“A cumplicidade interna com a corrupção sob pretexto de governabilidade e complacência externa com tiranos e violadores de direitos humanos em nome do realismo são as manchas principais da situação que se vive hoje no Brasil”.
“Uma estratégia eleitoral baseada em aliança com partidos estruturalmente dependentes da corrupção pode até ganhar eleições no presente, ao custo de semear desgraça e crise futuras”.
“Quem promove tais estratégicas assume grave responsabilidade perante a história: quem vota por elas não ignora que contribui para pôr em risco todos os avanços recentes do país”.
“Não é moralismo cumprir quase o dever médico de alertar que o mesmo vírus da de doença passada acabará por produzir efeito igual no organismo da nação”.
“No plano externo, chamar de estratégicas relações com regimes ditadoriais que condenam mulheres ao apedrejamento pode também conquistar aplausos ideológicos ou lucros comerciais. Contudo, quem faz isso vende a própria alma, jogando fora os valores éticos e arruinando o prestígio vindo do exemplo”.
O dissidente Guillermo Fariñas na frente de sua casa, na cidade de Santa Clara, após receber o prêmio do Parlamento Europeu (Adalberto Roque/AFP)
O dissidente cubano Guillermo Fariñas disse que o Prêmio Sakharov 2010 de Liberdade de Pensamento, com o qual foi agraciado ontem pelo Parlamento Europeu, é um um reconhecimento internacional à causa dos presos políticos da ilha.
Muito corretamente, Fariñas, que já realizou 23 greves de fome em protesto contra a tirania do governo, acusa o regime cubano de “assassinato” e condena a atitude do presidente Lula — que, como se recorda, ao visitar Cuba logo após a morte de Zapata, num dos momentos mais infelizes de sua gestão, comparou os dissidente aos criminosos comuns trancafiados nas cadeias brasileiras.
“Luiz Inácio Lula da Silva será lembrado na história cubana como cúmplice da ditadura sanguinária de Raúl e Fidel Castro”, disse Fariñas ao site de VEJA de sua modesta casinha, caindo aos pedaços, na cidade de Santa Clara, na região central de Cuba, a 280 quilômetros de Havana. “Com este prêmio em mãos, eu diria a Lula o seguinte: ‘Ao deixar o poder, trate de se retificar’. Ele não está sendo capaz de fazê-lo enquanto ainda é presidente do Brasil”.
Andrei Sakharov, que da nome ao prêmio, foi um dos maiores físicos russos e um dos mais corajosos e destacados dissidentes do regime comunista da antiga União Soviética.
Leia aqui a entrevista concedida por Fariñas.
Jornalistas que acompanham Dilma Rousseff pelo Brasil afora vêm notando considerável abatimento na presidenciável do PT. O brutal esforço de campanha, capaz de exaurir qualquer adulto, é com certeza a principal razão.
Mas Dilma tem apresentado sinais físicos que podem estar relacionados à sua luta — que todas as pessoas de bem, de todas as cores políticas, esperam que obtenha completo êxito — para manter-se saudável após a detecção do câncer no sistema linfático ocorrida em fevereiro do ano passado. O inchaço na região do pescoço, afetando um pouco o rosto, é o principal deles.
Uma certa deficiência de agilidade ao movimentar-se pode ser outro. É preciso não se esquecer, é claro, de que a candidata passou vários dias precisando utilizar uma bota ortopédica na perna direita devido a uma torção sofrida na região do tornozelo.
É QUESTÃO DE INTERESSE PÚBLICO — É certo que o tumor que lhe foi extirpado no ano passado tem, segundo comentaram médicos na ocasião, 90% de chances de não reaparecer. Mesmo assim, esses sinais exibidos por Dilma nos fazem lembrar da importância que tem a saúde da candidata que, até o momento, continua sendo a favorita para chegar ao Planalto no próximo dia 31.
Dilma, como se recorda, considerou “um pouco deselegante” a pergunta sobre sua saúde feita pelo jornalista Rodrigo Flores, gerente de notícias do UOL, durante sabatina promovida pelo portal em setembro.
Em post que publiquei na estréia deste blog, escrevi: “Deselegante coisa nenhuma. A pergunta era obrigatória: saúde de um candidato à Presidência é assunto de estado, é de alto, fundamental interesse público”, e citei o exemplo de democracias maduras, como os Estados Unidos, nas quais se divulgam periodicamente relatos completos sobre o estado físico dos presidentes. E os candidatos, inclusive ao Congresso e aos governos estaduais, revelam sua ficha médica completa para o público.
Saúde de candidato à Presidência é assunto crucial.
Juscelino Kubitschek, Costa e Silva, João Figueiredo e Tancredo Neves
PROBLEMAS COM JK, COSTA E SILVA, FIGUEIREDO E TANCREDO –Ninguém perguntou nada ao ex-presidente Juscelino Kubitschek sobre como ia seu coração quando ele concorreu ao então Palácio do Catete, em 1955, e ele acabou sofrendo um enfarte (mantido em segredo até deixar o poder) em 1958.
Não se questionou o general Costa e Silva, ministro do Exército do primeiro presidente do regime militar, marechal Castello Branco, sobre sua forma física – e ele, “eleito” indiretamente em 1967, acabou tendo um derrame que o tirou do poder em 1969, e depois o levou à morte, “atirando o Brasil num período de anarquia militar”, como lembrou o jornalista Elio Gaspari, com uma junta militar assumindo interinamente o poder — os “Três Patetas”, como os apelidou o falecido deputado Ulysses Guimarães — até a escolha biônica do general Garrastazu Médici para sucedê-lo.
Outro dos cinco generais-presidentes que apresentou problemas de saúde no poder — e parecia forte como um touro ao assumir, em 1979 — foi o general João Baptista Figueiredo, enfartado e submetido a cirurgia de ponte de safena na Cleveland Clinic, nos Estdos Unidos, em 1981.
A junta militar que assumiu no lugar de Costa e Silva, em 1969: os "Três Patetas", segundo o célebre apelido criado pelo Dr. Ulysses Guimarães
Para não mencionar, naturalmente, o presidente Tancredo Neves, que meses antes do que deveria ser o dia de sua posse, 15 de março de 1985, sentia dores e mal-estar na região do abdômen, sem que nenhuma providência fosse tomada e notícia alguma vazasse para a opinião pública, em consequência de um tumor cuja cirurgia o levaria a morrer no dia 21 de abril do mesmo ano.
Estamos numa democracia, e a transparência, inclusive sobre essa questão — que, repito, não é de foro íntimo dos envolvidos, mas de alto interesse público — deveria ser a regra.
Não é. Por falar nisso, como andará a saúde do candidato Serra? Ele também precisaria mostrar seus dados médicos publicamente.