Energia: Reservatórios em baixa deverão afetar conta de luz

Publicado em 25/11/2010 07:34
Falta de água para as hidrelétricas força o aumento de geração pelas termelétricas; custo extra de R$ 500 mi será pago pelo consumidor - Risco de haver apagão é descartado, mesmo com armazenamento nos reservatórios abaixo das metas estipuladas

Os reservatórios das usinas hidrelétricas do Nordeste, do Sudeste e do Centro-Oeste vão encerrar o mês abaixo do nível determinado pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o gestor do SIN (Sistema Interligado Nacional).
Isso ocorrerá mesmo com o aumento da geração de energia por termelétricas, mecanismo usado para garantir que o nível-meta dos reservatórios para o fim de novembro fosse atingido.
A situação é de atenção, embora haja indicações de que o período de chuvas, que se inicia agora, seja generoso para o setor elétrico, principalmente em razão do enfraquecimento do fenômeno climático La Niña, o que pressupõe chuvas acima do pior nível histórico no verão.
Apagões por falta de energia estão afastados, porque, se houver chuvas insuficientes para encher os reservatórios, o ONS tem a opção da geração térmica. O problema é o custo para o consumidor.
O valor que o consumidor deve receber na sua conta de luz em 2011 por geração "fora da ordem de mérito de custo" (fora do critério de geração pelo preço mais baixo) já chega a R$ 500 milhões.
O custo dessa produção de energia em 2009 foi de R$ 230 milhões. A despesa deste ano não atingiu os R$ 2,3 bilhões de 2008, mas indica aceleração desse custo.
A substituição da geração hidrelétrica pela termelétrica foi o mecanismo encontrado pelo CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) em 2008, exatamente quando o país consumiu a energia armazenada nos reservatórios e topou com um verão de poucas chuvas.
Embora tenha turbinas suficientes para abastecer o país, o regime de chuvas precisa ser favorável.
O país não pode entrar no período seco (que se inicia em maio) com níveis baixos nos reservatórios -do contrário, terá problemas de abastecimento ao longo do inverno. Se isso ocorrer, o país terá de acionar o parque de geração térmica.
A região que compreende o Sudeste e o Centro-Oeste deve fechar o mês com 39% do nível de armazenamento nos reservatórios. O objetivo em novembro era entre 43% e 44%. Segundo dado do ONS para o dia 23, o nível dos reservatórios dessas regiões estava em 40,85%.
No Nordeste, a situação é semelhante. Na terça-feira, o nível dos reservatórios estava em 39,50%. Pela meta original, era para estar em 45% no fim de novembro.

Governo diz que não há risco de falta de energia

Para ONS, que opera o sistema elétrico, chuvas de verão recomporão reservas - Grandes consumidores reclamam de ter de pagar por energia mais cara a fim de poupar água dos reservatórios


O diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Hermes Chipp, diz que não há riscos de faltar energia no país em 2011.
De acordo com ele, as chuvas de verão devem ficar acima do pior cenário já registrado na série histórica, o que permitirá a recomposição dos reservatórios até o fim da estação.
Foi essa tendência, indicada pelos meteorologistas, diz Chipp, que levou o governo a não acionar em outubro e novembro as termelétricas a óleo pesado, mais caras.
A geração com térmica a gás natural, por exemplo, custa cerca de R$ 230 por MWh (megawatt-hora). As movidas a óleo podem custar até R$ 600 o MWh.
O acionamento destas resultaria na explosão do custo do ESS (Encargo de Serviço do Sistema), mecanismo pelo qual é debitada essa conta de todos os consumidores no ano subsequente ao gasto.
Para evitar esse custo excessivo, o grupo de monitoramento do setor elétrico optou, sob recomendação do ONS, por manter as térmicas a gás ligadas por mais tempo, embora isso não tenha sido suficiente para atingir metas.
Ele diz que governo e ONS trabalham no aprimoramento do mecanismo para atingir as metas de água nas hidrelétricas. Segundo ele, a transição do fim do período seco para o início do período chuvoso é o momento que mais tem gerado atenção.

CRÍTICA
Os grandes consumidores de energia consideram o mecanismo que permite geração de energia mais cara para poupar água de reservatórios uma solução custosa demais.
A Abrace (associação de consumidores industriais e livres) diz que os contratos de compra de energia negociados deveriam garantir o fornecimento e que o encargo de serviço -rubrica para onde vai a conta da geração térmica- é um custo adicional.
"As empresas têm contratos com valores definidos para obter o insumo. Só que, no final do exercício, o governo apresenta uma conta adicional para garantir o abastecimento. Todo planejamento de custos da empresa começa a ficar comprometido", disse Paulo Pedrosa, presidente da Abrace.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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