Datafolha mostra que debate da Globo terminou empatado

Publicado em 31/10/2010 08:17

O último debate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), realizado ontem à noite pela Rede Globo, terminou empatado, mostra o Datafolha.

Segundo pesquisa feita ontem pelo instituto, entre os eleitores que assistiram ao debate ou ficaram sabendo do encontro por alguma outra fonte de informação, 24% atribuíram vitória a Dilma, mesmo percentual que apontou Serra como o vencedor.

O debate, segundo a pesquisa, foi visto na íntegra ou em parte por 45% dos eleitores --14% dizem ter visto todo o encontro, enquanto 31% afirmam que viram apenas parte dele.

Quase metade dos entrevistados (42%), quando questionados sobre o debate, não soube responder qual dos dois candidatos se saiu melhor. Para 7%, ambos foram vitoriosos, e 4% dizem que os dois não se saíram bem no programa da Globo.

Entre os eleitores que votaram em Marina Silva (PV) no primeiro turno, a vitória foi de Serra: 25% dizem que ele se saiu melhor no confronto com a petista, enquanto 18% apontam vitória de Dilma.

Na fatia de eleitores indecisos, 15% apontam o tucano como vencedor do debate, ante 8% que dizem o mesmo sobre a petista.

RELIGIÃO

Ao longo do segundo turno, Dilma conseguiu reverter a vantagem que Serra tinha entre os eleitores que se declaram evangélicos, parcela que corresponde a cerca de 25% do eleitorado.

Na primeira pesquisa Datafolha feita após o primeiro turno, Serra aparecia com 49% entre os evangélicos pentecostais e 48% entre os não pentecostais, contra 40% de Dilma em cada um desses grupos religiosos.

Agora, na véspera do segundo turno, a petista passou numericamente à frente de Serra entre os evangélicos pentecostais (47% a 44%, tecnicamente empatados) e empatou entre os não pentecostais (45% a 45%).

Entre os eleitores católicos (cerca de 63% do eleitorado), a petista manteve vantagem de pelo menos 12 pontos percentuais. Na pesquisa atual, ela tem 53% nessa fatia, contra 40% de Serra.

Para eleitor, Dilma é a continuidade, e Serra, o experiente

Dilma Rousseff (PT) é a continuidade. José Serra (PSDB), o mais experiente.

Essas são as duas principais razões que levarão os eleitores dos dois candidatos a votar neles neste domingo.
No caso de Dilma, também aparece como relevante a seus simpatizantes o peso do presidente Lula. No de Serra, o lastro de sua boa imagem como gestor público.
Os motivos que levam o eleitor a votar na petista ou no tucano foram questionados pelo Datafolha em pesquisa realizada na quinta-feira com 4.205 eleitores de 256 municípios. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Dois terços dos eleitores (64%) que dizem votar em Dilma citam Lula, sendo que 49% afirmam que um dos motivos do voto é a expectativa de que ela irá manter as políticas do atual governo.
Mencionam o apoio de Lula como preponderante para a escolha da petista 19%. No Nordeste, onde Dilma lidera com ampla margem, 26% votam nela por causa do apoio do presidente.
No caso de Serra, a comparação entre biografias proposta pelo tucano na campanha "colou" na maior parte de seu eleitorado.
Fatores ligados à sua imagem pública determinam a escolha de 35% de seus eleitores, sendo que uma fatia de 25% desse grupo diz que escolhe o tucano porque ele tem mais experiência política e administrativa. Outros 8% afirmam que ele é o mais preparado para presidir o Brasil.
Ex-ministro da Saúde, o tucano também atrai 22% de seus eleitores por conta do que propõe nessa área, sendo que 10% dizem acreditar que ele irá melhorar a infraestrutura e os serviços de saúde pública.
Lembram-se de políticas implantadas durante sua passagem pelo ministério para justificar sua escolha de voto 6% de seus eleitores.
No caso de Dilma, 10% dos eleitores são atraídos à sua candidatura pelos atuais programas sociais do governo. Nesse grupo, 6% especificam que desejam a continuidade do Bolsa Família.
O percentual sobe a 10% no Nordeste (onde cerca de 6,5 milhões de famílias são atendidas pelo Bolsa Família) e é de apenas 1% na região Sul (cerca de 1 milhão).
A imagem pessoal também é uma das razões de voto para 13% dos que escolhem Dilma.
O fato de ser mulher é mencionado por 8% desse grupo, enquanto 2% apontam características como honestidade e credibilidade.
No caso de Serra, 14% escolhem o tucano por conta de sua imagem pessoal, sendo que 8% desse grupo apontam qualidades como honestidade e credibilidade.
Em relação às propostas das duas candidaturas, o total dos que votam em Serra por conta de seu projeto de governo é quase duas vezes superior aos que escolhem Dilma pelo mesmo motivo: 17% a 9%, respectivamente.
O Datafolha também perguntou aos eleitores ainda indecisos a razão de não terem escolhido um ou outro candidato: 18% dizem que não o fizeram por conta da falta de propostas de ambos. Elas teriam dado lugar a discussões entre eles e a baixarias nos debates.
Outros 9% dos indecisos dizem que as propostas não convencem, não são críveis ou claras o suficiente.

