Joel Silva/Folha
Em tempos de eleição, a religiosidade aflora. É quando se descobre que a política está infestada de ateus.
Por sorte, é muito fácil identificar os heréticos. Estão todos nas coligações adversárias.
Nesta segunda (11), Dilma Rousseff foi ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Aparecida (SP).
Participou da missa das 9h. Percorreu o santuário. Foi ao recanto onde se encontra a imagem da santa padroeira do Brasil.
Depois, em entrevista, justificou o tom azedo que utilizara na noite da véspera, no debate com o antogonista José Serra.
"Esperavam o quê? Que eu não defendesse as minhas posições? Que eu não apresentasse as minhas propostas?...”
“...Que eu não criticasse a visão estratégica dele? Mas o debate é para isso".
Explicou as razões que a levaram a inquirir Serra sobre a tática do boato:
"Eu sempre me recusei a baixar o nível do debate. Passei quase três meses sendo acusada da quebra de sigilo fiscal...”
“...E hoje está claro que quem quebrou o sigilo fiscal foi um esquema mercantilista e corrupto dentro da Fazenda por razões não eleitorais e não políticas..."
"...Eu passei muito tempo calada sobre essas acusações, o tamanho que tinha tomado essa central organizada de boatos...”
“...Eu resolvi tornar isso algo público e compartilhar. Eu não fui na internet e não disse na forma de boato".
Durante a missa, Dilma absteve-se de comungar. Por quê? "Eu prefiro ter essa manifestação –até pode ser uma questão minha— mais recatada".
Questionada sobre sua devoção religiosa, a candidata abespinhou-se:
"Acho que ninguém tem o direito de dizer qual é a minha crença, quem pode julgar sobre crenças e religiões é Deus".
Insinuou que o câncer a aproximou do Padre Eterno: "Eu tive um processo recente e este processo me fez retomar várias coisas que estavam já dentro de mim...”
“...Essas questões dizem respeito a mim e eu não autorizo, não legitimo ninguém a julgar minha crença. Acho que isso é o cúmulo do preconceito".
Na semana passada, Dilma já havia levado sua candidatura para passear num templo religioso, no Rio.
Parece ter dificuldade para virar a página que escreve a crônica da sucessão de 2010 com caligrafia beata.
O diabo é que o histórico da ex-Dilma desautoriza a pose de vítima da candidata.
Em matéria de religiosidade, a pupila de Lula vem se revelando uma ginasta sem futuro.
Em 2007, durante sabatina na Folha, perguntou-se à então chefe da Casa Civil se acreditava em Deus.
E Dilma: "Eu me equilibro nesta questão. Será que há? Será que não há?"
Em 2009, numa entrevista à revista "Marie Claire", Dilma declarou que não praticava religião nenhuma.
Permitiu-se brincar: "Balançou o avião, a gente faz uma rezinha".
Em fevererio de 2010, já na pele de pré-candidata, Dilma foi inquirida pela “Época”: Uma religião específica, a senhora não tem?
Soou peremptória: "Não, mas respeito".
Decorridos três meses, em maio, já convertida em candidata, Dilma falou à “IstoÉ”. Perguntou-se se era católica.
Dilma deu um salto mortal: “Sou, antes de tudo, cristã. Num segundo momento, católica".
Nesta segunda-feira, a candidata escora a “conversão” no câncer. Agora, é católica de frequentar a missa. Mas não comunga.
O melhor que Dilma tem a fazer é dar um triplo mortal carpado em direção a outro tema.
Primeiro porque a agenda carola não a socorre. Segundo porque o evangelho de uma pessoa que se dispõe a presidir o país deveria ser outro.
Datafolha: a petista soma agora 54% dos votos válidos
Está 8 pontos à frente do adversário tucano, com 46%
Em relação à apuração do TSE, Dilma cresceu 7 pontos
Cotejado com a votação oficial, Serra cresceu 13 pontos
Felipe Dana/AP
Saiu o primeiro Datafolha do segundo turno. Indica que, na virada da primeira para a segunda fase da disputa, José Serra conquistou mais votos do que Dilma.
Segundo a pesquisa, Dilma dispõe agora de 54% dos votos válidos (a conta exclui os brancos, nulos e indecisos). Serra amealha 46% das intenções de voto.
Tomados pelos dados oficiais da Justiça eleitoral, Dilma emergiu das urnas do primeiro turno com 46,9% dos votos válidos, contra 32,6% de Serra.
Cotejando-se os votos da primeira fase com as intenções de voto da segunda, Dilma registra crescimento de 7,1 pontos percentuais.
Quanto a Serra, avançou na pesquisa 13,4 pontos em relação ao percentual de votos que extraiu das urnas recém-abertas.
Dito de outro modo: considerando-se o tamanho que exibiam depois da contagem das urnas, os dois candidatos cresceram. Porém...
Porém, Serra cresceu 6,3 pontos a mais que Dilma. Por quê? A principal explicação parece vir do espólio de Marina Silva.
A candidata verde amealhou no primeiro turno 19,3% dos votos válidos. Coisa de 19,6 milhões de votos.
Pois bem. Segundo o Datafolha, Serra tornou-se o principal herdeiro dos despojos eleitorais de Marina.
Nada menos que 51% dos eleitores de Marina declaram agora que votarão em Serra. Apenas 22% dizem preferir Dilma.
Nesse universo de eleitores de Marina notáveis 18% migraram para a coluna dos indecisos. Sinal de que uma palavra da candidata pode ter algum peso.
É grande o percentual de eleitores de Marina que migrouaram para a coluna dos indecisos: 18%.
Na conta que inclui a totalidade dos eleitores, Dilma prevalece sobre Serra nesse Datafolha por 48% a 41%. Diferença de sete pontos.
Em pesquisa divulgada na véspera do primeiro turno, o Datafolha esboçara o cenário do segundo turno.
Nessa sondagem, Dilma aparecia com 52%. Serra beliscava 40%. Comparando-se com a pesquisa atual, Dilma recuou quatro pontos.
Serra oscilou um ponto para cima. A margem de erro das duas pesquisas é de dois pontos percentuiais, para mais ou para menos.
No confronto direto entre os dois candidatos, cada voto perdido por um dos postulantes é acrescido ao cesto do rival.
Significa dizer que, para alcançar Dilma, Serra precisa “roubar” dela algo como quatro pontos percentuais. Difícil, mas não impossível.
É preciso saber agora se o crescimento de Serra é uma tendência ou mera acomodação do eleitorado.