Precisamos de humildade e reformas para lidar com câmbio, diz economista

Publicado em 27/07/2011 01:24
por thais.heredia, da coluna Os Caminhos da Economia, no G1 (Globo)

E lá se vai o dólar! Reagindo ao temor mundial a um calote da dívida pública dos Estados Unidos, a moeda americana segue derretendo sob o verão do hemisfério norte. Aqui, nos trópicos, a super valorização do real mostra seus efeitos.

Os brasileiros estão gastando muito no exterior e os investidores espalhados pelo mundo continuam trazendo enxurradas de dólares para cá. O país também disparou no ranking das nações mais procuradas para investimentos, preparado pela agência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). De 2009 para 2010, o Brasil saltou da 15ª posição para a 5ª, e deve subir ainda mais este ano com o saldo dos investimentos estrangeiros no país, mais um recorde registrado.

Mas a bonança não tem vida eterna e o Brasil precisa aproveitar o momento atual de estabilidade e bons fundamentos internos para fortalecer o país num ambiente de piora na economia mundial. “Não podemos deixar subir à cabeça do Brasil o prêmio e o financiamento que os mercados estão nos dando hoje. Temos que ter humildade e trabalhar duro na agenda das reformas estruturais necessárias porque os desafios a frente são grandes”, alerta o economista Luis Candiota, ex-diretor de Política Monetária do BC.

“O mundo está financiando o nosso crescimento, o nosso consumo. Esses números atuais são uma combinação de fatores: a classe média brasileira está consumindo mais, o emprego está a pleno vapor. No valor relativo das mercadorias, o Brasil é hoje um país caro, por isso compramos lá fora. Nossos juros estão altos demais, atraindo investimento em renda fixa. O sinal amarelo deste cenário está no tripé econômico que sustenta esse comportamento, as políticas fiscal, monetária e cambial do país.  Ainda vivemos numa posição de dependência desse financiamento externo”, avalia Candiota, sócio do Grupo Lacan.

O economista questiona quanto mais será preciso esperar para que o país tome o “remédio amargo” que leve o Brasil a um novo patamar de maturidade econômica. “Quando veremos de fato o Brasil incrementar as políticas e reformas para termos juros mais baixos, uma dependência externa menor para financiar nosso crescimento, uma política fiscal que privilegie o investimento e o gasto produtivo? O Brasil está tentando construir essa trajetória sem tomar o remédio amargo do ajuste fiscal profundo e uma reforma ampla na eduação”.

Candiota se refere também ao aumento contínuo do nosso déficit em transações correntes, o que engloba a balança comercial, os serviços e as rendas, considerado um dos principais indicadores do setor externo brasileiro. “O Brasil já vivenciou durante vários momentos uma dependência da poupança externa. Nada que esteja mostrando uma preocupação maior agora, já que em relação ao PIB, o déficit atual continua baixo. Mas se continuarmos a  acumular números grandes, mesmo em termos nominais de entradas de dólares, podemos ter um susto lá na frente”, pondera o economista.

Se tivéssemos um ranking de “lições de vida” na condução da economia de um país, certamente estaríamos numa posição de liderança, ensinando hoje aos mais ricos e desenvolvidos a sair do embróglio atual. Mas as novas “lições” também chegam e podem levar o país a dar passos para trás em vez de fazer apenas uma parada de reconhecimento das mudanças. “O quadro atual só se altera com aumento da poupança interna. E até agora, pouco avanço está sendo feito. Não estou dizendo que é fácil, mas sem as reformas necessárias, nós teremos lições, não as mesmas que já tivemos, novas lições a aprender”, conclui Candiota.

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Fonte:
G1 (Globo)

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