Datafolha mostra que debate da Globo terminou empatado
O último debate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), realizado ontem à noite pela Rede Globo, terminou empatado, mostra o Datafolha.
Segundo pesquisa feita ontem pelo instituto, entre os eleitores que assistiram ao debate ou ficaram sabendo do encontro por alguma outra fonte de informação, 24% atribuíram vitória a Dilma, mesmo percentual que apontou Serra como o vencedor.
O debate, segundo a pesquisa, foi visto na íntegra ou em parte por 45% dos eleitores --14% dizem ter visto todo o encontro, enquanto 31% afirmam que viram apenas parte dele.
Quase metade dos entrevistados (42%), quando questionados sobre o debate, não soube responder qual dos dois candidatos se saiu melhor. Para 7%, ambos foram vitoriosos, e 4% dizem que os dois não se saíram bem no programa da Globo.
Entre os eleitores que votaram em Marina Silva (PV) no primeiro turno, a vitória foi de Serra: 25% dizem que ele se saiu melhor no confronto com a petista, enquanto 18% apontam vitória de Dilma.
Na fatia de eleitores indecisos, 15% apontam o tucano como vencedor do debate, ante 8% que dizem o mesmo sobre a petista.
RELIGIÃO
Ao longo do segundo turno, Dilma conseguiu reverter a vantagem que Serra tinha entre os eleitores que se declaram evangélicos, parcela que corresponde a cerca de 25% do eleitorado.
Na primeira pesquisa Datafolha feita após o primeiro turno, Serra aparecia com 49% entre os evangélicos pentecostais e 48% entre os não pentecostais, contra 40% de Dilma em cada um desses grupos religiosos.
Agora, na véspera do segundo turno, a petista passou numericamente à frente de Serra entre os evangélicos pentecostais (47% a 44%, tecnicamente empatados) e empatou entre os não pentecostais (45% a 45%).
Entre os eleitores católicos (cerca de 63% do eleitorado), a petista manteve vantagem de pelo menos 12 pontos percentuais. Na pesquisa atual, ela tem 53% nessa fatia, contra 40% de Serra.
Para eleitor, Dilma é a continuidade, e Serra, o experiente
Dilma Rousseff (PT) é a continuidade. José Serra (PSDB), o mais experiente.
Essas são as duas principais razões que levarão os eleitores dos dois candidatos a votar neles neste domingo.
No caso de Dilma, também aparece como relevante a seus simpatizantes o peso do presidente Lula. No de Serra, o lastro de sua boa imagem como gestor público.
Os motivos que levam o eleitor a votar na petista ou no tucano foram questionados pelo Datafolha em pesquisa realizada na quinta-feira com 4.205 eleitores de 256 municípios. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Dois terços dos eleitores (64%) que dizem votar em Dilma citam Lula, sendo que 49% afirmam que um dos motivos do voto é a expectativa de que ela irá manter as políticas do atual governo.
Mencionam o apoio de Lula como preponderante para a escolha da petista 19%. No Nordeste, onde Dilma lidera com ampla margem, 26% votam nela por causa do apoio do presidente.
No caso de Serra, a comparação entre biografias proposta pelo tucano na campanha "colou" na maior parte de seu eleitorado.
Fatores ligados à sua imagem pública determinam a escolha de 35% de seus eleitores, sendo que uma fatia de 25% desse grupo diz que escolhe o tucano porque ele tem mais experiência política e administrativa. Outros 8% afirmam que ele é o mais preparado para presidir o Brasil.
Ex-ministro da Saúde, o tucano também atrai 22% de seus eleitores por conta do que propõe nessa área, sendo que 10% dizem acreditar que ele irá melhorar a infraestrutura e os serviços de saúde pública.
Lembram-se de políticas implantadas durante sua passagem pelo ministério para justificar sua escolha de voto 6% de seus eleitores.
No caso de Dilma, 10% dos eleitores são atraídos à sua candidatura pelos atuais programas sociais do governo. Nesse grupo, 6% especificam que desejam a continuidade do Bolsa Família.
O percentual sobe a 10% no Nordeste (onde cerca de 6,5 milhões de famílias são atendidas pelo Bolsa Família) e é de apenas 1% na região Sul (cerca de 1 milhão).
A imagem pessoal também é uma das razões de voto para 13% dos que escolhem Dilma.
O fato de ser mulher é mencionado por 8% desse grupo, enquanto 2% apontam características como honestidade e credibilidade.
No caso de Serra, 14% escolhem o tucano por conta de sua imagem pessoal, sendo que 8% desse grupo apontam qualidades como honestidade e credibilidade.
Em relação às propostas das duas candidaturas, o total dos que votam em Serra por conta de seu projeto de governo é quase duas vezes superior aos que escolhem Dilma pelo mesmo motivo: 17% a 9%, respectivamente.
O Datafolha também perguntou aos eleitores ainda indecisos a razão de não terem escolhido um ou outro candidato: 18% dizem que não o fizeram por conta da falta de propostas de ambos. Elas teriam dado lugar a discussões entre eles e a baixarias nos debates.
