É hora de o Brasil ampliar a área plantada', diz consultor

Publicado em 17/11/2010 08:31
O Brasil precisa alinhar suas políticas agrícola e ambiental para permitir que sua área plantada com grãos volte a aumentar, e de maneira sustentável. Caso contrário, diz Alexandre Mendonça de Barros, do braço da consultoria MB Associados dedicado a estudos sobre o setor, o país desperdiçará oportunidades abertas por uma tendência de aumento da demanda internacional por alimentos que já colabora para elevar seu status geopolítico e certamente vai durar mais algumas décadas.

"O mundo está oferecendo um mundo de oportunidades ao Brasil", resume o engenheiro agrônomo com doutorado em economia aplicada na Esalq/USP. Ele lembra que investimentos em tecnologia garantiram um forte aumento da produção brasileira de grãos na última década mesmo com um menor incremento da área plantada, mas ressalva que esse processo tem limites e que será impossível manter o mesmo ritmo nos próximos dez anos.

Estatísticas da Conab mostram que, na safra 2000/01, quando a produção nacional de grãos superou pela primeira vez 100 milhões de toneladas, a área plantada foi de 37,8 milhões de hectares. Em 2010/11, que está em fase de plantio, a colheita deverá beirar 150 milhões de toneladas, em 48 milhões de hectares. Ou seja, a produção cresce praticamente 50% na comparação, enquanto a área aumenta 27%. A diferença está na produtividade média geral, que sobe cerca de 20% de lá para cá.

Representantes do agronegócio estimam que a área de cultivos poderá ser ampliada em até 90 milhões de hectares sem agressões ao ambiente. O cálculo considera avanços sobre pastos e áreas degradadas, e inclui culturas perenes como cana, café, laranja e eucalipto. A cana, a mais espaçosa entre elas, ocupa, hoje, pouco mais de 7 milhões de hectares. Essa discussão está em alta por causa do novo Código Florestal, e os ambientalistas são menos otimistas.

"As margens na agricultura cresceram com produtividade, mas agora temos que inaugurar um novo ciclo para ampliá-las", defende Mendonça de Barros. Para ele, o Brasil é vítima de falsas dicotomias - "agronegócio x agricultura familiar", "agricultura x ambiente", "alimentos x energia" - e para rompê-las é preciso união. Sem políticas convergentes, afirma, os custos subirão a ponto de ceifar a competitividade de um setor que prima pela eficiência.
"No imaginário externo", continua, "o Brasil é imbatível" mesmo sem os subsídios em larga escala oferecidos no mundo desenvolvido ou em emergentes como China e Índia.

Mas isso não basta. "Não acredito que não seja possível criar uma política econômica harmônica. É preciso entender que, 'na última linha' do balanço, todo mundo quer ter renda". E diz: "Nos centros urbanos existe um sentimento de que é fácil produzir, e isso é mentira. Foi preciso um grande esforço de tecnologia para ocupar o Cerrado, por exemplo".

Ele afirma que antes da disparada da demanda dos emergentes por alimentos - que colaborou, com o empurrão de especuladores, para as máximas históricas das cotações internacionais de commodities como soja e milho em meados de 2008 -, a abundância de oferta segurou preços e contribuiu para a banalização, mas o atual processo de valorização do campo e seus "ativos", que atrai novos investidores ao Brasil, tende a quebrá-la.

Segundo Mendonça de Barros, fazem parte desse processo outras transformações visíveis, como as profissionalizações e concentrações da produção em diversas cadeias.

"A tendência de concentração é inexorável. Nos Estados Unidos, menos de 1% da população permanece no campo. Mais um motivo para a promoção de políticas integradas. Se o apoio ficar restrito aos grandes produtores e aos familiares, como ficará a classe média rural?".

Paralelamente, crê, o governo tem de voltar a investir com mais força na abertura de novos mercados para os produtores brasileiros, processo que, para ele, perdeu força nos últimos anos - ainda que ontem os EUA tenham confirmado a abertura de suas fronteiras à carne suína de Santa Catarina.

E, nesse ponto, o país terá de encarar paradoxos. "Como o Brasil conseguirá harmonizar limites à aquisição de terras por estrangeiros com suas demandas por novos mercados ou o interesse de investir na África? É hora de alinhamentos estratégicos. Com a Ásia, por exemplo", afirma.

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Fonte:
Valor Econômico

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