Ao zombar do incidente com Serra, Lula é irresponsável e desrespeita o cargo

Publicado em 22/10/2010 11:42 e atualizado em 22/10/2010 15:46


Depois que a competência da Rede Globo, com o indispensável auxílio de um celular de um repórter da Folha de S.Paulo ,  comprovou e mostrou ao país inteiro que o presidenciável José Serra foi atingido duas vezes, e não apenas uma — pela bolinha de papel — na caminhada que fez ontem pelo calçadão de Campo Grande, no Rio, ontem, chega a ser inacreditável constatar a irresponsabilidade do presidente Lula em classificar o oponente de Dilma Rousseff como “mentiroso” e zombar do incidente, em vez de condená-lo como parte do ato de selvageria praticado por militantes petistas, que não deveria ter lugar numa democracia.

Lula nem sequer se deu ao trabalho de examinar bem os fatos, como o portal UOL e a Rede Globo fizeram. Sem prova de nada, acusou o adversário de Dilma e, de quebra, duvidou publicamente, e quase às gargalhadas, da integridade do médico que atendeu Serra.

O presidente da República começou a desrespeitar o cargo que ocupa — e que não lhe pertence, mas a todos nós, brasileiros — há um bom tempo, quando abandonou o desejável papel de magistrado nas eleições, trocando-o pelo mais familiar, a ele, de palanqueiro. Com suas declarações e zombarias de hoje, assumiu, sem disfarces, o desrespeito.

Julgando-se acima do bem, do mal e da lei eleitoral, dando caneladas no bom senso e na dignidade do cargo, Lula está atirando pela janela o que de bom realizou no governo, deixando um péssimo exemplo e um péssimo registro para a História.

Deboche com que Lula trata Serra não leva em conta algo difícil, mas possível: uma derrota de Dilma

A agressividade, o desrespeito e, agora, o deboche com que o presidente Lula trata o candidato tucano à Presidência, José Serra — que, justiça seja feita, não contaminaram a presidenciável do PT, Dilma Rousseff –, não revelam apenas sua má educação e a falta de compostura no exercício do cargo.

Evidenciam, também, a auto-suficiência e a arrogância de quem nem sequer cogita, ainda que remotamente, da possibilidade — que não está próxima, mas existe — de Serra derrotar sua candidata no dia 31.

Se levasse em conta a hipótese, sempre presente, de uma vitória do candidato azarão, o presidente precisaria pensar que, nesse caso, ele não apenas terá que tratar detidamente com o adversário transformado em inimigo — no necessário processo de transição de um governo para o outro –, como, diante do público e dos olhos do país, transmitir-lhe a faixa presidencial no Palácio do Planalto.

Lula está levando as coisas a um tal nível de agressividade, de “eles” e “nós” — o oposto da postura que um presidente deve adotar –, que tornará penoso, constrangedor e complicado esse processo, se ele vier a ocorrer.

Hipótese de que bolinha de papel atingiu Serra precisaria ter cumplicidade na farsa de várias pessoas, inclusive de médico sério e de hospital renomado

O candidato do PSDB, José Serra, no Rio, após ser atingido por objeto lançado por militante petista (Foto: Rafael Andrade)

O candidato do PSDB, José Serra, no Rio, após ser atingido por objeto lançado por militante petista (Foto: Rafael Andrade)

Circula na Web, e em certos veículos eletrônicos, a versão de que o presidenciável tucano José Serra não foi atingido na cabeça por objeto capaz de causar qualquer dano, durante caminhada no bairro de Campo Grande, no Rio, e sim por uma bolinha de papel.

A versão se baseia em trecho de um vídeo da rede de televisão SBT a respeito dos incidentes de ontem, ocorridos quando militantes do PT entraram em confronto com militantes do PSDB.

O SBT mostra que Serra não parece ter sentido nada de especial ao ser atingido pela bolinha de papel, e que só começou a mostrar sinais de que algo o havia eventualmente ferido depois de atender a uma ligação em seu celular. Ele, então, estaria simulando algo mais grave do que ocorreu para se fazer de vítima.

Pode ser, claro. Em política no Brasil parece que vale tudo.

SERÁ QUE TODO MUNDO MENTIU? — Como sempre se deve conceder às pessoas o benefício da dúvida, porém, este blog propõe que o leitor se faça as seguintes perguntas:

1. Serra, então, será um mentiroso? Um homem que foi prefeito de São Paulo, senador da República, ministro e governador do maior estado do país seria um mentiroso? Para faturar simpatias, usou a mera bolinha de papel que bateu em sua cabeça para fazer teatro e mentiu à imprensa dizendo que, depois do impacto, sentiu náuseas e tontura?

