Hoje, debate na Globo. Um pouco de memória

Publicado em 29/10/2010 07:49 e atualizado em 30/10/2010 15:10
O vídeo não está grande coisa. Mas tem de ser visto mesmo assim. Trata-se de um trecho do debate na Globo no segundo turno da eleição de 2002, entre José Serra e Luiz Inácio Lula da Silva. Vejam. Volto em seguida.

Bolsa Família
Que maravilha! Em pleno debate, Lula chama os programas sociais de “esmola”.  Tinham de ser substituídos pelo “Fome Zero”, que nunca saiu do papel. Aí a ficha caiu, ele reuniu, então, as “esmolas” e criou o “Esmola Família”. Há dias, na USP, Marxilena Oiapoque afirmou que Serra é que era um crítico dos programas sociais. Não, dona Doida! Ele criou alguns deles. O crítico era o Lula!
Combate ao crime
Como se vê, oito anos depois, há 50 mil homicídios por ano no Brasil. O único estado que assistiu a uma revolução na área nos últimos 12 anos é São Paulo: 9 mortos por 100 mil habitantes, o índice mais baixo do país.
Reformulação na CLT
Não aconteceu.
Reforma tributária
Não aconteceu. E a carga tributária… subiu!
Podem cobrar
“Por isso que os meus programas estão por escrito; porque eu quero que as pessoas cobrem de mim”!!!

Ah, bem… A arrogância estava ali, como sempre: “Eu sou o único que pode…” Poderia dizer de outro modo: “Eu sou o único que o PT não tentará sabotar”.
Por Reinaldo Azevedo

Vai, Lula, continue a sujar as mãos! Ou: a Petrobras como cabo eleitoral e pretexto para o discurso vigarista

Atenção! O primeiro turno das eleições aconteceu no dia 3 de outubro. Hoje é dia 29. Em 26 dias, Lula participou de nada menos do que cinco eventos na Petrobras, um a cada cinco dias. Ontem, lançou a nova Plataforma de Tupi. E voltou a sujar as mãos de petróleo. Num dado momento, quase  lambeu o óleo.

Hoje, a Agência Nacional de Petróleo faz mais um de seus anúncios estrepitosos, pré-anunciado ontem. O campo de libra, no pré-sal da bacia de Santos, teria entre 7,9 bilhões e 16 bilhões de barris. É isso mesmo: dois dias antes da eleição se anuncia uma, atenção!, POSSÍVEL nova “megahipersupermegalo-reserva”, que pode ter “x” ou “2x”, um tanto de petróleo ou o dobro. As condições do anúncio mal escondem o seu caráter obviamente eleitoreiro. Até o presidente da empresa, o petista José Sérgio Gabrielli, usa a Petrobras para fazer campanha eleitoral aberta, acusando, o que é mentira, o governo FHC de ter sucateado a Petrobras.

No governo tucano, a produção de petróleo no Brasil cresceu 100%: de 700 mil barris/dia para 1,4 milhão de barris/dia. Hoje, está em torno de 2,1 milhões/dia: crescimento de 50% no governo do PT. Vamos ver se Gabrielli desmente. A quase autonomia a que se chegou — a anunciada por Lula é falsa — se deveu à abertura do setor  ao regime de concessão então implementado, que contribuiu para que a empresa avançasse na pesquisa do pré-sal — que não começou a ser pesquisado a partir de 2003, como dá a entender a máquina de propaganda.

No entanto, a falsa questão da Petrobras e do pré-sal virou o cavalo-de-batalha do horário eleitoral de Dilma Rousseff, naquela que é a mais mentirosa das campanhas eleitorais de que tenho notícia. Ontem, eles atingiram o estado da arte da empulhação. Vamos ver.

O PT acusa Serra de querer “privatizar o pré-sal” porque, diz, quem implementou o regime de concessões foi o PSDB — e, para o PT, concessão é privatização. Trata-se de uma afirmação escandalosamente falsa. O PSDB contra-atacou: se concessão é privatização, então quem mais privatizou foi Dilma, cujo governo, e ela própria como responsável pela área de energia, fez 108 concessões — o que é fato —, mais do que no governo FHC. Nota à margem: não gosto dessa resposta porque acho que ela endossa a mentira da equação “concessão = privatização”. Bem, mas os petistas também não gostaram.

