Fertilizantes: celeiro do mundo, Brasil tem solo pobre

Publicado em 06/12/2010 08:56
Se o ritmo acelerado do incremento industrial de Três Lagoas já impressiona, para os próximos dez anos, a cidade definitivamente não será a mesma – afirmam gestores da Petrobras, que estiveram em Três Lagoas nesta quinta-feira (2), num curso sobre energia ministrado a jornalistas.

José Alberto Montenegro Franco, engenheiro de processamento e consultor sênior da Petrobras, foi o responsável por expor todas as etapas do empreendimento da UFN III (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III) – que se justifica pela demanda dos insumos para a produção de alimentos, cada vez maior, frente à falta de investimentos no setor nas últimas décadas e a pobreza do solo brasileiro.

Com a segurança de quem está há mais de 40 anos na empresa, Franco detalhou o projeto tecnicamente, e esclareceu os questionamentos que mais incomodaram os treslagoenses durante a audiência pública para o licenciamento ambiental da fábrica, realizada em 16 de setembro – como a captação de água do aqüífero Santo Anastácio, bem como a passagem do duto para tratamento de efluentes, que teve o traçado modificado. A solidez dos argumentos, na exposição aos jornalistas, talvez tenha sido o que faltou na ocasião da audiência – que gerou mais ansiedades que sentimentos positivos na população, em relação à fábrica.

FERTILIZANTES
A preocupação em solicitar uma área grande para a instalação do empreendimento em Três Lagoas (no distrito industrial do Moeda, na BR 158, rumo a Brasilândia) deve-se ao exemplo do pólo petroquímico de Camaçari (BA): lá, a operação da fábrica de fertilizantes (FAFEN-BA) atraiu outras 34 empresas, a maioria voltada a atividades do próprio setor. “A área doada tem 420 hectares; a fábrica, de fato, ocupa menos de 100. Há área disponível para o anel florestal em volta. Mas a preocupação é justamente essa: haver espaço para a expansão de um pólo industrial. Se não tivermos fábricas para mistura de fertilizantes, por exemplo, do que adianta ter produção de uréia? A ideia é produzir para abastecer o mercado local e mais próximo, porque o custo com transporte é o que encarece o produto”, analisa Franco.

UFN III
As obras de terraplanagem iniciam em meados de 2011, e a operação, em 2014; a capacidade de produção diária da fábrica é de 3,6 mil toneladas de uréia e 2,2 mil toneladas de amônia (parte da amônia será consumida para fabricar uréia). O objetivo é atender o mercado doméstico de uréia, substituindo as importações – atualmente, o Brasil, um dos países com maior possibilidade de expansão das fronteiras agrícolas, importa por volta de 75% de toda a demanda doméstica por fertilizantes nitrogenados. Os investimentos da UFN III somam US$ 2,1 bilhões.

Os estudos para a escolha do local da nova fábrica levou seis anos – Três Lagoas é um ponto central estratégico para a distribuição dos fertilizantes para os centros consumidores do Sudeste e Centro-Oeste. A Petrobras já engatilha outros dois projetos: a UFN IV (em Linhares, no Espírito Santo, para produção de uréia e metanol) e a UFN V (em Uberaba, Minas Gerais, para produção de amônia). A estimativa é de que os investimentos da Petrobras no setor de fertilizantes nitrogenados chegue a US$ 5 bilhões até 2015.

ÁGUA
Sobre a retirada de água do aquífero Santo Anastácio, e não do Rio Paraná, Franco explica que o próprio tratamento da água superficial gera resíduos – extraída diretamente do aqüífero, a água, mais limpa, gera menos efluentes. A Petrobras vai captar 900 metros cúbicos de água por hora, segundo previsão do Estudo e do Relatório de Impactos Ambientais. O reciclo da água dentro do complexo de produção também foi evidenciado.

“O órgão ambiental (Imasul) liberou a captação do aqüífero com a condição de que dois poços experimentais sejam construídos primeiro. O projeto todo prevê 10 ou 12 postos”, explica.

Caso haja alteração nos estoques de recursos hídricos nesta etapa experimental, Franco afirma que o Imasul pode revogar a licença, e a empresa deve realizar estudos para captar água do Rio Paraná.

MÃO-DE-OBRA
Na fase de construção da fábrica, devem ser gerados cerca de 5 mil postos de trabalho. Na fase de operação, concursos públicos deverão selecionar 505 novos funcionários da UFN III. Mas leis municipais exigem a contratação de dois terços de mão-de-obra da região no empreendimento. Franco disse que a Petrobras está atenta a essas condições. Os concursos vão existir, invariavelmente, mas processos seletivos regionais devem ser feitos para preencher as vagas locais.

O Prominp (Plano Nacional de Qualificação Profissional para a Indústria do Petróleo e Gás Natural) e Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) devem abrir cursos para capacitar cerca de seis mil futuros profissionais do setor.

Fonte: Hoje MS

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Estoque de Cédulas de Produto Rural registradas alcança R$325 bilhões em março
Joint venture criada por Bosch e BASF avança em nova tecnologia para aprimorar a aplicação seletiva de herbicidas
Adesão ao leasing de pivôs de irrigação deve crescer até 15% em três anos, segundo especialista
Auditores agropecuários vão votar indicativo de greve dia 7 de maio
Instituto Agronômico e Coopercitrus lançam Programa Drones SP