O clima está nervoso, por ELIANE CANTANHÊDE

Publicado em 15/10/2010 08:37 e atualizado em 15/10/2010 09:51

 A CNT-Sensus, com uma diferença de apenas quatro pontos entre Dilma Rousseff e José Serra, está causando o maior frisson. Na campanha petista, o clima é de ansiedade. Na tucana, quase de "já ganhou". É aí que mora o perigo para os dois lados.
A campanha de Dilma amanheceu no dia 4 atordoada e vem dando passos erráticos, enquanto a candidata expõe dois personagens conflitantes: o seu eu "assertivo" e o seu eu carola, rezando de manhã com católicos, de tarde com evangélicos, de noite com espíritas. Nunca rezou tanto na vida.
Já a campanha de Serra ressurgiu das cinzas e acha que qualquer pontinho a mais é sinal de vitória na certa. Os programas eleitorais estão mais alegres e confiantes, mas falta combinar o tom com o "adversário": o próprio Serra, que não pode ver um jornalista pela frente, seja de rádio, jornal ou TV, que já parte para o bate-boca. É o seu arraigado lado Ciro Gomes.
Quando não têm como se defender, a religiosa Dilma e o ciclotímico Serra recorrem ao expediente de Lula, que, sempre que é pego de jeito (com mensalão, aloprados, Erenice), se faz de vítima e tasca a história do preconceito das elites.
Dilma diz que é vítima de calúnias do adversário e da imprensa, quando deveria tomar satisfação de Erenice Guerra e de ministros que decidem jogar no lixo o plano de Marina Silva para a Amazônia justamente quando ela mais precisa dos votos da ex-ministra e do PV.
E Serra acusa a imprensa de reproduzir a "pauta petista" quando repórteres lhe perguntam sobre o tal "Paulo Preto" (que, segundo Dilma, fugiu com R$ 4 milhões da campanha do PSDB). Se não tem resposta, é problema dele, não da imprensa, não dos jornalistas.
Dilma em queda, Serra em alta e o resultado indefinido a duas semanas das urnas, o clima é de que a qualquer hora estoura um novo escândalo, real ou não. Ainda mais com a internet livre, leve e solta.

À tripa-forra, por Dora Kramer

A convicção tem suas vantagens, mas quando excessiva pode virar obsessão, levar a erros cruciais e se transformar em enorme desvantagem ao impedir o convicto, ou obcecado, de enxergar as variantes da realidade.

Foi mais ou menos o que aconteceu com o presidente Luiz Inácio da Silva, com o PT, o governo, o comando da campanha e com a candidata Dilma Rousseff na primeira etapa da eleição presidencial: não olharam para os lados, não consideraram uma segunda hipótese, apostaram tudo no vermelho 3 (de outubro).

Lula diz as coisas mais estapafúrdias e quase todo mundo acredita; natural, portanto, que quase todo mundo tenha acreditado quando ele deu por ganha a eleição em primeiro turno baseado nas pesquisas de intenções de voto e no próprio voluntarismo.

Tão certos estavam da vitória que não se prepararam minimamente para a hipótese do segundo turno. Surpreendidos, gastaram todos os recursos (públicos e privados) de uma vez só e deixaram a frustração transparecer no abatimento de quem terminou a primeira etapa com mais de 13 pontos na frente, o equivalente a cerca de 14 milhões de votos.

Pois agora com a situação beirando o empate - a estarem corretas as pesquisas - é que a candidatura governista precisaria de toda força: presença constante do presidente da República, apoios políticos esfuziantes, candidata serena administrando a vantagem de escolhida pelo presidente mais popular da história do Brasil, uma profusão de boas notícias.

No lugar disso, o que se tem?

Políticos contrariados com deslealdades do PT, petistas aborrecidos porque foram preteridos em favor de aliados, candidata de garras postas, fatos negativos e, pior de tudo, o encolhimento de Lula, criticado publicamente por seus aliados por ter exagerado na soberba na primeira etapa.

Não foi o único, e dos prudentes de última hora não se ouviu uma só palavra de reparo ao estilo presidencial apesar da quantidade de análises e alertas diários sobre as exacerbações de Lula. Quando se acreditava que iria dar certo, era aplaudido, temido, celebrado. Quando se viu que não deu, foi condenado.

E agora? Agora o PT se vê obrigado a improvisar diante da necessidade de consertar os excessos e a "economizar" aquele que é seu principal trunfo e razão única de Dilma ter tido 47 milhões de votos: o presidente Lula.

Talvez ele esteja sendo guardado para a reta finalíssima, mas se a curva se inverter nesse meio tempo será necessário recorrer aos préstimos do criador, já que a criatura sozinha não dá conta do recado.

Há um dilema no PT quanto a isso: usar Lula pode ser um risco por conta de todos os abusos da etapa inicial, mas não usá-lo, ou "economizá-lo" em excesso pode custar a eleição.

Ainda o seguinte aspecto: tivesse a história se resolvido no dia 3 Lula seria o autor de uma vitória espetacular; passando para o segundo turno será sócio fundador de um sucesso relativo ou de uma derrota inesperada.

Vaivém. Recapitulando as mudanças que o PT precisou improvisar para tentar segurar o eleitor: mudou o programa de governo; mudou o Plano Amazônia Sustentável, que fez Marina Silva deixar o Ministério do Meio Ambiente.