A pilantragem
Em seu horário eleitoral de ontem, fizeram o quê? Em primeiro lugar, mentiram ao afirmar que, depois da “descoberta” do pré-sal, não fizeram mais concessões. Fizeram, sim! Mas o maravilhoso da história não está aí, não. Afirmou-se que as concessões foram vantajosas para o Brasil porque o risco é das empresas que venceram os leilões, e o benefício é do Brasil!

Bingo!!! É por isso que a concessão é uma boa, entenderam? Notem que, para se defender, o PT quase consegue falar uma verdade. O que a muitos escapa até agora é que a cascata nacionalista do “regime de partilha” é o sonho das empresas que forem contratadas para operar no pré-sal. Arranque-se ou não óleo lá das profundezas, elas terão o seu dinheiro certo. E fim de papo.  Os riscos são todos do Brasil. O que o horário eleitoral de Dilma não explicou e o que ela não saberia explicar é por que, então, a concessão não funcionaria no pré-sal. Aí a boneca de ventríloquo se sai com aquele papo de “bilhete premiado”. “Bilhete premiado uma ova!” O petróleo do pré-sal, como se nota, pode ser “x” ou “2x”, mas também pode ser “x/2″, “x/3″, ninguém sabe direito.

Empresa pra ir fazendo buraco, com certeza, o regime de partilha vai atrair. A questão é se atrairá investimentos. Há um monte de gente que prefere a incerteza sobre o petróleo à certeza de que vai ter de enfrentar um governo de burocratas que, cedo ou tarde, se torna uma máquina de corrupção e instabilidade nas regras. Mas volto ao ponto.

A “concessão”, que seria defendida por Serra — e ele nem atacou o regime de partilha, note-se — seria “privatização”. Já a mesma concessão, operada pelo PT,  seria uma forma de, havendo petróleo, todo mundo ganhar; não havendo, o Brasil não ter prejuízo. Covenham: é preciso muita vigarice para levar um troço desses ao ar. E eles levam. Ninguém lhes cobrará nada a respeito.

Vai, Lula, continue a sujar as mãos!
Por Reinaldo Azevedo

“Bebi menos do que devia”, diz Lula sobre aniversário

Na Folha. Comento.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “bebeu menos do que devia” durante comemoração do seu aniversário, na noite de quarta-feira em Brasília, porque “precisava estar inteiro” para viajar até a Bacia de Santos e visitar a área pré-sal de Tupi.

Ontem ele participou de cerimônia organizada pela Petrobras para marcar o início da produção de petróleo no pré-sal. “Eu jamais deixaria o meu mandato sem colocar os pés aqui em Tupi para ver essa coisa que eu acho que é a consagração dos nossos filhos, dos nossos netos, dos nossos bisnetos e do Brasil como um todo”, afirmou.

Em discurso feito na plataforma, local em que só é possível chegar após 75 minutos de voo de helicóptero, Lula disse não foi à plataforma na primeira vez “por medo”. Em maio do ano passado, a ida do presidente à plataforma para comemorar a primeira extração de óleo do pré-sal em Tupi foi cancelada em razão de condições meteorológicas adversas. Ao lado da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Lula acabou recebendo uma amostra do óleo na Marina da Glória, no Rio, para onde o evento foi transferido.

“Pegar um helicóptero, andar 300 quilômetros mar adentro, não é… minha coragem não chega a ser que nem a de vocês”, brincou Lula. Lula recebeu do diretor de Exploração e Produção, Guilherme Estrella, uma placa reproduzindo registros sísmicos encontrados no fundo do mar. A área retrata os nove pontos de pico que os geólogos chamam de dedos. Eles associaram os pontos aos dedos do presidente e os batizaram de “Marco Lula”.Em tom de brincadeira, o presidente disse que a Petrobras aprendeu a fazer uma luva para ele, cortando o dedinho e costurando. “Antes o dedo ficava pendurado e eu ficava mexendo nele”, disse.

