Dilma já acertou demissão com Palocci, diz a Folha

Publicado em 07/06/2011 05:15
na Folha de S. Paulo de hoje
Dilma já acertou demissão com Palocci

Arquivamento das denúncias deu fôlego ao ministro, mas pela manhã ele disse que era melhor deixar o cargo

Presidente agora vai avaliar a repercussão da decisão do procurador-geral, mas saída ainda é considerada provável


A presidente Dilma e o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, chegaram a acertar ontem os termos de uma carta de demissão do ministro, mas a decisão final depende do impacto do arquivamento do pedido de abertura de investigação na Procuradoria-Geral da República.
Com isso, Palocci ganhou uma sobrevida no cargo, embora interlocutores da presidente avaliem como mais provável a saída do ministro.
Enquanto Dilma discutia o futuro político de seu principal colaborador, a Comissão de Ética Pública da Presidência decidia pedir ao ministro a lista de todos os clientes de sua consultoria, a Projeto.
A pedido do governo, a Comissão de Ética Pública não tornou público o pedido de informações a Palocci. Segundo a Folhaapurou, a comissão solicitará isso num documento reservado.
Mas Palocci se recusa a divulgar o nome de seus clientes, alegando cláusula de confidencialidade.
O pedido de demissão do ministro foi discutido, na manhã de ontem, numa reunião entre os dois. Palocci disse que era melhor deixar o governo. Dilma ficou de analisar e dar uma resposta.
Ontem à noite, porém, ao ser informada da decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, Dilma comemorou e, segundo assessores, considerou uma importante vitória. A partir dali, a presidente passou a refletir sobre sua decisão, que ficou de tomar hoje.
Palocci, por sua vez, disparou telefonemas para aliados agradecendo ao apoio e considerando como encerrada a crise política.
Além de petistas, a quem pediu união para enfrentar a oposição, Palocci entrou em contato com peemedebistas, como o vice-presidente, Michel Temer, e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O gesto de procurar líderes políticos foi visto como tentativa de se manter no cargo.
Segundo assessores de Dilma, a decisão da Procuradoria pode funcionar como uma "saída honrosa" para Palocci, que deixaria o governo afirmando que recebeu uma certidão de "nada consta" do procurador.

MUDANÇA
Dilma está decidida a fazer uma minirreforma administrativa no Planalto.
Ela avaliou que é preciso dar um caráter mais técnico à Casa Civil e devolver a articulação política à Secretaria de Relações Institucionais.
Isso porque a presidente aponta duas origens para a crise: uma é o caso Palocci, e a outra, a desarticulação política com a base.


A crise e a sombra, por FERNANDO DE BARROS E SILVA

O procurador-geral arquivou o caso Palocci. É uma decisão que diz mais sobre Roberto Gurgel do que sobre os negócios do ministro. Ou alguém acredita que agora está tudo explicado?
Não se sabe que uso Dilma fará dessa decisão, de resto previsível. Não parece que ela altere o ambiente polítco. É possível que Dilma ainda não tenha demitido Palocci porque não sabe quem pôr no lugar nem como redesenhar o governo.
Uma figura como o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, o leva e traz, não chega a ser nem mesmo decorativa. Alguém assim só pode funcionar (ou deixar de fazê-lo sem causar problemas) ao lado de um ministro como Palocci, que ocupava os espaços.
Entre as opções disponíveis para a Casa Civil, Paulo Bernardo é o que, em tese, teria mais chances de ser um "Palocci cover", uma versão em aquarela do nosso consultor número 1. Petista convertido ao mercado, tarefeiro, tipão pragmático e responsável, Paulo Bernardo, no entanto, dificilmente faria a função de elo entre Lula e Dilma, desempenhada por Palocci. Ele não é da cota de "confiança pessoal" do ex.
Gilberto Carvalho, pelo contrário, é uma espécie de fantoche de Lula. Sua eventual ida para a Casa Civil seria uma renúncia branca.
Restariam, ainda, as apostas um tanto improváveis em Miriam Belchior (Planejamento) ou Maria da Graça Foster, a técnica da Petrobras amiga da presidente. Nos dois casos, Dilma estaria moldando a Casa Civil à sua imagem, esvaziando-a de sua dimensão política e transferindo o problema hoje mal resolvido para outra esfera do governo.
Com Palocci morto-vivo e nenhuma opção óbvia para substitui-lo, há uma grande interrogação sobre a capacidade de operação política deste governo. Dilma parecia ter afastado de si a imagem de que era tutelada por Lula. No último mês, as evidências de que isso não era verdade foram muito fortes. Veremos como a "presidenta" vai se virar com a crise e com a sombra.



Solidão,por ELIANE CANTANHÊDE
A crise e o enriquecimento súbito de Antonio Palocci não atingem a imagem do próprio Palocci, que não é primário desde a história das malas de dinheiro e da quebra do sigilo do Francenildo.
Também não pioram a corrosão da imagem do PT desde a chegada ao poder, com mensalão, aloprados, dossiês, cuecões.
E, enfim, também não agravam a deterioração da Casa Civil da Presidência depois de Waldomiro Diniz achacando bicheiro; seu chefe Zé Dirceu despencando sob o peso do mensalão; Erenice Guerra abrindo as portas para a família.
Quem mais perde com o escândalo, pois, é Dilma Rousseff. Na campanha, houve um acordo velado para descolá-la de Erenice, seu braço direito tanto no Minas e Energia como na Casa Civil. Já no governo, tentam afastá-la das labaredas que consomem Palocci. Mas como não sair chamuscada?
A crise remete às fragilidades de Dilma que Lula tratou de minimizar e a oposição não soube explorar na eleição: inexperiência, falta de gosto político, de intimidade com o PT e de autoridade sobre o PMDB. Afinal, nunca fora eleita para nada. Mas a principal fragilidade da presidente é outra: solidão.
Dilma engoliu uma equipe de campanha com a qual não tinha proximidade, convivência, confiança. Ficou na mão dela, particularmente de Palocci, e montou um governo que não é seu. Está só.
PT e PMDB esfregam as mãos. Ela vai ter de reconstruir sua coordenação política, peça por peça, a partir das mesmas deficiências: a falta de equipe técnica, que fez emergir Erenice, e de liderança política, que desembocou na força de Palocci. Ou escolhe Miriam Belchior e Maria da Graça Foster, que entendem de política tanto quanto ela própria, ou cai novamente nas mãos de um espertalhão.
Força Sindical, PC do B e senadora do PP pulam do barco, enquanto a PGR joga uma boia furada para Palocci, e Chávez sopra: "Fuerza, fuerza". Glub, glub, glub.
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Fonte:
Folha de S. Paulo

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