Mudou a posição de Dilma sobre a descriminalização do aborto; mudou a face macia da candidata; mudou o prazo para a conclusão do inquérito de Erenice Guerra, mudou a data da parada gay no Rio, para depois da eleição.

Se eleita, de início Dilma precisará responder pelo passivo.

Pé na tábua. Até hoje há quem atribua a derrota de Fernando Henrique Cardoso para Jânio Quadros na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 1985, à hesitação dele durante um debate para responder se acreditava ou não em Deus.

Este lembrete fala sobre falta de clareza de posições, não de religião. 

Em crise, campanha de Dilma vive seu pior momento (Josias de Souza)

  Danilo Verpa/Folha
A duas semanas da eleição, o QG de Dilma Rousseff atravessa seu pior momento.

 

A sintonia que permeava as relações de Lula com o comando da campanha trincou.

As críticas ao estilo centralizador dos operadores do QG espraiaram-se pela coligação.

 

A submissão da candidata à agenda religiosa deixou indignado um pedaço do PT.

Fraturas expostas debilitam a campanha em praças tão estratégicas como Minas.

 

Tudo isso contra um pano de fundo ornado por pesquisas internas inquietantes.

Detectou-se avanço do rival José Serra nos maiores bolsões de votos do Sudeste.

 

As sondagens indicam que Serra avança em São Paulo, em Minas e no Rio.

Nos dois primeiros Estados, atribui-se o fenômeno ao embalo do primeiro turno.

 

Serra seria beneficiário do êxito de Geraldo Alckmin e do grupo de Aécio Neves.

No Rio, o tucano estaria herdando nacos expressivos do eleitorado de Marina Silva.

 

Teme-se, de resto, que a abstenção sugue parte dos votos de Dilma no Nordeste.

Em privado, Lula critica o marqueteiro João Santana, que antes endeusava.

 

Diz que a propaganda televisiva padece de ausência de “povo” e falta de “emoção”.

Nos subterrâneos, atribui-se o formato atual da publicidade –prenhe de comparações entre a era tucana e a fase petista— mais a Lula que a Santana.

Viria do presidente a inspiração para o reforço do tom “plebiscitário”, com especial ênfase às privatizações feitas sob FHC.

Teria partido de Lula a ordem para levar o vice-presidente José Alencar ao vídeo. Uma forma de atenuar a desestruturação da campanha de Dilma em Minas.

Ali, o PT se rói em desavenças entre as alas de Fernando Pimentel e Patrus Ananias. E o PMDB de Hélio Costa, esmagado por Aécio, já não quebra lanças por Dilma.

Na prátrica, a campanha de Dilma demora-se em sacudir a poeira do primeiro turno. Lula não frequenta a cena apenas no papel de crítico. É criticado.

Atacam-no pelas costas. Atribui-se ao cabo eleitoral de Dilma parte da culpa pelos problemas que levaram a eleição ao segundo turno.

Afora o ‘Erenicegate’ e a sublevação das igrejas, a escalada retórica de Lula contra a mídia teria feito o eleitor de classe média a olhar de esguelha para Dilma.

Numa tentativa de reverter o quadro, planeja-se tonificar a campanha no Sudeste.

Nesta sexta (16), Dilma realiza comício em São Miguel Paulista, bairro de São Paulo. No sábado (17), deve desfilar em carreata pelas ruas de Belo Horizonte.

Pelo PT, José Eduardo Dutra e Alexandre Padilha rearticulam os prefeitos mineiros. Pelo PMDB, o vice de Dilma, Michel Temer, tenta reenergizar o seu partido.

Dutra e Padilha passaram por Belo Horizonte nesta quinta (14). Temer desembarca na cidade nesta sexta (15).

Lula avocou para si a tarefa dee soldar a votação de Dilma no Nordeste, um pedaço do mapa em que sua popularidade é maior do que a média nacional.

Contra a abstenção, planeja-se injetar na propaganda de rádio e TV mensagens dirigidas ao eleitor de baixa renda e de escolaridade exígua.

Para desassossego do petismo, também o comando da campanha de Serra deliberou centrar esforços no Sudeste, em especial São Paulo, Minas e Rio.

Nesta quinta, Aécio Neves produziu a primeira evidência de que decidiu derramar suor por Serra. Reuniu em torno do candidato, em Belo Horizonte, 300 prefeitos.

Na quarta-feira (20) da semana que vem, o tucanato fará evento semelhante no Rio.

Noutra praça convertida em prioridade tucana, o Rio Grande do Sul, o PMDB de Temer aderiu, em sua maioria, a Serra.

Pela primeira vez desde o início oficial da campanha, há quatro meses, Lula e os operadores de Dilma parecem realmente preocupados com o adversário.

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Fonte:
Folha de S. Paulo/Estadão

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1 comentário

  • ABRASGRÃOS - Assoc. Brasileira de Produtores de Grãos Formosa - GO

    "Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso." {General Olimpio Mourão Filho em "A Verdade de um Revolucionário de 1978"} Eu não me importo com a vitória da Dilma. Assim se confirmará a minha tese de que 96% dos brasileiros são TOLOS.

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