Comento
Quero tranqüilizar Lula. Quando ele bebe “menos do que deve”, a gente não percebe, não nota a diferença. Para mim, ele está sempre igual, com a doses de sempre.
Por Reinaldo Azevedo

O que eles diziam três dias antes no primeiro turno

Muito bem. O Ibope divulgou os seus números. Faltam três dias para a eleição do segundo turno. A petista teria 14 pontos a mais do que o tucano José Serra nos votos válidos. No dia 29 de setembro, quatro dias antes do primeiro turno, o mesmo instituto atribuía a Dilma 55% dos votos válidos —  7,4 pontos a mais do que ela conseguiu. Para o Vox Populi, a petista estava 12 pontos à frente da soma dos adversários. Estou afirmando que os números não valem nada? Eu não! Estou apenas lembrando os fatos. Ou não são fatos? Pode até ser que acertem no segundo turno. No primeiro, erraram feio. Um erro que certamente não foi irrelevante.

Por Reinaldo Azevedo

Também no Datafolha, quase tudo igual

Na terça-feira, o Datafolha havia feito uma pesquisa. Ontem, fez outra: a diferença nos votos totais passou de 11 para 10 pontos: Dilma oscilou de 49% para 50%, e Serra, de 38% para 40%. Tudo na margem de erro, que é de dois pontos para mais ou para  menos. Em dois dias, os indecisos teriam passado de 8% para 4%, e os brancos e nulos continuaram em 5%. A soma dá 99% — 1% do eleitorado deve ter evaporado. Nos votos válidos, segue como há dois dias: 56% a 44%. Vamos ver. Por enquanto, os institutos estão acertando as previsões dos outros institutos — na margem de erro, é claro.

Se diferença é tão grande, por que atacar o adversário até o último dia?

No post anterior, publico os números do Ibope: 14 pontos nos votos válidos! Certo! Seria uma diferença grande, uma folga e tanto! Mesmo assim, o PT usa o último dia de propaganda no rádio e na TV para bater no adversário? Por quê?

Curioso! Os institutos davam essa mesma vantagem a Dilma sobre a soma dos concorrentes no primeiro turno. Depois se viu algo bem diferente. Não estou desconfiando de nada, não! Estou apenas tratando de fatos. 14? O recomendável, então, é que, abertas as urnas, essa diferença esteja, no máximo, entre 10 e 18 (!!!). Oito pontos já são um continente, não? Ninguém precisa de uma folga maior do que essa. Qualquer coisa fora desse parâmetro pede uma nova leitura sobre os institutos: não são mais meros avaliadores das vontades, mas agentes da política.
Por Reinaldo Azevedo

Os números do Ibope. Ou: eles vão errar ou acertar em bloco!

Pesquisa Ibope a ser divulgada daqui a pouco aponta 13 pontos de diferença entre a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra nos votos totais: ela teria 52%, e ele 39%. Nos válidos, a diferença é de 14: 57% a 43%. A diferença é bem superior àquela apontada tanto pelo tracking do PSDB como, o que é curioso, pelo tracking do PT, daí o nervosismo dos petistas. Como se nota, nesta reta final, ainda que os números dos institutos não coincidam com os dos partidos, são todos coincidentes entre si. Parece que decidiram errar ou acertar em bloco, não é mesmo?

Por Reinaldo Azevedo

Serra diz que, se eleito, vai “desprivatizar” o Estado

Por Paulo Peixoto, na Folha Online:
O presidenciável do PSDB, José Serra, afirmou hoje em discurso durante ato eleitoral com lideranças políticas do Triângulo Mineiro e apoiadores, em Uberlândia, que, se eleito, vai “desprivatizar” o Estado brasileiro, fazendo com que os órgãos estatais fiquem a serviço da sociedade e não a serviço de grupos com “interesses privados” junto ao governo.

A declaração de Serra foi motivada pelo apoio que recebera de Alfredo Brandão, presidente da Federação dos Bancários dos Estados de MG, GO, TO e DF. Brandão discursara pela “desprivatização” dos bancos estatais: Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

“O sr. não vai privatizar nada, porque tudo já foi privatizado. Precisamos desprivatizar”, disse o bancário no seu discurso, para quem os órgãos públicos estão repletos de “vários membros de facções”.

Ao discursar citando o bancário, Serra disse: “É preciso hoje desprivatizar o Estado brasileiro, fazer com que os nossos órgãos governamentais sirvam ao nosso povo e não a grupos, a negociações, a interesses, como todos os dias a gente pode constatar. Cada fim de semana um rol de escândalos que significa usar o governo, os seus órgãos, as suas empresas para finalidades privadas”.