Outros 9% dos indecisos dizem que as propostas não convencem, não são críveis ou claras o suficiente.
Iguais e diferentes, EDITORIAL DA FOLHA
Apesar da retórica agressiva, Dilma Rousseff e José Serra guardam mais semelhanças do que divergências em seus diagnósticos e propostas
Não faltaram trocas de acusações, ânimos exaltados e lances de fantasia mercadológica à campanha presidencial. Tanto ruído terminou por substituir, de modo não de todo inconveniente aos candidatos, a discussão de propostas concretas para o país.
Afinal, quais são as diferenças, no que tange às diretrizes políticas, entre Dilma Rousseff e José Serra? A petista e o tucano não se deram ao trabalho de apresentar com antecedência documentos que merecessem o nome de programas de governo. Se a candidata da situação divulgou tardiamente uma vaga carta de intenções, com 13 "compromissos programáticos", seu opositor coligiu entrevistas e declarações em sua página na internet.
Os debates e a propaganda eleitoral, equivalentes em pasteurização e diversionismo, apenas contribuíram para aumentar a agressividade superficial da disputa.
Privatização e aborto foram os temas que predominaram no segundo turno -mas, tratadas de maneira oblíqua, tais questões foram simplificadas e manipuladas com intuito antes de assustar do que de esclarecer o eleitor.
A tentativa de mapear o que houve de discussão substantiva na campanha encontrará, na verdade, mais semelhanças do que diferenças nos diagnósticos e propostas dos dois candidatos.
Não surpreende que seja assim. Ao longo dos últimos 16 anos, sob os governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, as principais correntes políticas alcançaram aos poucos consensos mínimos, que se mostraram benéficos para o conjunto da população. O próximo presidente herdará um país em que a manutenção da estabilidade da moeda e dos mecanismos de seguridade e inclusão social são objetivos inquestionáveis.
Isso se traduziu, na campanha, na adesão de Dilma e Serra aos pilares da política econômica adotados no segundo mandato de FHC: metas de inflação perseguidas com independência pelo Banco Central, realização de superavit fiscais para abater a dívida pública e câmbio flutuante.
A convergência também aparece no apoio ao Bolsa Família. Dilma tem no programa de distribuição de renda um valioso instrumento para cumprir a difícil promessa de "erradicar a miséria" no Brasil. Serra promete duplicar a abrangência do benefício-tarefa tampouco de fácil execução.
São coincidentes, ainda, as avaliações sobre as carências na infraestrutura, no saneamento básico, na saúde e na educação.
Tucano e petista prometem priorizar o ensino médio, com a criação de escolas técnicas. Um milhão de novas vagas para esse tipo de formação é o compromisso do tucano -enquanto a petista afirma que irá construir centros de educação profissionalizante em quase 600 municípios do país.
Na saúde, pretendem aumentar o número de unidades descentralizadas de atendimento, como forma de diminuir a espera e melhorar a qualidade do serviço médico. Para ampliar a cobertura de saneamento básico, ambos acenam com a desoneração tributária de investimentos.
Mas há diferenças. Em contraste com a política externa do governo, que enfatiza as relações "Sul-Sul", o tucano defende a realização de acordos bilaterais de comércio com países ricos e em desenvolvimento. Em sua visão, o Mercosul não deve limitar o comércio do Brasil com outras nações. Na campanha, criticou a diplomacia brasileira por ser condescendente com governantes de países produtores de droga ou que violam direitos humanos -como é o caso do Irã.
Quanto ao modelo de Estado, a oposição sempre atacou o enfraquecimento, sob Lula, das agências reguladoras e o que vê como excesso e ineficiência de gastos do governo federal. Serra defende mecanismos de gestão que considera menos propícios à incrustação de grupos na máquina estatal, como as Organizações Sociais, espécie de parceria público-privada, implantadas pelas administrações do PSDB em São Paulo.
Embora os dois candidatos tenham acenado com reduções de impostos, as espinhosas questões das reformas tributária e da Previdência foram deixadas de lado.
Os brasileiros vão hoje às urnas escolher entre dois candidatos moderados, com divergências de grau, que não devem promover sol
Folha mostra a trajetória dos candidatos à Presidência
Quando foi indicada pelo PT para ser candidata a presidente da República, Dilma Rousseff defendeu um Estado forte. Mas o histórico escolar da petista mostra desempenho melhor na disciplina "interpretações do capitalismo" do que em "tópicos avançados de macroeconomia keynesiana".
Confira abaixo estas e outras características sobre o perfil da candidata, cuja trajetória começou em escola de freiras em Belo Horizonte e passou por luta armada, prisão, Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul.
JOSÉ SERRA
Ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, José Serra, se apresenta como "obstinado, curioso e diligente". Seus mais fiéis colaboradores traduzem: obcecado, perturbador e perfeccionista. Ele também reconhece: é "um pouco impaciente".
Veja a seguir estas e outras características do tucano no perfil em vídeo com a trajetória do candidato do PSDB à Presidência.