Dilma promete reduzir impostos e reavaliar reajuste do mínimo

Publicado em 02/11/2010 20:48

Em sua segunda rodada de entrevistas às emissoras de TV após a vitória, a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) continuou dando os sinais corretos em relação ao que pretende fazer na área econômica. Na noite de segunda-feira, ao Jornal Nacional e à Record, ela havia anunciado que manteria os princípios básicos da economia, com o câmbio flutuante e as metas de inflação. Ontem, no Jornal da Band e no Jornal do SBT, ela sinalizou com redução de impostos.

Na conversa ao vivo com os apresentadores do Jornal da Band e do Jornal do SBT, a presidente eleita foi categórica em afirmar que não criará novos tributos. E ainda prometeu reduzir os existentes, especificamente nos setores de investimento, saneamento básico e medicamentos. Destacou também que vai negociar com as Centrais Sindicais o valor do salário mínimo de 2011 e adiantou que o reajuste será maior do que o previsto pela fórmula atual – que elevaria de 510 para 540 reais o valor do benefício. Acompanhe as principais declarações da presidente eleita.

Volta da CPMF – Dilma falou em cortar tributos. “Eu não pretendo [recriar a CPMF]. Eu pretendo, no caso de reforma tributária, fazer uma redução tributária. Reduzir os tributos sobre investimentos, fazer uma avaliação sobre a questão da folha de salário. Reduzir os impostos sobre medicamentos e saneamento também. E, sobre a energia elétrica, depende de uma discussão com os governadores”.

Mínimo – A candidata prometeu que o reajuste para o mínimo de 2011 vai ficar acima da fórmula tradicional, que leva em conta a inflação mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) registrado dois anos antes. Como em 2009 o PIB não cresceu, a candidata prometeu negociar um aumento acima daquele : “Nós estamos discutindo com as centrais um aumento maior do que esse, já que o PIB de dois anos atrás ficou próximo de zero”.

Loteamento – A promessa é de que a escolha da equipe terá critérios técnicos. “Eu não tenho nenhuma evidência de que há uma briga por cargos no meu governo. Mas acho justo que os partidos queiram estar representados. Vamos estabelecer um critério que vai combinar capacidade técnica com condições políticas, com liderança pessoal.”

Reeleição – Dilma desconversou. “A praxe é essa. Mas eu sou mineira. E prudente. Sem tomar posse, começar a discutir 2014… não é botar a só carroça, mas os carros, os caminhões, tudo na frente dos bois.”

Desvios – A presidente eleita promete rigor: “Eu quero deixar claríssimo para todos aqueles que integrarem o governo que eu não terei a menor complacência nem tolerância com malfeitos”.

Criação de Ministérios – Indecisão sobre o tema. “Eu ainda não me debrucei concretamente sobre isso. Eu tinha um interesse grande em criar um ministério das micro, pequenas e ‘sub-médias’ empresas. E é possível que a gente faça algumas junções. Então, no cômputo geral, ficará na mesma”.

Juros – A redução da taxa atual é a meta. “Não há taxa para haver uma diferença tão grande entre as taxas de juros e as taxas de empréstimo para o consumo. Temos que convergir para uma taxa de juros bem melhor”.

Controle dos meios de comunicação – A petista defende a criação de um marco regulatório, mas rechaça tentativas de legislar sobre o conteúdo. E promete vetar “qualquer tentativa de coibir a imprensa no que se refere à divulgação de idéias, posições, propostas e opiniões”. “O barulho da imprensa, seja que crítica for, é construtivo”, acrescentou.

Política Externa – Dilma promete manter o diálogo com os subdesenvolvidos e lidar de forma respeitosa com os Estados Unidos. “Eu acho o eixo Sul-sul muito importante, até porque ele nos credenciou para ter uma posição de maior importância em todas as relações multilaterais. Pretendo ter uma relação muito próxima com os Estados Unidos, mas soberana: o mesmo respeito que eu quero é o mesmo respeito que eu darei”.

Depois de dois dias de reuniões e entrevistas na capital federal, a presidente eleita viaja na manhã desta quarta-feira e deve tirar alguns dias de descanso. O destino da petista é mantido em sigilo – embora, anteriormente, integrantes da campanha tenham informado que Dilma iria para Porto Alegre.

Dilma e as batatadas sobre o câmbio no Jornal Nacional (comentário de Reinaldo Azevedo)

O Jornal Nacional acaba de reapresentar, agora acompanhada da repercussão, a declaração de ontem de Dilma Rousseff sobre o câmbio, a saber:

“Eu tenho um compromisso forte com a questão dos pilares da estabilidade macroeconômica, um câmbio flutuante. E nós temos hoje uma quantidade de reservas que permite que a gente inclusive se proteja em relação a qualquer tipo de guerra ou de manipulação internacional.”

Bem, vamos ver. Não sou economista, claro!  Mas sou economista o bastante para tratar das bobagens múltiplas contidas em trecho tão curto;
- O nível de reservas do Brasil nada tem a ver com câmbio flutuante. Um país pode ter reservas altas ou baixas com câmbio flutuante ou fixo. Existe no máximo uma correlação entre elas porque, bem, nos dois casos, estamos falando sobre dólares.

2 - Segundo a presidente eleita, as reservas brasileiras nos protegem de ataques especulativos? É mesmo? Assim seria se o ataque se desse na forma de fuga de dólares. Só que o movimento, hoje, é contrário: o que se tem e uma entrada excessiva: com os juros americanos no chão, os investidores vêm aproveitar a nossa taxa, digamos, exuberante! Assim, as vistosas reservas, longe de uma garantia contra o problema em curso, são parte do problema.

3 - A China, cujo câmbio é flutuante só em teoria, é que mantém reservas altíssimas. Pra quê? Justamente para decidir artificialmente o valor da sua moeda, mantida desvalorizada porque isso lhe permite provocar os estragos que provoca nas economias mundo afora.

Eu não estou defendendo câmbio fixo, flutuante, mais ou menos fixo ou mais ou menos flutuante. Só estou deixando claro que a equação da presidente eleita está errada. Os “especialistas” que comentaram a questão preferiram ignorar a salada teórica e falar sobre a tal guerra cambial no mundo. Estamos na fase de preservar Dilma de si mesma.

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Veja.com.br

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