BOATOS E MENTIRAS
Após o evento, em entrevista, ao ser questionado sobre críticos afirmarem que boatos e mentiras durante a campanha atrapalharam e prejudicaram o debate eleitoral, o candidato tucano atribuiu essas coisas ao campo da sua adversária Dilma Rousseff (PT).

“Tudo vem do outro lado. Eu sou um político ligado à verdade. O outro lado é de profissionais da mentira, mentem o tempo inteiro”, afirmou Serra.
Por Reinaldo Azevedo

Dilma chama a religião de mais de um bilhão de pessoas de “a crença do papa”. Achei que também fosse a dela…

“Eu acho que é a posição do papa e tem que ser respeitada. Encaro que ele tem o direito de manifestar o que ele pensa. É a crença dele e ele está recomendando uma orientação”.

É a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, referindo-se ao pronunciamento inequívoco do papa Bento 16, que condenou o aborto e recomendou aos bispos brasileiros que orientem seus fiéis a não votar em candidatos que defendam a legalização. Já escrevi a respeito.

“É a crença dele…” Errado! É a crença de mais de um bilhão de católicos no mundo inteiro, para os quais o papa é a máxima autoridade religiosa. O PT pediu  — e ministro Henrique Neves, do TSE, autorizou — que impressos dando EXATAMENTE ESSA ORIENTAÇÃO fossem recolhidos. Era uma encomenda da Diocese de Guarulhos.

“Crença dele?” Achei que fosse a dela também. Nos últimos dois meses, eu a vi na Igreja algumas vezes. Na Basílica de Aparecida, ela até chegou a fazer o “Pelo Sinal”. Como Gilberto Carvalho, o réu, não conseguiu dar um curso intensivo, ela errou um tantinho a seqüência “esquerda-direita” na hora de representar o Lenho Sagrado. Acrescentou ainda um toque a mais no nariz etc. Ela queria nos passar a idéia de uma conversão sincera. “Crença dele”???

Instada a comentar a reação do PT à recomendação de igrejas cristãs em favor do voto antiaborto, ela comentou:
“Vamos separar as questões. Eu não acho que o papa tem nada a ver com isso. No Brasil, ocorreu outra coisa: uma campanha que não veio à luz do dia; quem fez a campanha não se identificou, não mostrou sua cara. Foi uma campanha de difamações,calúnias e algumas feitas ao arrepio da lei porque a lei proíbe que isso ocorra. Ele veio a público e falou a posição dele”.

Epa! Há uma salada russa aí. O impresso que o PT pediu para recolher não poderia estar mais à luz do dia; não poderia ser mais iluminado: trazia a assinatura de três bispos; foi redigido pela Comissão de Defesa da Vida da Regional Sul I, da CNBB.

Quais calúnias? Quais difamações?
Pergunta -  Dilma é ou não favorável à descriminação do aborto?
Resposta - É. Entrevista à Folha em 2007 e à Marie Claire em abril de 2009 provam que sim.
Pergunta - Dilma integra ou não um governo que agiu em favor da descriminação do aborto?
Resposta - Sim!
Pergunta - O Programa Nacional de Direitos Humanos que ganhou forma final na Casa Civil, quando Dilma era ministra, trazia ou não a descriminação do aborto como diretriz?
Resposta - Sim!

E, bem, diante da história reescrita, esporte predileto dos petistas, nada como a verdade ela mesma, que tem de ser relembrada mais uma vez.  Publicarei comentários de petralhas se conseguirem apontar uma única  coisa aqui que não seja FATO. Há alguma?


Por Reinaldo Azevedo

A corrosão lenta e gradual da democracia, os cúmplices barulhentos e os silenciosos cúmplices

Nada como começar com este vídeo. Volto em seguida:


Foi a mensagem do papa Bento 16 transmitida ontem a bispos brasileiros. E ele também prefere “descriminação” a “descriminalização”, a exemplo deste blog… Vamos ao ponto.

