Mas o que é o PMDB? Uma federação que reúne os bichos mais estranhos e díspares. Só que há um comando. E os patriotas que estão no topo da cadeia alimentar são Michel Temer, o vice-presidente eleito; os senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), e os deputados Henrique Eduardo Alves (RN) e Eduardo Cunha (RJ). E essa gente está bastante descontente com a “reforma ministerial” promovida por Lula.
A presidente eleita, Dilma Rousseff, quer dar cinco ministérios para o partido, que acha pouco. Os predadores consideram que a Defesa, onde fica Nelson Jobim, e a Saúde — o provável indicado é Sérgio Cortês — são da cota pessoal da presidente eleita. Faz sentido? De certo modo, sim. Jobim não ocupa a vaga por indicação partidária, todo mundo sabe. Cortês, diz agora Sérgio Cabral, governador do Rio, não foi exatamente indicação sua, mas escolha de Dilma.
Assim, aquele grupo que exerce a hegemonia no partido até se contentaria com as cinco pastas, mas descontadas as duas — ou seja, sete. E quer uma compensação pela perda do Ministério das Comunicações, que vai para o petista Paulo Bernardo. Além do patriotismo que lhes é muito próprio, os peemedebistas precisam de cargos para acomodar a máquina partidária. A Defesa, apesar de um belo naco do Orçamento, não se presta muito a esse papel. Também não tem capilaridade para “fazer política pública”, entenderam? A Saúde é um latifúndio, sim, mas, hoje, mais desgasta do que rende dividendos. E é uma pasta bastante submetida à vigilância da imprensa. Mais: Dilma concentrou boa parte de suas promessas eleitorais nessa área: fará, para o bem e para o mal, o que achar melhor, independentemente do que queiram os peemedebistas.
Antonio Palocci, o futuro chefe da Casa Civil, já está em campo, tentando apaziguar os ânimos. Está lá para isso. A equação é delicada. O PMDB percebeu que o núcleo decisório do governo, o primeiríssimo escalão mesmo, aquele onde as coisas de fato se decidem, ficou com uma equipe de lulistas. Nem à presidente eleita coube escolher muito. Lula é uma espécie de Putin informal de sua Medvedev.
Alijado do centro do poder, o PMDB quer ministérios que tenham dinheiro e que lhe dê condições de manter satisfeita, com cargos e obras, a faminta máquina partidária. Ou ameaça fazer valer o seu “poder de fogo” no Congresso.