Escárnio ao verde, do Blog do Desembargador José Renato Nalini

Publicado em 06/06/2011 12:04 e atualizado em 07/06/2011 05:23
por José Renato Nalini, Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo


Aqueles que teimam em mutilar o Código Florestal e a causar ao Brasil males com certeza irreparáveis, deveriam pensar melhor em sua responsabilidade. O meio ambiente é bem comum a todos, que o pacto republicano confiou à guarda do poder público e da sociedade. Sem a sua tutela, não haverá mais vida no planeta. As futuras gerações dependem da sensatez das atuais. E estas já se mostraram insensatas. 

Continuam a desmatar, a poluir, a conspurcar a natureza. A devastação da Amazônia desequilibra o clima. Todos sentem na pele – e milhares já morreram – por causa do caos climático. Inundações são constantes. Enquanto isso, o Rio Grande do Sul enfrenta a maior estiagem de sua história. E a seca na região amazônica em 2010 surpreendeu a todos. Como pensar que a região mais provida de água doce enfrentasse tal carência? 

A questão é eminentemente moral. Falta com a moral quem não leva a sério as ameaças persistentes de afligir o que já é por demais aflito e de continuar a impor o castigo da inclemência à desprotegida cobertura verde, patrimônio que homem algum construiu, mas que sabe – criminosamente – destruir. 

A Amazônia é um diferencial que qualifica o Brasil a ostentar fortes razões de orgulho perante os demais habitantes da Terra. Como fomos perder esse brio e pactuar com a tendência dendroclasta? Apelemos a Gonçalves Dias, que em carta a Antonio Henriques Leal, já chamava o brasileiro a encarar a Amazônia com respeito e devoção: 

“Vós que, semelhantes a mim e a muitos outros, talvez sem razão, vos entristeceis ou irritais com o jeito que as coisas vão tomando, acaso porque se vos tornou menos risonho o céu de vossa imaginação, – vós que, num acesso de hipocondria, chegastes a desamar a terra de que sois filhos e a descrer dos homens de que sois irmãos – vinde-me aqui passar um quarto de hora em noite de luar sereno, ou nessas noites de escuro, ainda mais belas e mais serenas que as outras, em que milhões de estrelas se refletem nas águas, e no escuro transparente do céu e do rio desenham o duplicado perfil dessas florestas imóveis e gigantescas; respirai-me estes aromas, que se elevam suavemente combinados, como de um vaso de flores colhidas de fresco, e haveis de achar-vos outro, e, como nos tempos felizes da juventude, capaz ainda das ilusões floridas, da confiança ilimitada, da fé robusta, nos sucessos, nos homens, no futuro, e, sequer por alguns momentos, podereis sentir orgulho de vos chamardes brasileiro também”.

José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: [email protected].

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Blog Renato Nalini

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5 comentários

  • Paulo de Tarso Pereira Gomes Brazópolis - MG

    Para comentar sobre esse artigo me recuso, um urbanoide e demagogo desses não tem prestigio por falta de conhecimento de assunto sobre o codigo florestal relatado pelo deputado Aldo.

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  • Almir José Rebelo de Oliveira Tupanciretã - RS

    Prezados Ana Freitas e Outros! Cumprimentos pelos comentários! Já ouvi dizer que no poder judiciário uns acham que são Deuses e outros tem certeza que são. Eu não estranho a posição do desembargador porque no Brasil é assim.Os ambientalistas sabem que a causa ambiental fascina qualquer pessoa, é um produto facilmente vendável. Mas o mais grave é que provavelmente esse desembargador seja um "cara pálida", nunca "pega"sol e o resultado é esse: "filósofo da sobra"! Seu José Renato, em vez de ler Gonçalves Dias e e se alimentar de poesia, procure ler o Gênesis 1-29-30 onde o criador de todos disse: "Eu vos dou as ervas e as árvores para que as cultivem, para que produzam frutos que les sirvam de sustento".... Será uma leitura mais real e faça o senhor pensar em "só abrir essa boca quando tiver certeza" Se o senhor quer conversar com quem precisa preservar o meio ambiente porque vive dele, fale com um produtor rural, e se falar de produtor rural, não fale de boca cheia e nem de cabeça vasia! Mas vamos em frente porque é por isso que devemos produzir alimentos, preservar o meio ambiente e defender tudo isso em Brasília para o bem do Brasil!

    Abraços.

    Almir rebelo

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  • Elton Szweryda Santos Paulinia - SP

    Em pesquisa recente de opinião publica sobre a confiança que Brasileiros tem e depositam sobre o poder judiciario brasileiro, mostrou que um pouco mais de 40% da população confiam em desembargadores, promotores, juízes, ministro do supremo, etc. isso demonstra bem que o Brasil, infelizmente é um país ao avesso, juizes, desembardores, etc. se julgam a elite do país, com salarios de verdadeiros marajás, trabalham pouco, e parecem que moram em outro país, não se atendo as realidades brasileiras, nesse caso especificamente, com relação as multas e imposição de sentenças crueis, e fora da realidade brasileira.

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  • Claudio Luiz Galvão Cuiabá - MT

    É para que nós produtores rurais não fiquemos a mercê pessoas assim que nossos politicos tem que: primeiro esclarecer a opinião publica sobre o novo código, pois parece que este desembargador não leu o texto ou pior, e se leu, faz questão de passar a informação errada, quem sabe para tentar justificar seus julgamentos, onde negou a apelação de demolir casa de anciãos e crinças, será que este desembargador sabe que alimento precisa de terra para ser cultivado ou acha que os alimentos nascem em gondolas de supermercados.

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  • Ana Freitas Fartura - SP

    Renato Nalini foi um dos desembargadores que negaram provimento ao processo ambiental intimando a demolir casa de avós e da neta por estas estarem em APP, não se importando o quão prejudicial seria o feito para a vida das pessoas, considerando o prejuízo, transtornos financeiros, emocionais e morais da família. Dentro da ética ambiental deve-se resguardar também a ética humana para uma vida mais decente, equilibrada, saudável e respeitosa, considerando a lei como marco regulatório para tomadas de decisões e de justiça igualitária para todos. Antiético é mostrar-se justo a ferro e fogo dentro de um panorama minoritário e pobre,quando a maioria se vale das mesmas ações para estampar suas mansões em solos considerados irregulares por decretos e medidas provisórias, sem efeitos para os detentores do poder. Antiético é o lago das Furnas em Capítólio cuja matéria rendeu páginas de ostentação, luxo e riqueza no jornal Estadão, cujos proprietários empresários chegam ao local em helicópteros e desfilam suas caríssimas lanchas. Não há nenhum mal contra a natureza e nenhuma lei que diga que eles não podem. Antiético é condenar senhores de oitenta e poucos anos a tarefas subumanas muito além do que seu físico e sanidade mental podem agüentar assim como antiético é ter coragem para demolir casa de criança que não tendo a sorte de ter um futuro promissor poderia ser a casa sua única guarida. Diante do fraco a justiça faz-se forte, diante do forte, faz-se cega. Das discrepâncias e divergências nascidas na casa da Lei nascem as injustiças sociais que geram abandono, desconfiança e lágrimas de revolta. Quando a lei for única tanto para ricos quanto para pobres, então haverá justiça, assim como para o caso em questão, necessário seria demolir grande parte do Brasil.

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