Quando é que a democracia começa a correr riscos? Quando agressões à ordem constitucional e à liberdade de expressão são praticadas sem a devida reação daqueles que têm a obrigação política e moral de defender os pilares da democracia e do estado de direito. São lugares privilegiados dessa defesa a imprensa, as associações de advogados — que só existem porque existe uma ordem legal — e as entidades comprometidas com a defesa dos direitos humanos. Quando falo em “risco”, não imagino um golpe ao velho estilo do “putschismo”. Essa forma de assalto ao poder só existe em sociedades ainda muito primitivas, de baixo desenvolvimento institucional. Nas complexas, como a nossa, essas aventuras já são impossíveis. A luta dos autoritários se dá de outro modo; tem outra natureza.

No dia 24 de outubro, Henrique Neves, ministro do TSE, mandou recolher impressos encomendados pela Diocese de Guarulhos à Gráfica Pana. Tratava-se de um lote de um milhão de folhetos com o “Apelo a Todos os Brasileiros”, documento redigido pela Comissão em Defesa da Vida da Regional Sul I da CNBB. Não era um texto apócrifo; ao contrário até: trazia a assinatura de três bispos. Ali se expunham os princípios da fé católica, recomendava-se que os fiéis não votassem em candidatos favoráveis ao aborto e se fazia a história dos vínculos entre o PT e sua candidata e a defesa da descriminação do aborto, que a Igreja considera um abominação.

Os petistas se mobilizaram para pressionar a Igreja, fortemente infiltrada pelo partido, o que não é segredo para ninguém. A CNBB veio a público para dizer que o documento não era da entidade como um todo. O PT recorreu ao tribunal e conseguiu fazer com que a Polícia Federal recolhesse os exemplares de um texto que, atenção!, tinha sido aprovado no dia 3 de julho! A imprensa, com as exceções conhecidas, não apenas silenciou diante da agressão óbvia à liberdade de expressão e à liberdade religiosa como integrou o pelotão de fuzilamento dos donos da gráfica Pana.

O fala de Bento 16, que abre este post, não pauta, é claro, a legislação brasileira — e eu me pergunto até hoje qual letra da lei foi agravada pelo impresso encomendado pela Diocese de Guarulhos. O papa, em sua mensagem aos bispos brasileiros, lembrou os princípios da fé de que ele é autoridade máxima. Sem infringir, a não ser segundo a liminar de Henrique Neves, as leis do Brasil, bispos cumpriam a missão pastoral que lhes confiou a Igreja Católica, atuando na defesa de sua fé, como fazem todas as religiões nos países democráticos.

Mas quê… O conteúdo do apelo dos religiosos estava em desacordo com o pensamento médio e influente das redações. O raciocínio tosco é este: como existe separação entre Igreja e Estado no Brasil, então os religiosos não devem se manifestar sobre assuntos que não sejam pertinentes a seu credo. Em vez de separação, ter-se-ia, então, uma relação de oposição. Ainda era pouco: indivíduos “flagrados” com a mensagem passaram a ser denunciados pela Polícia, como se o “Apelo” fosse, sei lá, literatura subversiva. E se fez um tenebroso silêncio sobre uma escandalosa arbitrariedade. Algum advogado ou juiz deste imenso país é capaz de me dizer por que alguém é detido por portar um apelo contra o aborto?

Supremo
Silêncio ou cumplicidade também se seguiram àquele absurdo perpetrado anteontem no Supremo Tribunal Federal. E receio que alguns leitores não entenderam exatamente a minha restrição, confundindo a questão central de meu texto de ontem — a crítica à acochambração judicial — com minha opinião sobre a tal Lei da Ficha Limpa. De fato, eu a considero inconstitucional (ao menos para a Constituição que temos, e só temos a que está aí, não?), mas minha crítica nada teve a ver com isso. Repudiei, e não há quem possa justificar tecnicamente a decisão — nem Cezar Peluso conseguiu fazê-lo ao proclamar o resultado, o que restou como emblema do imbróglio —, que se tenha recorrido a artifícios retóricos (o que Peluso também admitiu) para justificar a decisão quando o Regimento Interno do tribunal apontava o caminho para desempatar a contenda: o voto qualificado do presidente — que, notem bem, poderia ter votado, sim, contra Jader Barbalho; ou, ainda, se quisesse, ter reformado seu próprio voto, o que sempre é possível antes da proclamação do resultado.

