Seca impede que agricultores dos EUA se beneficiem dos altos preços

Publicado em 12/04/2011 11:16
Uma seca causticante em boa parte do sudoeste dos Estados Unidos está impedindo produtores agrícolas americanos de lucrar com a disparada dos preços de grãos e do gado e pode aumentar a pressão sobre a oferta de alimentos se a chuva demorar a chegar, dizem economistas.
No Texas, onde os últimos seis meses foram os mais secos já registrados desde 1967, mais de metade do Estado padece de uma seca extrema, segundo o boletim "Drought Monitor", um compêndio de estimativas públicas e acadêmicas.
O Novo México vai pelo mesmo caminho: em quase 75% do Estado a seca é severa, mostra o boletim. Em Oklahoma, o período entre janeiro e março foi o mais seco desde 1921 — mais até do que o do chamado Dust Bowl da década de 1930, disse Greg McManus, meteorologista do Estado.
No sul do país, certas regiões vêm passando por secas esporádicas desde 2006. Este ano, no entanto, promete ser particularmente ruim, pois o inverno e a primavera — quando a região costuma receber mais chuva — foram excepcionalmente secos.
A seca assola o sudoeste americano num momento ruim para o consumidor, que já enfrenta uma disparada dos preços de commodities — disparada que atraiu a atenção de governos nos EUA e outros países. Devido ao porte considerável do setor agrícola no sudoeste americano, uma queda na produção poderia agravar um quadro de oferta já limitada.
A previsão é que a chuva fique abaixo da média nos próximos três meses no Texas e no Novo México e no próximo mês em Oklahoma, segundo meteorologistas nesses estados. Por causa disso, em algumas das propriedades agropecuárias mais produtivas do país o produtor está destruindo a safra de trigo perdida e vendendo o gado antes do habitual.
Bill Hyman, criador de gado no condado texano de Gonzales, contou que leiloou animais mais cedo este ano. Com pouco pasto nos campos, Hyman está complementando com feno a alimentação do rebanho — e reduz outros gastos ao mínimo.
"Não estamos comprando tratores, não estamos comprando equipamentos, não estamos comprando nada", disse o produtor, que também é diretor-executivo da Associação dos Pecuaristas Independentes do Texas.
O Departamento de Agricultura dos EUA informou ontem que 66% dos campos de trigo no Texas e 60% no Oklahoma estavam em condições de ruim a muito ruim no domingo. O levantamento semanal também constatou que 68% dos pastos estavam em condição ruim a muito ruim no Texas. Os dois Estados corresponderam a 17% da produção dos EUA no ano passado.
Boa parte da safra de trigo de inverno dos EUA — que é plantada no outono e colhida no começo do verão — é cultivada nas planícies do sul. Por causa da seca, 36% da safra de trigo de ivnerno do país está em condição ruim a muito ruim, em comparação com 6% nesta época do ano passado.
Até recentemente, esta temporada prometia belos lucros para o agricultor, pois a recuperação da economia mundial aumentou a demanda de alimentos. Ontem à tarde, os contratos de futuros de trigo para entrega em julho fecharam a US$ 9,29 o bushel (27,22 kg) na Bolsa de Kansas City, em comparação com US$ 4,94 o bushel um ano antes.
Para muitos agricultores, não é a só a safra de agora que está em perigo. Terry McAlister, produtor de outro condado do Texas, Wichita, decidiu não adubar nem preparar a terra para culturas de verão como algodão e sorgo. "Não vamos poder plantar nada enquanto não chover", explicou.
Craig Sanders, um agricultor da região de Boise City, no oeste de Oklahoma, é mais otimista. Embora espere que o trigo plantado vá secar a qualquer momento, já resolveu semear a safra de verão na esperança de que chova. "Já vi isso acontecer neste país", disse. "A situação vai virar, vai chover, vamos ter uma safra tremenda."
A seca também promete reduzir ainda mais o rebanho, que já tem cerca de 500.000 cabeças de gado de corte a menos do que no ano passado, segundo dados do Departamento de Agricultura americano.
"Na hora de comer um filé ou um hambúrguer, o que acontece com a seca no Texas acaba afetando todo mundo", disse David Anderson, especialista em economia pecuária da Texas AgriLife Extension Service na universidade Texas A&M. O Estado é o maior produtor de carne bovina do país.
No Texas e em Oklahoma, o boi era vendido a US$ 2,70 por quilo, ou US$ 39,70 por arroba, na quinta-feira, ante US$ 2,18 por kg no ano passado. Mas o preço alto traz pouco consolo para o produtor assolado pela seca, que também está pagando mais por combustível, fertilizante e ração.
A seca pode ter um impacto de mais longo prazo para os pecuaristas. Queimadas provocadas pela seca estão destruindo qualquer pasto em seu caminho, e já há relatos de diminuição nos estoques de feno, substituto usado pelo pecuarista para alimentar o gado. Isso vai reduzir o volume de feno disponível no próximo inverno.
Já açudes usados pelo gado estão perdendo água, disse Stan Bevers, especialista em economia agrícola da Texas AgriLife Extension Service da universidade Texas A&M.
Nesse cenário desfavorável, é provável que as vacas tenham menos bezerros no ano que vem, o que derrubaria o porte do rebanho até que o pecuarista resolva comprar mais gado, disse Hyman, o pecuarista.
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Fonte:
The Wall Street Journal

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