Crise vai chegar aos emergentes, alerta BIS

Publicado em 14/07/2011 12:19
Estudo da entidade aponta que, hoje, toda a economia mundial está ameaçada - por Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo

A crise da dívida que começou na Europa vai se espalhar, não poupará nem países emergentes e é uma ameaça para a estabilidade financeira internacional. O alerta é do Banco de Compensações Internacionais (BIS, o banco central dos bancos centrais). A entidade aponta que o risco país elevado será a nova realidade no cenário financeiro e não vai ceder nos próximos anos.

Em estudo feito sobre a crise da dívida, a instituição concluiu que o buraco nas contas dos governos, que é fenômeno em diversos países, chegou para ficar por um longo tempo e pede que autoridades acelerem uma solução se não quiserem ver bancos e todo o sistema financeiro duramente afetados pela nova crise.

O colapso da economia mundial em 2008 obrigou países ricos a promoverem o resgate de setores inteiros das suas economias. Três anos depois, o resultado é a explosão das dívidas dos governos. Entre 2007 e 2010, a média dos déficits orçamentários dos governos passou de 1% para 8% do PIB. Já a dívida média saltou de 73% para 97% do PIB.

Os economistas constataram que são esses próprios governos que sofrem para pagar suas contas. Para o BIS, é a economia mundial que está ameaçada. "A estabilidade financeira global depende das condições fiscais de cada país", alerta.

Cálculos indicam que a crise da dívida soberana irá se espalhar nos próximos anos e papéis da dívida pública serão considerados cada vez mais ativos de risco. "Olhando para o futuro, as preocupações com o risco soberano devem afetar uma gama mais ampla de países", diz o estudo. "Nas economias avançadas, o nível da dívida soberana deve subir nos próximos anos".

Crise ampla. O banco desfaz a noção de que a crise seja limitada à Europa e aos Estados Unidos e aponta que os emergentes não estão imunes. "Nas economias emergentes, a vulnerabilidade a choques externos e instabilidade política podem ter efeitos adversos esporádicos no risco soberano".

O BIS insiste que a crise mais grave é na zona do euro e que os níveis de dívidas dos emergentes são menores. "Mas, no geral, o risco sobre a dívida dos países deve ser maior e mais volátil nos próximos anos", alerta.

Não é só a periferia da Europa que sofre com a crise. Ela já atinge Itália e Bélgica e o estudo deixa claro que EUA, Reino Unido e Japão podem ser as próximas grandes ameaças. Junto com a zona do euro somariam "enormes déficits fiscais".

Alguns deles já foram alertados de que podem perder seu status de AAA dado pelas agências de rating. Esses países, além dos resgates bilionários aos bancos, enfrentam envelhecimento de suas populações, empresas endividadas e famílias com altas taxas de insolvência. "O risco país alto deve ser elemento persistente a partir de agora", indica.

Bancos. Para o BIS, trata-se do fim da percepção de que os papéis do Tesouro desses países não representam risco e quem sofrerá são os bancos. Na Europa, bancos têm exposição de cerca de US$ 1 trilhão nas economias que sofrem com dívidas elevadas. Se for contabilizada, a exposição total dos bancos aos títulos da dívida soberana chegaria a 75% dos italianos, alemães e americanos. No caso dos suíços, belgas e canadenses, a taxa sobe para 200%. A crise da dívida pode levar a uma maior dificuldade dos bancos em relação à liquidez, além da erosão dos lucros e da estabilidade. Os primeiros exemplos são dos bancos de Portugal e Grécia.

Itália aprova plano de austeridade no Senado

O governo da Itália obteve um voto de confiança do Senado sobre o plano de austeridade que pretende equilibrar o orçamento do país até 2014. O projeto de orçamento foi aprovado por 161 votos a favor e 135 contra, o que abre caminho para uma aprovação final pela Câmara Baixa do Parlamento amanhã.

Em discurso ao Senado antes da votação, o ministro da Economia italiano, Giulio Tremonti, afirmou que o orçamento de austeridade é uma promessa fiscal para a União Europeia que atende "exatamente" suas exigências - uma tarefa que demanda 40 bilhões de euros em cortes fiscais.

A Itália voltou a ser foco de atenção nessa quinta-feira. Além da votação do pacote, os investidores ficaram atentos à venda de 4,966 bilhões de euros em títulos do governo do país. A demanda superou a oferta, mas o governo italiano precisou pagar prêmios mais altos do que em leilões anteriores. O Tesouro do país pretendia vender um total entre 3 bilhões de euros e 5 bilhões de euros e atraiu demanda de 8,570 bilhões de euros.

Os papéis com vencimento em 2016 ofereceram yield de 4,93% - o mais alto desde 2008, segundo a rede CNBC -, em comparação com 3,90% no leilão realizado em 14 de junho, enquanto os papéis para 2026 carregaram prêmio de 5,90%, em comparação com 5,34% no leilão de 11 de março. Os bônus para 2023 tiveram juros de 5,64%, de 4,88% anteriormente, e os títulos para 2017 tiveram taxas de 4,93%, de 3,32% antes.

Segundo analistas, a Itália já completou cerca de 60% de suas necessidades financeiras anuais. O volume pretendido relativamente baixo e a distribuição do leilão em quatro séries de bônus foram vistos pelos participantes do mercado como sinal de cautela do governo italiano.

No começo desta semana uma forte venda de bônus da Itália empurrou os prêmios dos bônus italianos para novos recordes desde a criação do euro e levantou preocupações sobre a sustentabilidade dos custos de financiamento do país. Os investidores temem que a crise não resolvida da Grécia se espalhe para a Itália e a Espanha, que são vistos como grandes demais para serem socorridos.

Mas os investidores dos mercados de bônus se acalmaram no meio da semana, depois de a oposição da Itália prometer que garantirá a aprovação do plano de austeridade do governo. Além disso, ontem a agência de classificação de risco Fitch Ratings afirmou que a dívida pública da Itália "não está em um caminho insustentável" e que o plano de consolidação do país sustenta a nota de risco atual (AA-).


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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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