Cenário positivo para o campo acelera quitação de dívidas no Brasil

Publicado em 12/04/2011 07:02
O campo brasileiro vive um momento excepcional de produtividade em alta e forte aumento da rentabilidade. As razões são os picos históricos de preços de algumas commodities, os custos de produção em queda e o clima favorável em quase todo o país.

Os fundamentos são tão favoráveis que os produtores iniciaram uma inédita onda de antecipação de pagamentos de suas dívidas. Acostumado aos pedidos de rolagem das dívidas, o Banco do Brasil, maior operador de crédito rural do país, já registra "retornos voluntários" superiores a 10% dos empréstimos ao setor.

Movidos pela febre do consumo, interno e externo, os produtores aproveitam o cenário favorável para pagar dívidas antigas. O BB, cuja carteira rural soma R$ 75 bilhões, informa ter recebido 60% dos débitos renegociados em épocas de crise climática e de renda no período 2004-2007.


"Os produtores têm aproveitado a boa renda para antecipar os pagamentos e obter mais limite de crédito e aumentar os investimentos na produção", disse o diretor de Agronegócios do Bando do Brasil, José Carlos Vaz, em audiência no Senado.

O efeito multiplicador não para por aí. A inadimplência da carteira recuou a 1,2%. É o melhor momento desde o índice de 0,8% registrado há dez anos. O BB planeja a entrada no quinto ano de recorde na concessão de crédito ao campo. No ciclo 2011/12, a ser iniciado em julho, o banco deve emprestar R$ 55 bilhões ao setor rural - nesta safra, fechará acima de R$ 42 bilhões estimados.

"Vamos conceder 30% a mais de crédito na próxima safra", disse Vaz. Na audiência, o diretor elogiou "grande esforço" do Ministério da Fazenda ao alterar regras do crédito rural para aperfeiçoar os controles dos bancos e a elevação dos volumes emprestados.

A formidável melhora nas margens dos produtores "contagiou" as lavouras mais importantes. O BB repassou dados impressionantes aos senadores. Na soja, a margem média nos principais polos agrícolas dobrou na comparação com a temporada 2009/10. No milho, superou 50% a safra anterior e no algodão, foi multiplicada por três.

A onda de pagamentos antecipados levou a uma sensível melhora na classificação de risco ("rating") dos produtores. A consultoria Agrosecurity, por exemplo, registrou a tendência e informa ser o melhor resultado desde 1988. A rentabilidade operacional de todos os grupos de produtores monitorados pela empresa teve um grande salto.

Atualmente, nenhum deles tem "rating" inferior ao nível "B", na avaliação da consultoria. Na média, a maioria passou de "B" ou "A" para "AA". É o caso dos produtores das regiões sudoeste do Paraná, norte de Minas Gerais, oeste da Bahia, sudoeste de Goiás, sul de Mato Grosso e do Maranhão. "Nossa análise de fluxo de caixa, dívidas, patrimônio e saldos de safras anteriores reflete a prosperidade", afirma o economista Fernando Pimentel.

A Agrosecurity afirma ser "o melhor resultado em cinco anos", já que em 2003 o cenário era ótimo para a soja, mas ruim para milho e café. "Desta vez, foi bem na geografia e nas culturas todas", diz Pimentel. Isso também ajudou as empresas revendedoras de insumos, que elevaram seus "ratings" de liquidez, caixa, balanço e qualidade gerencial em quase todo o país.

A próxima safra, entretanto, deverá registrar custos de produção mais elevados. Mas a pressão da forte demanda por milho, soja, trigo e outros grãos tende a evitar a recomposição imediata dos estoques, o que deve seguir sustentando a rentabilidade. Nem mesmo a eventual abundância da safra dos Estados Unidos deve derrubar os preços das commodities.

Em análise aos senadores, o diretor do Banco do Brasil avalia que a China continuará como motor do consumo da soja e aumentará bastante as compras de milho, deixando de ser autossuficiente. Em 2010, os chineses compraram 1 milhão de toneladas. Neste ano, devem superar 5 milhões de toneladas, o que será "explosivo" para os preços do milho. Nos Estados Unidos, a batalha entre alimentos e etanol de milho deverá continuar. Mas a balança deve pesar em favor da elevação das cotações.

Outros solavancos podem ficar com eventuais movimentos de fundos de investimento em commodities. O clima é uma incógnita, mas o fenômeno "La Niña" (resfriamento das águas do Oceano Pacífico) deve terminar cedo, em junho. E as chuvas no Centro-Sul devem ser normais no plantio. Mas o Banco do Brasil faz alertas: "A cada cinco anos, a região Sul terá duas secas. Por isso, o produtor tem que vender antes, fazer opções e reduzir a dívida", aconselhou José Carlos Vaz, do Banco do Brasil.

A consultoria Agrosecurity avalia como "muito boas" as perspectivas para a safra 2011/12. "Os resultados anteriores foram bons e os futuros continuarão muito bons, com boa geração de caixa", afirma Fernando Pimentel.
Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Valor Econômico

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário