Dilma já tentou, quando candidata, fazer omelete no programa de Luciana Gimenez, na Rede TV. Falhou! No de Ana Maria Braga, ontem, quase conseguiu. A omelete “liinda”, segundo a apresentadora, seduziria certamente aquelas fomes que levaram o primeiro homem a comer a primeira ostra… A presidente, mais uma vez, conseguiu quebrar os ovos, inclusive os da língua portuguesa, mas, à diferença de Stálin, não fez a omelete.
Nota à margem: lembro de novo que a famosa frase “Não se pode fazer omelete sem quebrar os ovos” não é do ditador soviético. Trata-se de uma crítica a ele feita por Nadejda Mándelstam, mulher do poeta Ossip Mándelstam, assassinado a mando do ditador. No livro em que fala da culinária do mega-homicida, ela afirma sobre o verdugo bigodudo: “Cada nova morte era justificada com a desculpa de que construíamos um notável mundo novo”. Vale dizer: o futuro (a omelete) pedia a “quebra dos ovos” (as mortes). Está na página 114 do livro “Stálin - A Corte do Czar Vermelho”, de Simon Sebag Montefiore. Sigamos com Dilma. Peço a vocês que vejam um trecho de sua performance no programa de Ana Maria. Eu mesmo só vi este. Certamente descobrirei preciosidades nos outros.
Voltei
Ok. Tem lá a sua graça ver Ana Maria a exaltar os dotes culinários da presidente — que, visivelmente, não tem nenhum. Ao contrário! Ela é muito atrapalhada. Nunca antes na história da culinária, a cebola da omelete foi posta antes para fritar na frigideira… Pô! Custava ter treinado um pouco para não dar vexame? Ana Maria acusou o golpe: “Ah, a senhora mistura lá (na frigideira), então, a cebola!? Nós vamos aprender a fazer um omelete diferente…” Ô!!!
O ponto alto da pauta gastronômica se deu com a seguinte pergunta de Dilma: “Esse aqui é sal?” Sem ver o potinho que a presidente pegava, Ana Maria confirmou. Dilma, então, meteu a mão no pó branco e salpicou a sua gororoba. O que se seguiu entra para a história dos programas de culinária. No céu, Ofélia deve ter dado uma gargalhada. Constata a apresentadora segundos depois: “Não, esse não é sal! Eu vou estragar o seu omelete, mas vai ficar ótimo, sabe por quê? Porque, colocando um pouquinho de bicarbonato de sódio…” Dilma emenda: “Ele fica melhor!”
Quem mais, neste vasto mundo, confundiria as texturas do sal e do bicarbonato? Um, por mais refinado que seja, é grão; o outro é pó! E quero aqui deixar uma coisa muito clara: Dilma não tem obrigação nenhuma de saber cozinhar só porque é mulher! Eu mesmo já rompi essas supostas obrigações de gênero há muito tempo, feminista que sou! Nunca liguei um carro, por exemplo. Não guio. Mas não me atrevo a dar aula de direção!
Batendo um papinho enquanto Dilma descobria o que era um ovo, Ana Maria quis saber se ela ia para a cozinha, se gostava de fazer comidinhas e tal.
— Meu negócio é sopa!
— A senhora faz sopa pronta ou sopa…
— Não! Eu faço sopa desde o início!
A “sopa desde o início” não é uma categoria ontológica nova, leitor! É, assim, uma espécie de Nossa Senhora de Forma Geral das Sopas!
A língua apanhou bastante, coitada! Ana Maria quis saber, também ela com uma apreensão bastante particular do idioma: “A senhora chega a fazer alguma ida na cozinha?” Dilma demonstrou que a fronteira entre os pronomes do caso oblíquo e do caso reto está superada e mandou bala na inculta e bela: “Agora não tem tempo mais pra mim ir lá na cozinha, não!” Pois é… Ali pelos 50 segundos, falando sobre a perda de peso — a presidente disse estar seis quilos mais magra —, a apresentadora quis saber: “Mas a senhora se esforça para isso”. E ela “Se esforço…“
Tudo isso é mera pegação no pé? Não! É cumprimento de uma obrigação. Uma presidente da República fazendo uma omelete num programa de variedades da principal emissora do país está fora do lugar. No que concerne ao poder, é uma operação de marketing político. Trata-se de um esforço de popularização da imagem. O meu papel é analisar seu desempenho.
CPMF
Podemos, claro!, ir para questões bem mais sérias. Como vocês puderam notar, Dilma já não nega mais de pés juntos que esteja pensando em recriar a CPMF — como, aliás, informei aqui precocemente. De fato, ela admite a possibilidade, depois de ter o “diagnóstico” do setor, que estaria sendo feito agora. Agora? No NONO ano do governo petista? Entendo! Esse é o governo quer cortar R$ 6,5 bilhões em fraudes praticadas no governo do… PT!
Uma questão aparentemente irrelevante, mas que dá conta do estado das artes: a imprensa noticiou com estardalhaço que Dilma cumpria uma promessa de campanha ao anunciar a distribuição gratuita de remédios para hipertensão e diabetes. Escrevi aqui: “Esses remédios já são gratuitos”. Muita gente deve ter achado que eu estava maluco — até porque sozinho na afirmação. No vídeo acima, é Dilma quem diz que eles já eram distribuídos pelo SUS. Ela só mudou o local de distribuição. Ah, bom!
Ok. Dilma não sabe fazer omelete, mas não vai mesmo ser chefe de cozinha. Tudo bem! Tropeça nos pronomes, mas não vai mesmo ser chefe da Fundação Casa de Rui Barbosa. Tudo bem! Ela preside o Brasil, ao qual prometeu que não recriaria o imposto da Saúde.
É aceitável que uma política não saiba a diferença entre sal e bicarbonato de sódio. Mas é imperioso que saiba a diferença entre a verdade e a mentira.
PS - “A” omelete, como escrevo, ou “o” omelete, como querem as duas? Ambos. É substantivo comum de dois gêneros em português. Em francês, “omelette” é feminino. Aliás, alguns puristas consideram que esse é um galicismo inaceitável em nossa língua e defendem a palavra “omeleta”. Já imaginaram? “A omeleta da presidenta!”