Iguais e diferentes, EDITORIAL DA FOLHA

Apesar da retórica agressiva, Dilma Rousseff e José Serra guardam mais semelhanças do que divergências em seus diagnósticos e propostas 

Não faltaram trocas de acusações, ânimos exaltados e lances de fantasia mercadológica à campanha presidencial. Tanto ruído terminou por substituir, de modo não de todo inconveniente aos candidatos, a discussão de propostas concretas para o país.
Afinal, quais são as diferenças, no que tange às diretrizes políticas, entre Dilma Rousseff e José Serra? A petista e o tucano não se deram ao trabalho de apresentar com antecedência documentos que merecessem o nome de programas de governo. Se a candidata da situação divulgou tardiamente uma vaga carta de intenções, com 13 "compromissos programáticos", seu opositor coligiu entrevistas e declarações em sua página na internet.
Os debates e a propaganda eleitoral, equivalentes em pasteurização e diversionismo, apenas contribuíram para aumentar a agressividade superficial da disputa.
Privatização e aborto foram os temas que predominaram no segundo turno -mas, tratadas de maneira oblíqua, tais questões foram simplificadas e manipuladas com intuito antes de assustar do que de esclarecer o eleitor.
A tentativa de mapear o que houve de discussão substantiva na campanha encontrará, na verdade, mais semelhanças do que diferenças nos diagnósticos e propostas dos dois candidatos.
Não surpreende que seja assim. Ao longo dos últimos 16 anos, sob os governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, as principais correntes políticas alcançaram aos poucos consensos mínimos, que se mostraram benéficos para o conjunto da população. O próximo presidente herdará um país em que a manutenção da estabilidade da moeda e dos mecanismos de seguridade e inclusão social são objetivos inquestionáveis.
Isso se traduziu, na campanha, na adesão de Dilma e Serra aos pilares da política econômica adotados no segundo mandato de FHC: metas de inflação perseguidas com independência pelo Banco Central, realização de superavit fiscais para abater a dívida pública e câmbio flutuante.
A convergência também aparece no apoio ao Bolsa Família. Dilma tem no programa de distribuição de renda um valioso instrumento para cumprir a difícil promessa de "erradicar a miséria" no Brasil. Serra promete duplicar a abrangência do benefício-tarefa tampouco de fácil execução.
São coincidentes, ainda, as avaliações sobre as carências na infraestrutura, no saneamento básico, na saúde e na educação.
Tucano e petista prometem priorizar o ensino médio, com a criação de escolas técnicas. Um milhão de novas vagas para esse tipo de formação é o compromisso do tucano -enquanto a petista afirma que irá construir centros de educação profissionalizante em quase 600 municípios do país.
Na saúde, pretendem aumentar o número de unidades descentralizadas de atendimento, como forma de diminuir a espera e melhorar a qualidade do serviço médico. Para ampliar a cobertura de saneamento básico, ambos acenam com a desoneração tributária de investimentos.
Mas há diferenças. Em contraste com a política externa do governo, que enfatiza as relações "Sul-Sul", o tucano defende a realização de acordos bilaterais de comércio com países ricos e em desenvolvimento. Em sua visão, o Mercosul não deve limitar o comércio do Brasil com outras nações. Na campanha, criticou a diplomacia brasileira por ser condescendente com governantes de países produtores de droga ou que violam direitos humanos -como é o caso do Irã.
Quanto ao modelo de Estado, a oposição sempre atacou o enfraquecimento, sob Lula, das agências reguladoras e o que vê como excesso e ineficiência de gastos do governo federal. Serra defende mecanismos de gestão que considera menos propícios à incrustação de grupos na máquina estatal, como as Organizações Sociais, espécie de parceria público-privada, implantadas pelas administrações do PSDB em São Paulo.
Embora os dois candidatos tenham acenado com reduções de impostos, as espinhosas questões das reformas tributária e da Previdência foram deixadas de lado.
Os brasileiros vão hoje às urnas escolher entre dois candidatos moderados, com divergências de grau, que não devem promover sol

avancos ou mudanças radicais. Não deixa de ser um sinal de amadurecimento político do país.

Folha mostra a trajetória dos candidatos à Presidência

Quando foi indicada pelo PT para ser candidata a presidente da República, Dilma Rousseff defendeu um Estado forte. Mas o histórico escolar da petista mostra desempenho melhor na disciplina "interpretações do capitalismo" do que em "tópicos avançados de macroeconomia keynesiana".

Confira abaixo estas e outras características sobre o perfil da candidata, cuja trajetória começou em escola de freiras em Belo Horizonte e passou por luta armada, prisão, Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul.




JOSÉ SERRA

Ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, José Serra, se apresenta como "obstinado, curioso e diligente". Seus mais fiéis colaboradores traduzem: obcecado, perturbador e perfeccionista. Ele também reconhece: é "um pouco impaciente".

Veja a seguir estas e outras características do tucano no perfil em vídeo com a trajetória do candidato do PSDB à Presidência.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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