Tigre de papel, por MARCO ANTONIO VILLA (e Painel)

Publicado em 13/10/2010 08:46
Dilma está na encruzilhada; a popularidade de Lula já foi transferida, e agora o embate será de biografias

O PT NÃO gosta de ser atacado.
Na verdade, hostiliza quem o ataca. Tem enorme dificuldade de conviver com a crítica. Imagina ser o proprietário de um pensamento único, algo como o velho centralismo democrático leninista. Quem for contrário deve se calar. Seus dirigentes acabaram se acostumando com uma oposição pouco atuante. Que passou os últimos oito anos quase que em silêncio, temendo o debate, acreditando piamente nos índices de popularidade do presidente.
No início da campanha eleitoral o quadro se manteve inalterado. Lula foi desferindo na oposição golpes e mais golpes. Não encontrou respostas à altura. Dedicando-se plenamente à campanha -que é o que efetivamente gosta- fez política 24 horas por dia. Transformou o Palácio da Alvorada no comitê central da candidatura Dilma. Não temeu alguma reprimenda do TSE, pois sabe com quem está lidando. Abandonou a rotina administrativa e concentrou-se na campanha. Desferiu ataques aos adversários como se fosse um líder partidário e não um chefe de Estado.
A oposição assistiu a tudo sem saber bem o que fazer. Temia enfrentar o rolo compressor do PT.
Quando, finalmente, resolveu partir para o embate, viu que o adversário era um tigre de papel. O eleitorado estava aguardando alguma reação. E o resultado de 3 de outubro não deixou dúvida: a maioria estava com a oposição, claro que em um universo dos mais diferentes matizes.
A derrota do primeiro turno transtornou os dirigentes do oficialismo. Consideravam a eleição ganha. Tinham até preparado a festa da vitória. Imputaram a culpa à oposição, que tinha denunciado escândalos, e mostrado as vacilações e contradições da candidata oficial. Era o mínimo que a oposição poderia fazer, mas para o PT foi considerado algo intolerável.
Agora chegamos à etapa final da campanha. Dilma jogou fora o figurino utilizado nos últimos meses. No debate da Band assumiu uma postura agressiva e que deve manter até o dia 31. A empáfia foi substituída pelas ameaças. O arsenal foi acrescido de armas já usadas em 2006, como a privatização. Sinal de desespero, pois o cenário é distinto e os personagens também. E deve fracassar.
Dilma está numa encruzilhada. A popularidade de Lula já foi transferida. Seus principais aliados regionais foram eleitos e dificilmente farão sua campanha com o mesmo empenho do primeiro turno. O PMDB não assimilou as derrotas do Rio Grande do Sul, da Bahia e, principalmente, de Minas Gerais. E, numa eleição solteira, o embate será de biografias.


MARCO ANTONIO VILLA é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

Painel, por RENATA LO PRETE

Oremos

Embora tenha considerado bem sucedida a visita de Dilma Rousseff, anteontem, ao santuário de Aparecida, a coordenação da campanha presidencial petista avalia que o atrito com a Igreja Católica a propósito do assunto aborto ainda não está superado, demandando novas providências até 31 de outubro. A dificuldade, no entender de aliados, é que na vanguarda da resistência a Dilma estão alguns padres "com mídia", notadamente da Canção Nova.
Como parte do esforço diplomático, a candidata deverá se encontrar, na semana que vem, com o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta.



Pé no freio A vantagem relativamente estreita de Dilma sobre Serra no primeiro Datafolha do segundo turno contribuiu para congelar as negociações em torno de um apoio formal do PP à petista. 

Expedição Para aplainar o caminho de Dilma, os peemedebistas Michel Temer e Moreira Franco desembarcam sexta em Minas para conversa com o correligionário Hélio Costa, magoado após a derrota local. Na próxima semana, a dupla irá a Porto Alegre com a missão de engajar prefeitos do partido. 

Roupa de missa Rodeado por gente vestida com trajes informais e majoritariamente de vermelho, Temer, de blazer preto sobre camisa branca, destoava no palanque de Lula e Dilma anteontem em Ceilândia (DF). Na plateia, alguém brincou: "O vice veio de padre". 

Mix Fala de Temer na propaganda de TV: "O PMDB foi o partido da redemocratização. E Lula é o defensor da justiça social. A síntese da união entre Lula e PMDB é a candidatura Dilma". 

Prazo de validade As privatizações, tema predileto da campanha de Dilma, não mereceram nenhuma ênfase na versão do plano de governo entregue anteontem à candidata. O documento deve ser divulgado em breve.

Termômetro Relatório distribuído por analistas do Bank of America Merrill Lynch diz que o desempenho de Serra nas pesquisas mais recentes surpreendeu investidores presentes a uma conferência dias atrás em Washington. "Embora continuem a ver Dilma como favorita para vencer, eles acreditam que o risco de virada aumentou", registra o texto. 

Fogo amigo Agora martelado por Dilma, o caso de Paulo Preto, ex-diretor da Dersa envolvido em suspeita de formação de caixa dois para campanhas eleitorais, chegou ao noticiário na esteira de uma disputa interna do PSDB que teve como um dos personagens o vice-presidente Eduardo Jorge. 

Já pra oca! Depois que Dilma citou Indio da Costa (DEM-RJ) no debate como propagador de "calúnias, mentiras e difamações", o comando da campanha de Serra fez chegar ao vice um sinal para se recolher. 

Sempre... Geraldo Alckmin, que na campanha manifestou intenção de enxugar o número de secretarias do governo paulista, enfrentará demanda para acolher tucanos derrotados nas urnas, como Vanderlei Macris, Arnaldo Madeira, Silvio Torres, Antonio Carlos Pannunzio, Renato Amary, Walter Feldmann e Ricardo Montoro. 

...cabe mais um Nem todos, porém, irão para a administração. O mais provável é que Alckmin nomeie deputados eleitos de sua confiança, como Edson Aparecido, Emanuel Fernandes, Duarte Nogueira e Julio Semeghini, abrindo espaço para outros nomes do PSDB na Câmara. 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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