CE: Colheita recorde não deve gerar ganhos proporcionais

Publicado em 24/06/2011 11:51
Estudo mostra que o VBP de 2011 será de R$ 1,2 bilhão, apenas 37% da cifra de 1973, a mais alta da série histórica.
Apesar da expectativa de safra recorde neste ano, o que é uma boa notícia ao mercado consumidor, para o produtor rural, isso pouco representa em termos de faturamento. O Valor Bruto da Produção (VBP) - importância que se ganha na venda dos grãos - de 2011 deverá situar-se em torno de R$ 1,2 bilhão, o que representa apenas 37% dos R$ 3,4 bilhões do VBP de 1973, 38 anos atrás. "O Ceará está produzindo mais, mas o produtor está ganhando cada vez menos, porque os preços, na porteira, estão caindo ano a ano", alerta o economista da Universidade Federal do Ceará (UFC), Demartone Botelho.

Integrante do Grupo de Coordenação Estatística da Agropecuária (Gcea), que faz , mensalmente, o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do IBGE, Botelho mostra que o VBP no quinquênio 1970-74 (adotado como período de referência na análise de dados) atingiu o valor médio de R$ 2,2 bilhões. No quinquênio 2005-09 caiu para apenas R$ 579 milhões, com uma redução de 74%, mesmo com o início do programa do biodiesel da mamona no Ceará.

Desconhecimento

Para os anos de 2010-11, o VBP de grãos deverá ficar em torno de R$ 855 milhões. Além do aumento da produção, o que tem impactado na lei da oferta e da procura das commodities, o economista aponta o desconhecimento do produtor sobre os preços praticados no mercado, sobre fórmulas de cálculos dos custos da produção e das técnicas de comercialização como os principais fatores, que o estariam levando a vender o produto cada vez mais barato; enquanto o mesmo chega na mesa do consumidor cada vez mais caro.

Conforme disse, com assistência técnica apenas à produção, mas sem noções básicas de comercialização, e sem dinheiro para custear a produção, o agricultor "se rende" à pressão dos atravessadores, "vende na folha", antes mesmo de colher. "Ele vende na folha porque precisa pagar as contas na bodega", explica o economista.

Realidade nordestina

Ele ressalta, porém, que essa não é uma peculiaridade do pequeno produtor cearense, mas uma realidade que acontece em todo o Nordeste. "No tempo da seca, os preços disparam no mercado, mas o produtor não recebe, e na época das chuvas, quando a produção aumenta, os preços caem, normalmente, deixando o produtor rural no prejuízo", avalia Botelho.

Se confirmada, a safra de 2011, de 1,3 milhão de toneladas, será a maior da história do Estado, superior em 13,5% à colheita recorde, de 1,145 milhão, registrada em 2006.

CULTIVO INCENTIVADO

73% da safra deste ano serão de milho

O grão continua em alta no Estado, com o apoio das chuvas e de programas para impulsionar a cultura

Do 1,3 milhão de toneladas de grãos previsto para ser colhido neste ano, 950 mil toneladas, o equivalente a 73% de toda a produção de oleaginosas do Estado, será de milho. De acordo com Demartone Botelho, a expansão do Programa de Milho Híbrido, cuja produtividade é até cinco vezes superior à do tipo "Variedades", as chuvas bem distribuídas ao longo da quadra invernosa e o incentivo Estadual ao cultivo do grão são os principais responsáveis pelo incremento da produção.

Produtividade crescente

Segundo o levantamento realizado pelo economista sobre a produção realizada nos últimos 40 anos, a expansão na produtividade do milho foi de 46%, passando de 563 kg/ha em 1970-74 para 822 kg/ha em 2005-09. Se confirmado, o rendimento médio no biênio 2010-11 será de 900 kg/ha. No entanto, o VBP do milho caiu 29%, passando de R$ 299 milhões no quinquênio 1970-74 para R$ 212 milhões em 2005-09. No biênio 2010-11 sobre 1970-74, as estatísticas indicam para um montante de R$ 369 milhões, em função do mercado favorável e de ganhos reais nos preços recebidos pelos produtores.
Fonte: Diário do Nordeste

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