Tivesse Peluso feito isso, eu, então, mesmo um crítico da lei, não estaria escrevendo esta crítica. Tivesse Peluso feito isso, aquele discurso sobre o peso da função, que o obrigaria a condescender com algo que sua própria consciência repudia, seria mais do que um dramazinho retórico, sem muita substância, como foi. Até porque ele, à diferença de muitos homens de estado levados às vezes a atuar contra a própria convicção, preferiu não decidir; fugiu da questão; driblou-a, com a ajuda engenhosa de Celso de Mello. E ainda emendou com aquele ar muito característico de enfado: “A história vai nos julgar”. Nem sempre, ministro! Há aqueles que a história simplesmente esquece.

Pior de tudo: no discurso de alguns ministros, mais de uma vez se ouviu o argumento  —, que não consta de nenhuma prescrição constitucional, legal ou processual — que pretende ser definitivo: “a vontade do povo”. Então é em nome dela que se pode renunciar ao que está escrito para decidir segundo o que não está? Pois saibam todos vocês que me lêem: potencialmente ao menos, a partir de anteontem, estamos todos menos seguros. Nenhum de nós sabe quando uma causa que nos interessa pode chegar ao Supremo. Chegando, nenhum de nós está seguro de que os ministros usarão os códigos por todos conhecidos. Nenhum de nós estará protegido da eventualidade de alguém sugerir, com o assentimento da maioria, que a lei seja deixada de lado em nome de uma decisão tomada por “analogia”.

Entenderam onde está o busílis da coisa?

E atenção: também está assente na memória jurídica brasileira que uma lei pode retroagir para punir comportamentos que antes não eram passíveis de punição. Basta que se diga que não se trata de retroatividade, mas do estabelecimento de novas precondições para o exercício de uma determinada função. Pronto! O puro nominalismo toma o lugar do princípio. É como se Delúbio Soares chamasse caixa dois de “recursos não-contabilizados”. Nesse caso, é uma “retroatividade inconstitucional não-contabilizada”.  A muitos escapa que, ao se abrirem essas porteiras por onde se pegam, com efeito, alguns larápios, abrem-se, isto sim, as portas do arbítrio. Não há democracia sólida no mundo que condescendesse com essas práticas. Esse não é o caminho da moralização, não! Esse é o caminho da perdição. A essas mágicas, outras podem se seguir.

Sem lei
Já nos basta um processo eleitoral tisnado pela absoluta ausência de limites e de compostura do presidente da República e do governo federal, que entraram na disputa de uma maneira desavergonhada, sem que tenham sido minimamente coibidos pelo TSE — a não ser por uma penca de multas que não coíbem nada. Ora, a desproporção entre as ações é escandalosa. Qual foi a mais estrepitosa determinada pelo TSE, por intermédio de Henrique Neves? A ordem para que a Polícia Federal recolhesse os folhetos que a Diocese de Guarulhos havia mandado imprimir.

Imaginem vocês: num processo eleitoral em que máquina pública e a máquina sindical se juntam, contra a lei, para apoiar uma candidata e atacar o seu adversário, a polícia foi acionada para molestar religiosos que haviam mandado imprimir um folheto com os princípios de sua fé, segundo, como resta claro, a orientação da Igreja Católica e do papa Bento 16. O papa não manda nas leis do Brasil. As leis do Brasil é que garantem aos católicos seguir a orientação do papa.

Encerro
Os tolinhos indagam o que será deste blog vença um ou vença outra. Continuará a ser o que é; a defender os princípios no qual acredita, sem olhar se, no momento, eles interessam a esse ou àquele. “Ah, mas você não gosta das esquerdas!” É claro que não! Defendo, no entanto, que sejam combatidas segundo os limites da lei — se e enquanto essas leis obedecerem aos valores universais da democracia. Se, um dia, no poder, essas esquerdas decidirem, como costumam fazer, solapar a democracia em nome da democracia, então eu procurarei solapar a ditadura em nome da… mesma democracia!