2. Todos os políticos e assessores que estavam à sua volta e confirmaram o fato aos jornalista também mentiram?

3. O respeitado Hospital Samaritano, no bairro de Botafogo, para onde Serra foi levado após o tumulto em Campo Grande, não apenas submeteu o candidato a uma tomografia sem qualquer necessidade como também particip0u da farsa?

4. Como se teria combinado com a direção do hospital a montagem da farsa? Por telefone? Por algum emissário que lá chegou antes do candidato? Os vários médicos do hospital envolvidos no processo, então, foram também mentirosos? São todos parte de uma conspiração para prejudicar o bom nome dos militantes petistas?

5. O dr. Jacob Kligman, respeitado médico que atendeu Serra, mostrou aos jornalistas o local do impacto e mencionou os sintomas apresentados — dr. Kligman, durante mais de quatro anos presidente do Instituto Nacional do Câncer, membro da Academia Nacional de Medicina, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e do American College of Surgeons — então arriscou sua reputação e sua honra pessoal participando de uma farsa? Sim, ele foi secretário de  Saúde do ex-prefeito Cesar Maia (DEM) e mantém relações de amizade com Serra — daí a razão do presidenciável tê-lo procurado. Isso fará do médico um canalha?

6. Finalmente, além da bolinha de papel que atingiu Serra, segundo o vídeo do SBT, quem garante que ele não sofreu o impacto de um objeto capaz de causar dano e que não tenha sido filmado pelo cinegrafista?

O radicalismo e o ódio presentes na atual campanha presidencial precisam ser pelo menos temperado pela moderação e pelo bom senso.

Publicado na Folha de S. Paulo em agosto, bem antes das eleições, este texto do embaixador Rubens Ricupero está mais válido do que nunca.

Confira esses trechos:

“A cumplicidade interna com a corrupção sob pretexto de governabilidade e complacência externa com tiranos e violadores de direitos humanos em nome do realismo são as manchas principais da situação que se vive hoje no Brasil”.

(…)

“Uma estratégia eleitoral baseada em aliança com partidos estruturalmente dependentes da corrupção pode até ganhar eleições no presente, ao custo de semear desgraça e crise futuras”.

(…)

“Quem promove tais estratégicas assume grave responsabilidade perante a história: quem vota por elas não ignora que contribui para pôr em risco todos os avanços recentes do país”.

“Não é moralismo cumprir quase o dever médico de alertar que o mesmo vírus da de doença passada acabará por produzir efeito igual no organismo da nação”.

“No plano externo, chamar de estratégicas relações com regimes ditadoriais que condenam mulheres ao apedrejamento pode também conquistar aplausos ideológicos ou lucros comerciais. Contudo, quem faz isso vende a própria alma, jogando fora os valores éticos e arruinando o prestígio vindo do exemplo”.

Dissidente cubano premiado diz que Lula é cúmplice “da ditadura sanguinária de Raúl e Fidel Castro”

O dissidente Guillermo Fariñas na frente de sua casa, na cidade de Santa Clara, após o prêmio que recebeu do Parlamento Europeu (Adalberto Roque/AFP)

O dissidente Guillermo Fariñas na frente de sua casa, na cidade de Santa Clara, após receber o prêmio do Parlamento Europeu (Adalberto Roque/AFP)

O dissidente cubano Guillermo Fariñas disse que o Prêmio Sakharov 2010 de Liberdade de Pensamento, com o qual foi agraciado ontem pelo Parlamento Europeu, é um um reconhecimento internacional à causa dos presos políticos da ilha.

Muito corretamente, Fariñas, que já realizou 23 greves de fome em protesto contra a tirania do governo, acusa o regime cubano de “assassinato” e condena a atitude do presidente Lula — que, como se recorda, ao visitar Cuba logo após a morte de Zapata, num dos momentos mais infelizes de sua gestão, comparou os dissidente aos criminosos comuns trancafiados nas cadeias brasileiras.

“Luiz Inácio Lula da Silva será lembrado na história cubana como cúmplice da ditadura sanguinária de Raúl e Fidel Castro”, disse Fariñas ao site de VEJA de sua modesta casinha, caindo aos pedaços, na cidade de Santa Clara, na região central de Cuba, a 280 quilômetros de Havana. “Com este prêmio em mãos, eu diria a Lula o seguinte: ‘Ao deixar o poder, trate de se retificar’. Ele não está sendo capaz de fazê-lo enquanto ainda é presidente do Brasil”.

