Cana ainda representa prova de fogo para o milho em SP
Apesar da forte demanda por milho sustentada pelas indústrias de ração para frango e gado, a Região Noroeste terá redução de 20% a 25% no plantio de milho, calculam os técnicos da Cooperativa do Agronegócio e Armazenagem de Votuporanga (Coacavo). As áreas mais extensas de produção de grãos estão recebendo cana e, em propriedade menores, cedem espaço para alternativas como seringueiras, relata o gerente comercial da Coavavo, Osvaldo de Carvalho. Em sua avaliação, só um aumento nas cotações – maior do que o de R$ 14 para R$ 22 a saca, registrado nos últimos quatro meses – pode reverter o quadro.
“Recebemos 1 milhão de sacas na última safra, 500 mil a menos que em 2002/03, e agora devemos receber 800 mil. Esperamos que a produção se estabilize nesse patamar”, afirma.
Por outro lado, quem insiste no cereal diz que as coisas começam a melhorar. “O preço estava ruim demais. Ainda não está bom, mas ficou melhor”, afirma Eder Esteves. Ele plantou 200 hectares de soja e 100 de milho na safra passada e na atual está cultivando parcelas iguais de 150 hectares. “Os bois é que puxam a renda”, relata. Sua família engorda 400 bovinos por ano e explora também a pecuária leiteira, com produção de 1,5 mil litros ao dia.
A cana compete com a produção de grãos do Centro-Oeste ao Nordeste do país, mas mostra menos força diante das lavouras de soja. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, os produtores consideram que a área da oleaginosa segue estável. Porém, o estado tem, além das 13 usinas em funcionamento, 23 programadas. Se cada projeto tomar de 40 mil a 50 mil hectares, a pressão será inevitável, diz Sadi Depauli, assessor especial da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) no estado.
Região da soja reforça opção pelo grão
A rotação de cultura prevalece na Região Sul de São Paulo. Os produtores monitoram o mercado e, na hora de decidir, levam mais em conta a produção a longo prazo, mudando de planos somente dentro de uma margem de segurança. Mesmo com essa preocupação, “o milho perdeu 15% de área para a soja”, afirma o responsável técnico da Castrolanda em Itaberá (Sul paulista). A cooperativa paranaense abrange 12,4 mil hectares cultivados com a oleaginosa e 3,1 mil hectares do cereal nessa região. Como na maior parte do estado, o milho já foi plantado e, após as chuvas do fim de semana, é hora de semear a soja.
O produtor Carlos Moulatlet conta que manteve 1,1 mil hectares de soja e 640 ha de milho para seguir o sistema de rotação de culturas. “Se não seguisse, no futuro posso ter de plantar proporção ainda maior de uma cultura inviável, ficaria refém do mercado”, justifica. Sua perspectiva é que os preços da soja estão melhores que os do milho, mas podem continuar subindo. “Tudo leva a crer que quem antecipou não fez a melhor venda.”