Nos EUA, etanol consome mais milho que produção animal; e o mundo paga a conta
O avanço do combustível em detrimento dos alimentos explica as dificuldades (e a ira) da produção animal norte-americana. Mas os males causados pela indústria do etanol sobre o consumo de milho são bem maiores. E isso é facilmente comprovável quando se compara o mix de utilização do suprimento de milho de 2006 com aquele que está sendo agora previsto para a safra 2011/2012.
Em 2006, quase a metade (46%) do suprimento de milho norte-americano (estoque inicial + produção) foi consumido pela indústria de ração. Quase um quarto desse total (23%) destinou-se ao consumo restante, aqui inclusa a produção de alimentos humanos e a (então eventual) fabricação de etanol. Os demais 31% foram representados pelas exportações e pelos estoques finais.
Resultado atual: o chamado “consumo restante” dobrou (46% do total) – não por causa da industrialização ou dos alimentos humanos, mas por conta do etanol. E isso faz com que o volume destinado à fabricação de ração caia para 35% (redução de 24% em relação a 2006), enquanto o volume destinado às exportações retrocede para 13%, tudo culminando em um estoque final equivalente a não mais que 6% do suprimento total.
Mas o pior de tudo isso é que os efeitos desse processo não se restringem aos EUA, têm repercussão mundial. Assim, os estoques globais do produto tendem a alcançar, no final da atual safra, não mais que 115 milhões de toneladas, um volume 8% menor que o registrado em 2006. Mas isso só acontece porque o estoque dos EUA se reduziu. Pois enquanto o restante do mundo tende a obter estoque final 25% maior que o de 2006, o dos EUA, isoladamente, apresenta redução de 56%. É o que generaliza a escassez do produto.