Japão: novo incendio no reator 4 aumenta risco de contaminação nuclear
Na véspera, uma explosão provocou um incêndio no mesmo reator, que danificou o teto do prédio que o abriga. A instalação nuclear, na província japonesa de Fukushima, foi bastante afetada pelo terremoto de magnitude 9 seguido de tsunami que devastou regiões costeiras japoneses no dia 11. Três outros reatores foram afetados.
Gravidade - Um órgão norte-americano especializado em segurança nuclear afirmou que a situação na usina Fukushima Daiichi "piorou consideravelmente" e que o acidente nuclear pode chegar ao nível 7 (acidente grave), o máximo na escala que mede incidentes nucleares. A avaliação é do Institute for Science and International Security (ISIS). Apenas o desastre de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, chegou a esse patamar.
Um evento de nível 7 envolve uma liberação maior de material radioativo e requer medidas mais amplas. A entidade pediu à comunidade internacional que aumente a ajuda ao Japão para conter a situação de emergência nos reatores e para evitar uma contaminação maior.
Varetas de combustível de 2 reatores foram danificadas
Mais cedo, o diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA), Yukiya Amano, havia dito que um dano limitado poderia ter ocorrido no núcleo do reator 2 da usina nuclear de Fukushima, atingida por um terremoto no Japão. Em entrevista coletiva, ele afirmou que as notícias são preocupantes, e que existe "a possibilidade de danos ao núcleo" depois da explosão no reator 2.
Amano, que é japonês, estimou que o problema pode ter afetado 5 por cento do combustível nuclear. Segundo ele, é possível que tenha havido também danos na parte inferior do vaso de contenção primária, mas que isso não foi confirmado. "É uma rachadura? É um buraco? Não é nada? Isso não sabemos ainda", afirmou Amano. Mas ele alertou que a pressão dentro do reservatório de contenção primária não diminuiu. "Se houvesse um dano enorme, a pressão cairia", disse.
Os responsáveis tentam impedir um acidente mais grave, com vazamento radioativo. O problema é que o sistema de resfriamento parou de funcionar por falta de energia elétrica e da subsequente exaustão dos geradores de apoio, necessários para dar energia às bombas que levam a água do mar até o sistema de resfriamento. Sem a agilidade do sistema, a água chega muito devagar aos reatores e ferve rápido demais. Com a temperatura elevada, as varetas de combustível, que isolam o urânio (o combustível nuclear), podem derreter.
A partir daí, as barras de controle, o vaso de controle (que abriga as varetas e as barras de controle) e ainda a contenção (que abriga o vaso de controle) podem ser danificados com o derretimento do urânio. A situação é considerada grave porque há risco de vazamento do material radioativo. Além disso, o derretimento faz com que o núcleo do reator fique instável, podendo ocorrer explosões - elas ocorrem porque o calor faz a água evaporar e no processo sobra hidrogênio, que é altamente inflamável. No limite, o interior do vaso de controle transforma-se em uma bomba.
(comentário de Reinaldo Azevedo)
A energia nuclear, o apocalipse e a banalização da tragédia
O acidente nuclear do Japão já desperta paixões extremas. Os que se opõem à exploração da energia nuclear acreditam que estão se cumprindo, mais uma vez, as suas piores predições. Os que são favoráveis acusam o obscurantismo dos adversários e preferem o conforto das metáforas: “A Lei da Gravidade não é culpada pela queda de aviões”. Ou ainda: “O arsênico, que é venero, bem-administrado pela ciência, é remédio”. Com informações da Reuters e da BBC, o G1 fez um apanhado do que disseram autoridades sobre o desastre no Japão. Leiam. Volto em seguida.
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A Comissão Européia qualificou nesta terça-feira (15) o acidente nuclear do Japão de “apocalipse”, por considerar que as autoridades locais perderam praticamente o controle da situação na central de Fukushima. “Fala-se de apocalipse e acredito que é um termo particularmente bem escolhido”, declarou o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, ante uma comissão do Parlamento Europeu em Bruxelas. “Praticamente tudo está fora de controle”, acrescentou o comissário, que não descartou o pior nas próximas horas e dias no Japão.
A Autoridade de Segurança Nuclear da França (ASN) informou nesta terça-feira (15) que as explosões ocorridas na central japonesa de Fukushima Daiichi atingiram o nível seis de gravidade em uma escala internacional que vai até sete. O Japão, até o momento, classificou os acidentes em nível quatro. O nível sete da chamada escala INES, de classificação de eventos nucleares, utilizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), só ocorreu uma vez no mundo, na catástrofe de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
“Estamos em uma situação diferente da observada ontem. É evidente que estamos em um nível seis, que é um nível intermediário entre o que ocorreu na central americana de Three Mile Island (em 1979) e em Chernobyl”, afirmou o presidente da Autoridade de Segurança Nuclear francesa, André-Claude Lacoste.
“Estamos em uma catástrofe evidente”, disse Lacoste A França possui o segundo maior parque nuclear do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com 19 usinas e 58 reatores que produzem 80% da energia elétrica do país. O nível seis da escala INES significa “acidente grave, com liberação importante de material radioativo que exige a aplicação integral das medidas previstas (como cuidados sanitários e afastamento da população da área atingida)”.
Voltei
Apocalipse? O adjetivo “apocalíptico” costuma ser empregado para desqualificar uma avaliação considerada despropositada, exagerada, fora da realidade. É preocupante que Günther Oettinger, que responde pelo setor de energia na União Européia, recorra a ela. Ele não é, assim, um Verde radial. É membro da CDU, a União Democrata-Cristã, da Alemanha e integra a base do governo de Angela Merkel, que reviu uma decisão tomada em 2001 pelos sociais-democratas em favor da extinção do uso da energia nuclear na Alemanha.
O que assusta no Japão em particular e remete a um temor mais geral no que diz respeito à energia nuclear? Oettinger responde, mais uma vez, de modo que parece realista, não apocalíptico: “Praticamente tudo está fora do controle”. Aí, meus caros, não há metáfora que resolva. E notem que estamos nos referindo a um país em cuja disciplina e apuro técnico o mundo aprendeu a confiar — e por bons motivos.
Claro! Pode-se perguntar: “E se o vazamento de petróleo no Golfo do México não tivesse sido controlado? A catástrofe não seria maior? Vamos parar de usar petróleo por isso?” Uma competição de catástrofes não resolve o problema nem da exploração de petróleo em águas profundas nem da segurança da energia nuclear. Os aviões não serão extintos porque caem de vez em quando. Lamenta-se a queda, buscam-se as causas, mas é fato que o episódio é um evento fechado, que não gera uma cadeia de desastres que se estende história afora. Não é assim com eventuais acidentes com as usinas nucleares.
Não creio que a humanidade possa prescindir da energia nuclear. Nada menos de 60% da energia elétrica da França, por exemplo, vem dessas usinas. Mas é evidente que se impõe uma rigorosa revisão das condições de segurança.
Todo mundo sabe o que fazer quando cai um avião, além de lamentar. Os acidentes nucleares, até agora, provocam mais perplexidade do que respostas imediatas. E também não vale dizer que o caso do Japão é excepcional porque, afinal, houve um terremoto… Os terremotos estavam no Japão antes das usinas. De volta à prancheta!