Com a mesma cara, editorial da Folha
Há uma certeza em matéria de formação de ministérios: tudo pode mudar até que oficialmente se conheçam os indicados. Quem acompanha o noticiário acerca da futura equipe da presidente eleita Dilma Rousseff não terá deixado de perceber a dança de nomes e funções.
O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho, por exemplo, já foi cotado para a Casa Civil e a Saúde, mas nos últimos dias parecia a caminho de uma reestruturada Secretaria Geral da Presidência da República.
Nesse jogo de pressões, balões de ensaio e muita especulação, algumas definições vão no entanto surgindo -e confirmam a impressão de que o primeiro time da futura presidente terá novidades, mas preservará, ao menos no início, feições do ministério de Lula.
OCDE recomenda que o Brasil eleve juro para conter preços
Previsão é que País cresça 7,5% neste ano e que a inflação fique acima da meta nos próximos dois anos
A OCDE acrescentou que "intervenções e impostos sobre o fluxo de capital, para limitar a apreciação da moeda (brasileira), podem não ser eficiente e se tornarem caras no contexto de um aumento na taxa de câmbio real de equilíbrio em consequência das descobertas de petróleo" no país.
A OCDE considera que o Chile, que deve crescer 5,2% este ano e ter a expansão acelerada para 6,2% em 2011, deve "continuar elevando o juro gradualmente, para um patamar neutro, a fim de manter as expectativas de inflação ancoradas". O Chile elevou o juro na terça-feira de 2,75% para 3%. No primeiro semestre, a taxa estava em nível recorde de baixa a 0,5%. A taxa de inflação foi de 2,8% no período de janeiro a outubro e deve ficar dentro da meta do banco central de um ponto porcentual acima ou abaixo de 3% no restante do ano.
A OCDE disse ainda que o México tem espaço para manter o juro inalterado em 4,5% até o início de 2012, uma vez que a inflação tende a convergir para a meta de 3% do banco central no segundo semestre de 2011, do atual nível de 4%. A OCDE espera que a economia mexicana cresça 5% este ano. As informações são da Dow Jones.
A notícia de que Guido Mantega prosseguirá na Fazenda, conforme a Folha havia antecipado na edição de ontem, confirma essa tendência de deslizamento de setores do atual governo para o começo do próximo.
Prosseguir com Mantega -e talvez com Henrique Meirelles no Banco Central- teria a vantagem de propiciar à presidente eleita um princípio de mandato com menos turbulências numa área estratégica e sensível a especulações.
Embora as relações entre os dois possam ser vistas como conflituosas, pelo perfil mais "desenvolvimentista" do titular da Fazenda e a inclinação "ortodoxa" do banqueiro, o antagonismo transcorre de maneira já perfeitamente codificada, dentro de limites conhecidos. Por mais que divirjam -o que não deixa de ser um aspecto saudável e útil para o presidente- sabe-se que a disputa não chegará ao ponto da ruptura.
Há, além disso, o conhecimento que ambos detêm da operação em suas áreas e o reconhecimento conquistado nos fóruns nacionais e internacionais. Se ao ex-ministro Palocci deve-se conceder boa parte dos méritos pela continuidade das diretrizes sensatas do período Fernando Henrique Cardoso, não há dúvida de que Meirelles, inicialmente visto com alguma desconfiança, soube reforçar a autoridade do BC.
Quanto a Mantega, que chegou à pasta cercado de interrogações, terminou por se mostrar efetivo em momentos decisivos, como no enfrentamento da crise financeira global de 2008.
A provável desvantagem de mantê-los em seus cargos está no fato de que o cenário mudou -para pior- e o próximo governo precisará promover uma inflexão na política econômica. A pergunta que se faz é se seriam os dois os melhores nomes para a tarefa. Além do efeito "fadiga de material", a gestão de Mantega está longe de ter se notabilizado por bons resultados fiscais. Artifícios foram usados para gerar saldos nas contas públicas e recursos foram direcionados para políticas e finalidades no mínimo duvidosas.
Quanto a Meirelles, cuja permanência é um tanto incerta, questiona-se até que ponto reuniria condições de resistir às injunções políticas. No mercado financeiro avalia-se que o BC teria deixado se influenciar por conveniências eleitorais ao interromper a alta da taxa de juros neste ano.
Manter a atual equipe econômica seria sem dúvida vantajoso à transição entre os dois governos, mas pode não ser o mais indicado para fazer decolar as novas políticas de que o país precisa.