Mantega prevê problemas da crise nos próximos dois anos

Publicado em 09/08/2011 18:00
Segundo o ministro da Fazenda, o processo de correção das economias dos Estados Unidos e Europa deve levar mais tempo. "O Brasil está preparado para lidar até com agravamento da crise. Não quer dizer que será sem ônus", disse Mantega
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta terça-feira que, independentemente do que vai ocorrer nos próximos dias, o mundo seguirá com problemas econômicos nos próximos dois anos. Segundo ele, o processo de correção em curso nas economias dos Estados Unidos e da Europa deve levar mais tempo.

Em audiência pública na Câmara dos Deputados, Mantega destacou que os EUA, com seu programa de afrouxamento monetário, inundaram o mundo com volume enorme de recursos financeiros. Segundo ele, essa estratégia não teve efeito de melhorar o mercado interno americano, impactando mais a situação do comércio externo. De acordo com Mantega, esse quadro alimenta a chamada guerra cambial e inunda o país de dólares, que vêm especular no mercado local. "O Brasil tem reagido contra a guerra cambial. Buscamos impedir que o real se valorize em demasia", disse o ministro.

Mantega afirmou que não sabe quais serão os desdobramentos da crise internacional em curso, mas indicou duas possibilidades. A primeira é a de um quadro crônico de crise, em que os problemas não são resolvidos. A segunda opção é uma agudização da crise, com impacto nos mercados de crédito e nos bancos. Segundo ele, na semana passada o quadro externo "degringolou" e, nos últimos dias, o cenário se tornou nebuloso. "O Brasil está preparado para lidar até com agravamento da crise. Não quer dizer que será sem ônus. Teremos ônus, sim, mas temos condições de sofrer menos que os outros", afirmou o ministro. 

Margem de manobra - O ministro afirmou que o governo tem "um raio de manobra" na política monetária para enfrentar a crise econômica mundial, o que os americanos não têm. Mantega previu que as políticas do governo dos EUA devem continuar jogando mais liquidez no mercado, o que deve trazer mais divisas para o Brasil, mantendo a desvalorização do dólar. "A economia dos EUA está com juro zero e já jogou dinheiro na economia, então não tem muito mais o que fazer", disse o ministro. Além da política monetária, Mantega destacou o aumento das reservas internacionais brasileiras, que estão cerca de 150 bilhões de dólares acima do nível de 2008, como um dos instrumentos para enfrentamento do atual estágio da crise. Além disso, lembrou que o Brasil tem a experiência acumulada de 2008.

O ministro disse que a economia do Brasil depende principalmente do mercado interno. Apenas 13% do Produto Interno Bruto (PIB) são compostos pelas exportações brasileiras, contra 40% na China. "Por isso, dependemos mais do mercado interno. O Brasil está preparado. Tem dinamismo que os outros países não têm, mas não quer dizer que não teria impacto no Brasil se houver deterioração do quadro", afirmou.

Mantega disse que o governo vai administrar o cenário internacional e, se for necessário, tem condições de tomar novas medidas. "E se preciso, pediremos ao Parlamento ajuda e faremos em conjunto", destacou o ministro.

Gastos - Mantega disse que, para o país atravessar essa fase de turbulência econômica, é recomendável manter a solidez fiscal e que os demais poderes contribuam, não fazendo propostas de aumento de gastos. "É importante que haja sintonia entre poderes da República, o que não ocorreu nos EUA", disse o ministro, para uma plateia de deputados federais.

Brasil Maior - Mantega reforçou que o governo tem a intenção de generalizar a desoneração da folha de pagamento das empresas para toda a economia. "Claro que não imediatamente; em fases, de acordo com as nossas possibilidades", declarou. Mantega apresentou na Câmara as linhas gerais do Plano Brasil Maior, lançado na semana passada para ajudar a indústria brasileira a enfrentar a concorrência internacional. Ele lembrou que a desoneração da folha começará por quatro setores intensivos em mão de obra. "O setor manufatureiro vem sofrendo no mundo todo e, com o aumento da concorrência dos importados, tomamos medidas para ajudar o nosso setor a agregar valor aos nossos produtos. O Brasil Maior visa dar condições para as empresas brasileiras estarem mais bem preparadas do que as estrangeiras que vêm aqui", explicou o ministro. "Temos um mercado interno forte."

Mantega disse que o governo quer, com a desoneração da folha de pagamentos, reduzir o custo das empresas, sem prejuízo para a Previdência Social. Segundo ele, a medida torna os setores mais competitivos. "Há setores que exportam tributo", disse. Mantega afirmou ainda que o governo vai analisar a repercussão do projeto-piloto iniciado com os quatro setores - móveis, calçados, têxteis e software - antes de ampliá-lo. "Nós esperamos, ao baratearmos a folha das empresas, combater a informalidade e estimular o emprego no Brasil, além de estarmos desonerando as exportações. É muito vantajoso para as empresas", afirmou o ministro. Ele destacou que o Tesouro vai cobrir eventuais perdas que a Previdência Social venha a ter com a desoneração da folha.

Plenário vazio – Apesar da crise financeira internacional estar no centro das atenções do mundo, a reunião da Comissão Geral na Câmara dos Deputados para discutir a crise e as medidas tomadas pelo governo para enfrentar o momento atual não mobilizou os parlamentares. O ministro Guido Mantega fez uma apresentação para um plenário quase esvaziado. Líderes e poucos deputados acompanham a reunião, que ainda terá uma apresentação do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, e de economistas convidados pela oposição.

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veja.com.br

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