Quente e frio, por ELIANE CANTANHÊDE

Publicado em 17/10/2010 15:10

O Datafolha registrando estabilidade foi um banho de água fria nos tucanos e esquentou os ânimos dos petistas para prosseguir na linha da agressividade.
Há uma pesquisa e dois resultados. Um é que a arriscada tática de bater conseguiu estancar a queda de Dilma. O outro: apesar de todos os seus excessos, Lula continua quebrando recordes de popularidade. Dilma sabe muito bem o que fazer com esses dois sinalizadores. Mas Serra pode fazer o quê?
A estratégia petista será mais e mais de pancada em Serra, no PSDB e em FHC, acusando os adversários de calúnia e de difamação contra Dilma, como se Erenice fosse um mero factoide e a candidata não tivesse mudado de opinião sobre aborto ao sabor das pesquisas.
E ninguém segura Lula. É mais marqueteiro do que o marqueteiro, mais coordenador que os coordenadores, mais candidato que a candidata. Se bobear, demite a maquiadora e cuida ele mesmo do batom da pupila, enquanto se esgoela nos palanques acusando adversários e imprensa de "caluniadores" quando a verdade dói.
A vantagem de Dilma se cristaliza, e os espaços de Serra para crescer se esgotam. Ela mira os artistas, que faziam a festa dos petistas e foram minguando ao longo de mensalões, aloprados e Erenices.
Ele avançou nos votos verdes, em alas religiosas e nos centros urbanos. Agora atrai parte do PMDB e disputa apoios no PV, no PP e no PTB, aguçando o antipetismo ao condenar o aparelhamento e o jeitão do PT de governar "em família". Mas são poucos os outros caminhos a explorar. Cerca de 90% dos eleitores de Dilma dizem que não vão mudar, e os indecisos, por definição, tendem a se dividir.
No mais, o PT costuma ter menos votos e o PSDB mais votos do que as pesquisas indicam. Logo, uma diferença de seis pontos, faltando duas semanas para a eleição, não garante certezas. Dilma está mais aliviada, mas a guerra continua.


Um país pobre, por FERNANDO CANZIAN

 Lula foi o brasileiro que mais concorreu à Presidência. Foram três derrotas. Até 2002, quando mudou e venceu. Depois, se reelegeu em 2006. Pela primeira vez desde a redemocratização, e após cinco eleições, seria agora carta fora do baralho. Nem tanto.
O presidente mais popular do Brasil, com 81% de aprovação, segundo o Datafolha, transmite a uma neófita na política seu maior patrimônio neste 2010: a percepção entre o eleitorado de que Dilma é a mais preparada para defender os pobres. E o real.
Isso em um país pobre. Mas que vem crescendo forte, a despeito dos desequilíbrios. Com distribuição de renda, mais crédito e empregos formais. Segundo o Datafolha, 51% consideram Serra defensor dos ricos. E 61% o veem como o mais experiente para mandar no Brasil. Só 25% enxergam Dilma assim.
No entanto, é a petista quem está na frente: 54% a 46%, considerando os votos válidos. São os pobres que fazem a diferença. Não custa lembrar, em um país ainda repleto de pobres.
Em seus levantamentos, o Datafolha procura espelhar o Brasil real em milhares de questionários. Divide seus entrevistados em cotas semelhantes ao que há circulando de fato pelo país.
Assim, temos que 47% dos eleitores cursaram só o ensino fundamental. Uma parcela quase igual tem renda familiar mensal de até dois salários mínimos.
Isso equivale a R$ 1.020 (lembrando que a renda é familiar, não individual). O valor é inferior à mensalidade de uma boa escola privada paulistana. É entre esse eleitorado, quase majoritário, que Dilma (e a avaliação de Lula) "arrebentam".
A candidata tem a maioria (51%) das intenções de voto para o segundo turno entre os menos escolarizados e mais pobres. Serra, cerca de 37% nessas duas faixas do eleitorado. É isso o que explica, de um modo geral, a eleição em um país pobre. O resto ainda é espuma.


Fonte: Folha de S. Paulo

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