Combato, sim, os cúmplices barulhentos desse aviltamento institucional. Mas meu respeito por eles ainda é ligeiramente maior do que pelos silenciosos cúmplices. E nem me ocorre aquele papo de que pior é o “silêncio dos bons”. Afinal, se bons, por que silenciosos? Se silenciosos, por que bons? A democracia e o estado de direito pedem clareza!
Por Reinaldo Azevedo

Cachorro do Zé Dirceu aparece no último programa de Dilma

Estou assistindo ao último programa de Dilma no horário eleitoral. O cachorro de Zé Dirceu, que ele deixou de presente para Dilma quando ela assumiu a Casa Civil, teve direito a alguns segundos.
Por Reinaldo Azevedo

Justiça quebra sigilo bancário e fiscal de tesoureiro do PT

Por Flávio Ferreira, na Folha Online:
A Justiça de São Paulo quebrou o sigilo bancário e fiscal do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e abriu uma ação penal contra ele e mais cinco pessoas sob a acusação de desvios da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo). A medida é resultado de denúncia apresentada na semana passada pelo Ministério Público Estadual.

A Justiça não autorizou, porém o sequestro de bens de acusados. A denúncia, feita pelo promotor José Carlos Blat, acusa o tesoureiro de envolvimento em desvios da Bancoop em favor de ex-dirigentes da cooperativa e para campanhas do partido.

Blat disse que Vaccari e os outros ex-dirigentes acusados formaram uma “organização criminosa”. Segundo o promotor, os denunciados usaram várias empresas que tinham como sócios ex-diretores da cooperativa para cometer as irregularidades. Blat afirmou que os acusados usaram cerca de R$ 100 mil para pagar hospedagens em hotel de luxo de espectadores para a etapa brasileira da Formula 1 em São Paulo.

Ele disse ainda que os desvios e prejuízos causados pelos acusados à Bancoop somam R$ 170 milhões. Os ex-dirigentes foram denunciados por lavagem de dinheiro e 1.633 operações que configuraram estelionato.Segundo Blat, também há indícios de repasses indevidos da cooperativa para um centro espírita e uma instituição de caridade. A defesa dos réus e o PT negam a prática dos crimes, apontados pelo Ministério Público.
Por Reinaldo Azevedo

A casa-da-mãe-Dilma: Relatório da PF aponta tentativa de lobby de petista na Casa Civil

Por Andreéa Michael e Andreza Matais, na Folha:
Relatório da Polícia Federal aponta tentativa de lobby na Casa Civil para favorecer agências franqueadas dos Correios. A então ministra Dilma Rousseff, hoje candidata do PT à Presidência, é citada no documento como alvo dos lobistas. Segundo o relatório, Sancler Mello, candidato a deputado estadual pelo PT do Rio, relata a um lobista ter sido recebido por Dilma em julho de 2006 para discutir uma forma de evitar a realização de licitação para renovação da rede de franqueados da estatal -concorrência pública que, de fato, não foi aberta. A conversa foi gravada com autorização da Justiça Federal. Dilma e Sancler negam o encontro.

A Casa Civil está no centro do escândalo envolvendo Erenice Guerra, que sucedeu Dilma no cargo. Erenice deixou o governo após a descoberta de uma esquema de lobby dentro do órgão. Parte dos diálogos ocorreu em julho de 2006 e integram uma longa investigação sobre as agências terceirizadas dos Correios.O trabalho deu origem a outros inquéritos e operações, entre as quais as batizadas de Selo e Déjà-vu. Em abril daquele ano, dois meses antes das conversas gravadas, o TCU (Tribunal de Contas da União) havia dado prazo até o final de 2007 para que o governo fizesse a licitação para substituir as agências franqueadas.

A Abrapost, associação que representa 90% dos franqueados, tentava na Justiça impedir a redistribuição da rede de agências. Para isso, ingressou no STF (Supremo Tribunal Federal). Em março deste ano, a causa foi assumida pelo advogado Antonio Eudacy Alves Carvalho, irmão da ex-ministra Erenice. Nas escutas, Sancler conversa com Carlos Eduardo Fioravante da Costa, ex-diretor dos Correios e segundo suplente do senador Hélio Costa -na ocasião, ministro das Comunicações.

“AJUDA FINANCEIRA”
Segundo o relatório, Fioravante “promete ajuda financeira” de R$ 100 mil a Sancler para que ele tentasse convencer Dilma a cancelar uma medida provisória determinando uma nova licitação. Aqui
Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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