Déficit hídrico ameaça irrigação na Austrália

Publicado em 21/10/2010 06:49
A irrigação na Bacia Murray-Darling deveria ser cortada em até 37% para proteger o ambiente na região, que é propensa a secas e alberga quase metade das fazendas da Austrália, segundo relatório.

O governo deveria comprar de 3 mil a 4 mil gigalitros de água dos irrigadores e desviá-los de volta ao sistema de rios, o que reduziria a produção agrícola em 13% e custaria 800 empregos, segundo a Autoridade da Bacia Murray-Darling.

"O ambiente não teve [uma quantidade de] água significativa por décadas", destacou o informe. "A possibilidade real de falência ambiental agora ameaça a viabilidade econômica e social de longo prazo de muitos setores e a força econômica, social e cultural de muitas comunidades."

A Bacia Murray-Darling cobre quatro Estados australianos e uma área de 1,06 milhão de metros quadrados, equivalente a quase 1,5 vez ao Texas. Cerca de 93% dos alimentos frescos do país vêm da região, que produz exportações de gado e colheitas no valor de US$ 14,8 bilhões, segundo o governo.

Os agricultores ganham cotas de volumes determinados de água para irrigação. O plano de recompra da água pelo governo custaria até 4 bilhões de dólares australianos, pelos preços atuais, segundo a autoridade.

"A água é saúde para as comunidades da Bacia Murray-Darling e tirar tanta água destruiria dezenas de comunidades e setores", afirmou Danny O'Brien, executivo-chefe do Conselho Nacional de Irrigadores, em comunicado.

Com os desvios de água listados no plano, o valor da produção irrigada de algodão cairia 25% na bacia; o da agricultura conhecida na Austrália como "broadacre", que inclui culturas como o arroz e cereais, 30%; o da produção de laticínios, 10%; e o da horticultura, menos de 5%.

A Austrália está saindo de uma seca iniciada em 2002, que derrubou a produção de algodão e grãos. O setor agrícola do país representa 12% da economia, mais do que os 8% do setor de mineração, por exemplo, segundo números setoriais. Neste ano, índices pluviométricos acima da média podem elevar a produção de trigo para o terceiro melhor resultado na história, de acordo com previsões do governo.

A água é um problema para a primeira-ministra australiana, Julia Gillard, que teve de formar um governo de minoria com o apoio do Partido Verde e três legendas independentes de distritos rurais agrícolas, após as eleições de 21 de agosto terem apresentado o resultado mais equilibrado em 70 anos.

Para garantir apoio à agenda legislativa de seu governo, Gillard precisa satisfazer os independentes e os verdes, que querem mais água desviada para proteger o ambiente no continente habitado mais seco do mundo.

A Autoridade da Bacia Murray-Darling lançará seu plano no início de 2011, quando passará por um período de 15 semanas de consultas e sugestões. A proposta, então, será apresentada ao governo e ao Parlamento no fim de 2011 ou início de 2012. Os governos estaduais precisarão preparar novos planos de recursos aquíferos, que entrarão em vigor em todos os Estados a partir de 2019.

"A reforma da água neste país é uma maratona, não uma corrida a toda velocidade, e há longo caminho a percorrer até a linha de chegada", disse David Bone, gerente de comunicações da Cotton Australia Ltd., em entrevista por telefone, de Sydney. "Sempre apoiamos a reforma da água, desde que todos os impactos sociais sejam abordados de forma justa e apropriada."

Cerca de 90% da produção de algodão da Austrália sai da área da Bacia Murray-Darling, segundo o site da autoridade, sendo que a maior parte disso está em terras irrigadas. O país foi o quarto maior exportador mundial do produto no ano encerrado em 31 de julho, de acordo com o Departamento da Agricultura dos Estados Unidos.

"Precisamos promover um sistema que proteja as necessidades ambientais essenciais de nosso sistema de rios, juntamente com as atividades legítimas dos irrigadores de alto valor", afirmou o executivo-chefe da Federação de Vinicultores da Austrália, Stephen Strachan, em comunicado.

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Fonte:
Valor Econômico

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