Andrei Sakharov, que da nome ao prêmio, foi um dos maiores físicos russos e um dos mais corajosos e destacados dissidentes do regime comunista da antiga União Soviética.

Leia aqui a entrevista concedida por Fariñas.


Dilma continua devendo ao país notícias sobre sua saúde

Jornalistas que acompanham Dilma Rousseff pelo Brasil afora vêm notando considerável abatimento na presidenciável do PT. O brutal esforço de campanha, capaz de exaurir qualquer adulto, é com certeza a principal razão.

Mas Dilma tem apresentado sinais físicos que podem estar relacionados à sua luta — que todas as pessoas de bem, de todas as cores políticas, esperam que obtenha completo êxito — para manter-se saudável após a detecção do câncer no sistema linfático ocorrida em fevereiro do ano passado. O inchaço na região do pescoço, afetando um pouco o rosto, é o principal deles.

Uma certa deficiência de agilidade ao movimentar-se pode ser outro. É preciso não se esquecer, é claro, de que a candidata passou vários dias precisando utilizar uma bota ortopédica na perna direita devido a uma torção sofrida na região do tornozelo.

É QUESTÃO DE INTERESSE PÚBLICO — É certo que o tumor que lhe foi extirpado no ano passado tem, segundo comentaram médicos na ocasião, 90% de chances de não reaparecer. Mesmo assim, esses sinais exibidos por Dilma nos fazem lembrar da importância que tem a saúde da candidata que, até o momento, continua sendo a favorita para chegar ao Planalto no próximo dia 31.

Dilma, como se recorda, considerou “um pouco deselegante” a pergunta sobre sua saúde feita pelo jornalista Rodrigo Flores, gerente de notícias do UOL, durante sabatina promovida pelo portal em setembro.

Em post que publiquei na estréia deste blog, escrevi: “Deselegante coisa nenhuma. A pergunta era obrigatória: saúde de um candidato à Presidência é assunto de estado, é de alto, fundamental interesse público”, e citei o exemplo de democracias maduras, como os Estados Unidos, nas quais se divulgam periodicamente relatos completos sobre o estado físico dos presidentes. E os candidatos, inclusive ao Congresso e aos governos estaduais, revelam sua ficha médica completa para o público.

Saúde de candidato à Presidência é assunto crucial.

Juscelino Kubitschek, Costa e Silva, João Baptista, Figueiredo e Tancredo Neves

Juscelino Kubitschek, Costa e Silva, João Figueiredo e Tancredo Neves

PROBLEMAS COM JK, COSTA E SILVA, FIGUEIREDO E TANCREDO –Ninguém perguntou nada ao ex-presidente Juscelino Kubitschek sobre como ia seu coração quando ele concorreu ao então Palácio do Catete, em 1955, e ele acabou sofrendo um enfarte (mantido em segredo até deixar o poder) em 1958.

Não se questionou o general Costa e Silva, ministro do Exército do primeiro presidente do regime militar, marechal Castello Branco, sobre sua forma física – e ele, “eleito” indiretamente em 1967, acabou tendo um derrame que o tirou do poder em 1969, e depois o levou à morte, “atirando o Brasil num período de anarquia militar”, como lembrou o jornalista Elio Gaspari, com uma junta militar assumindo interinamente o poder — os “Três Patetas”, como os apelidou o falecido deputado Ulysses Guimarães — até a escolha biônica do general Garrastazu Médici para sucedê-lo.

Outro dos cinco generais-presidentes que apresentou problemas de saúde no poder — e parecia forte como um touro ao assumir, em 1979 — foi o general João Baptista Figueiredo, enfartado e submetido a cirurgia de ponte de safena na Cleveland Clinic, nos Estdos Unidos, em 1981.

A junta que assumiu no lugar de Castello Branco: os

A junta militar que assumiu no lugar de Costa e Silva, em 1969: os "Três Patetas", segundo o célebre apelido criado pelo Dr. Ulysses Guimarães

Para não mencionar, naturalmente, o presidente Tancredo Neves, que meses antes do que deveria ser o dia de sua posse, 15 de março de 1985, sentia dores e mal-estar na região do abdômen, sem que nenhuma providência fosse tomada e notícia alguma vazasse para a opinião pública, em consequência de um tumor cuja cirurgia o levaria a morrer no dia 21 de abril do mesmo ano.

Estamos numa democracia, e a transparência, inclusive sobre essa questão — que, repito, não é de foro íntimo dos envolvidos, mas de alto interesse público — deveria ser a regra.

Não é. Por falar nisso, como andará a saúde do candidato Serra? Ele também precisaria mostrar seus dados médicos publicamente.

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Fonte:
Blog Ricardo Setti

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