Soja: China cancela cargas no Brasil equivalentes a 25 panamax

Publicado em 12/04/2011 18:54
O recuo nos preços dos grãos não se explica tão somente pela diminuição dos preços do petróleo. A China agiu no mercado comprador e derrubou os preços em Chicago.
Aquilo que parecia apenas como um compreensível movimento de comprador querendo diminuir os preços, concretizou-se assustadoramente nesta terça-feira, com a China cancelando imensas cargas de soja compradas no Brasil, Argentina e EUA, num volume que ultrapassa 3 milhões de toneladas.

No Brasil o cancelamento de compras feitas por chineses atingiu contratos para entrega em abril/maio/junho. Os traders chineses tentam, agora, empurrar essas compras para serem entregues somente em agosto/setembro. Em volume, o cancelamento significa mais de 1,5 milhão de toneladas, o que equivale a uma carga de 25 navios panamax (ou, comparando, seria como se toda a soja produzida no Triângulo Mineiro fosse integralmente paralisada).

De acordo com informações recolhidas pelo NA junto às traders que negociam com a China, os cancelamentos têm a ver com as margens de esmagamento em território chinês, que estão negativas. É que o governo chinês, numa medida para conter a alta da inflação, liberou seus estoques para as indústrias locais, num volume de 3 milhões de toneladas, deixando as empresas importadoras chinesas com grande volume de soja adquiridas na América (a preços altos) nas mãos. 

O governo chinês usa um termo para este movimento de cancelamento de cargas como sendo "rotação de estoques". Apesar de recusar cargas dos EUA e da Argentina, o país mais atingido é o Brasil, pois toda a compra feitas pelas traders estavam concentradas em nosso País, pois nos EUA a época é de entressafra.

O andamento das cotações dos prêmios nos portos mostram este movimento de recuo dos sagazes negociantes chineses. Em Paranaguá, por exemplo, os prêmios que giravam em torno de 30 cents positivos, recuou, com a entrada da safra brasileira, para menos 8 cents. No entanto, com os fundamentos mostrando disputa por áreas de plantio nos EUA, as traders voltaram a pagar prêmio positivo de 20 cents no porto brasileiro. Ontem, no entanto, os prêmios desabaram para menos 15 cents. Nesta terça-feira, com as perdas em Chicago beirando 40 cents, o produtor brasileiro viu o valor da sua soja cair, num dia só, mais de 8 dólar por tonelada.

Desconfiança

De outro lado,analistas brasileiros se mostram desconfiados com a estratégia chinesa, dizendo que normalmente, nesta época do ano (entressafra americana), faz com que os compradores chineses tentem derrubar os preços, anunciando cancelamentos de cargas. Lembram que há 8 anos os chineses tomaram a mesma atitude quando os preços estiveram nas máximas. Os chineses disseram, na época, que a soja brasileira estaria com baixa qualidade. 

O fato é que com a recusa de apenas 2 cargas, na época, os preços desabaram. Analistas ouvidos pelo NA lembram, no entanto, que agora os tempos são outros, que os fundamentos continuam firmes, e que a China agrega 300 milhões de pessoas por ano em sua economia cada vez mais demandadora por alimentos. Logo, esse movimento chinês, apesar de forte para os preços, terá vida curta, com os preços voltando à sua trajetória de alta ainda no médio prazo.
Fonte: Redação NA

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