A senadora mostrou-se incomodada com a atitude. “Vamos ver como esse debate vai ocorrer. Não basta algo declaratório. Também não temos a intenção de que nossa plataforma será totalmente transformada no plano de governo de outros candidatos.”
Após a coletiva, Marina concedeu entrevista ao vivo por telefone à Rádio Bandnews. Questionada se a ligação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pesaria na hora de decidir a quem apoiar, Marina desconversou. “As pessoas que nós amamos e respeitamos, continuaremos a amar e respeitar para sempre. O bom da amizade é que é algo que você pode exercitar até unilateralmente se quiser.”
Serra tece elogios a governo FHC e ataca Lula e Dilma
Ao lado de seus aliados políticos, o presidenciável José Serra (PSDB) discursou em Brasília na medida exata esperada pelos correligionários. As palavras do candidato foram as mesmas de tucanos e democratas antes do início do evento, que reuniu tanto eleitos, quanto não eleitos.
Serra elogiou com veemência o governo de Fernando Henrique Cardoso, em especial o Plano Real. Segundo ele, a moeda “acabou com uma nuvem de poeira que sufocava nosso país. A gente sabe que com inflação quem sofre são os pobres”. Mais cedo, o senador eleito Aécio Neves e o presidente do DEM, Rodrigo Maia, haviam defendido a retomada de FHC nos discursos do presidenciável. Apesar de ser figura central no encontro, o ex-presidente não apareceu.
José Serra não poupou críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à sua adversária, Dilma Rousseff (PT). Rebateu as declarações da petista contra as privatizações e disse que o governo Lula tem feito o mesmo em relação aos bancos. “Não conheço nada mais conservador e neoliberal do que a atual política econômica”, afirmou. Serra defendeu a aprovação de uma lei no Congresso Nacional que limite a participação de chefes do executivo nas campanhas.
O tucano consolou aliados políticos, como o senador Tasso Jereissati, que não conseguiu se eleger no Ceará. Para Serra, o responsável pela perda política do colega foi o presidente Lula que, segundo ele, massacrou Jereissati. A referência também era ao discurso do presidente em um comício, dizendo que desejava extirpar a oposição. “Nunca tratei, não trato e não vou tratar oposição como inimigo da pátria”, disse Serra.
O presidenciável disse ainda que a grande maioria do PT tem duas caras e que o partido possui “uma indústria de mentiras trabalhando”. “Nunca ninguém ouviu falar de uma sujeirinha contra mim”, concluiu. Serra também defendeu a liberdade de imprensa, sem opressão.
Aborto - Na tentativa de atacar sua adversária, Serra acabou cometendo um deslize ao falar de aborto. Trocou as palavras e afirmou ser favorável à medida: “Eu nunca disse que sou contra o aborto, sou a favor”. Com a reação assustada da plateia, o candidato se corrigiu e criticou a postura dúbia de Dilma Rousseff. “Errado é querer enrolar, diz uma coisa e depois diz o contrário. Essa decepção comigo não ocorrerá”, consertou.
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, foi no mesmo tom: “A Dilma tem que se explicar. É preciso assumir a verdade se é ou não contra o aborto. Mas de uma
maneira convincente, não isso que nós estamos vendo”.